A expectativa da oposição de conseguir ampliar, pouco a pouco, os protestos por um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não se concretizou. Os atos do último sábado, embora representativos, foram menores do que os realizados anteriormente, demonstrando um certo cansaço da população e uma dificuldade de fazer emplacar o elemento “ruas” na equação que, por duas vezes, já derrubou presidentes da República no Brasil.

No sábado, milhares de pessoas participaram de cerca de 500 atos pelo Brasil. No geral, maiores do que as cada vez menos frequentes manifestações pró-governo. Porém, com público menor do que o registrado nas manifestações contra Bolsonaro feitas no início do mês. 

Há diversas explicações que podem ser dadas para esse refluxo. Algumas são circunstanciais, como o recesso parlamentar que diminuiu a pressão da CPI contra Bolsonaro, as férias de meio de ano, o clima de olimpíadas, com eventos de madrugada, e até a temperatura mais baixa em boa parte do país. Não há como não enxergar, porém, que a população brasileira está cansada. Desde 2013, o país alterna protestos de rua e anos eleitorais. As pessoas, agora, parecem estar preocupadas em resolver seus próprios problemas no dia a dia, protestando apenas nas redes sociais, que vivem um clima de campanha eleitoral permanente. A tendência é resolver tudo na urna.

Há outro problema na oposição a Bolsonaro que, claramente, prejudica o crescimento do movimento. A divisão entre direita e esquerda continua nítida. No ato de ontem, praticamente só  movimentos de esquerda, com algumas adesões episódicas ao centro, foram às ruas. A direita, representada pelo MBL e pelo Vem Pra Rua marcou sua manifestação para setembro. O episódio das agressões de membros do PCO a tucanos em São Paulo ampliou essa divisão e dificulta a unificação. Com a direita também dividida entre Bolsonaro e opositores, é difícil imaginar que os atos de setembro vão também registrar participação expressiva. Mais provável é que sejam um fiasco.

Com as ruas mais quietas e com o centrão ocupando mais espaço no governo, a possibilidade um impeachment fica cada vez mais remota. Ainda que a popularidade do presidente permaneça em patamares baixos, a proximidade cada vez maior da eleição vai ampliando a intenção em evitar todo o trauma da mudança de governo. Inclusive, foi essa a escolha que o governo decidiu fazer com o convite a Ciro Nogueira para que ele ocupe a Casa Civil. Trocou o risco de impeachment por um desgaste que pode afetar Bolsonaro lá na frente, na eleição. O presidente ganhou tempo para não ficar pelo caminho. Espera que, até outubro de 2022, tenha deixado de lado boa parte do desgaste pela gestão desastrosa da pandemia e conte com uma recuperação econômica que, cedo ou tarde, virá. Considerando a diminuição da pressão com o recesso da CPI, é uma aposta razoável. É preciso ver se, de casa, o eleitor vai continuar torcendo o nariz para o governo mesmo com uma pequena melhora no cenário. Hoje, Bolsonaro corre risco de cristalizar sua avaliação negativa, ainda que a maior parte da população não tenha mais disposição de tirá-lo do cargo antes da hora. Na urna, claro, é diferente.