Após o passeio que deu na articulação do Palácio do Planalto durante a votação do Fundeb, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ganhou novo fôlego na Câmara Federal. Até então, ele vinha recebendo avaliações de que, com o acordo do presidente em torno do centrão, tinha perdido poder no Parlamento à medida que vai se aproximando o fim de seu mandato à frente da Câmara
Ocorre, porém, que a votação do Fundeb deixou claro que o apoio do centrão tem um limite muito claro. Os deputados desse grupo numeroso topam segurar eventuais processos contra o presidente e não vão criar embaraços que possam levar à queda dele. Porém, não vão obedecer ao Palácio do Planalto quando a ordem for votar a qualquer custo pautas impopulares.
Por essa resistência no centrão, o governo não conseguiu levar adiante a sua proposta para o Fundeb. Por isso, teve que se ajoelhar e, no fim, busca, como saída honrosa, dizer que, na verdade, apoiou a transformação do fundo em algo permanente. Qualquer pessoa que tenha um básico conhecimento político sabe que isso não é verdade. E, por causa disso, bolsonaristas mais convictos ficaram vendidos na história. Para não mudar todo o discurso criado durante meses, votaram contra o Fundeb e, depois, sofrem pequenas retaliações do governo, que quer mostrar outra imagem em relação à questão.
Mas, independentemente do futuro dos deputados bolsonaristas, o certo é que Maia só tem a comemorar com o resultado da votação. Ainda fortemente impopular e sem tantas pretensões políticas no momento, ele voltou a ganhar importância nos bastidores. Mostrou que é ainda hoje o grande articulador na Casa e que, sem seu apoio, é difícil qualquer coisa passar. Com reforma tributária em discussão e com as promessas de uma reforma administrativa, além de diversas medidas provisórias importantes no caminho, é razoável imaginar que ele hoje terá papel tão ou mais preponderante que o presidente. O Maia primeiro-ministro, que alguns davam como morto, voltou a governar.
Isso tende a fazer também com que o governo reflita bastante antes de entrar de cabeça em qualquer candidatura à sucessão de Maia sem tentar um acordo com seu grupo. Afinal, sabe-se que é um grande perigo colocar o governo dentro da disputa pelo comando da Câmara para, depois, sair derrotado. A última pessoa a fazer isso foi Dilma Rousseff (PT), que enfrentou a candidatura de Eduardo Cunha e acabou, depois, vendo o deputado, eleito, comandar um processo de impeachment contra ela.