Política em Análise

PSOL toma espaço do PT no Sudeste

Início da corrida eleitoral mostra que partido de Lula começa a perder a hegemonia na esquerda nas principais capitais da região

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 20 de julho de 2020 | 09:47
 
 
 
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Um olhar sobre o início do debate eleitoral nas principais capitais do Sudeste deixa clara uma mudança no espectro da esquerda. Com dificuldades para conseguir nomes viáveis, o PT vai iniciar a corrida pelas prefeituras de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte atrás do PSOL que, aos poucos, quebra a hegemonia do maior partido de oposição no país.

O cenário de São Paulo é muito representativo. Por lá, pesquisa do instituto Ideia Big Data divulgada na última semana mostra Guilherme Boulos (PSOL) em terceiro lugar na disputa, com 11%. Boulos venceu no fim de semana a batalha interna com a deputada federal Sâmia Bomfim e o deputado estadual Carlos Giannazi e foi escolhido como candidato da legenda. Confirmado na disputa, ele  fica hoje atrás apenas de Bruno Covas (PSDB), que tem 30%, e Márcio França (PSB), que registra 16%. Enquanto isso, o nome do PT, Jilmar Tatto, aparece citado por apenas 1% dos eleitores. 

Em Belo Horizonte, o cenário também parece melhor para o PSOL do que para o PT, o que tem gerado incômodos na legenda do ex-presidente Lula, inclusive pela forma com que o nome de Nilmário Miranda foi escolhido. Ex-deputado, ex-ministro e já testado em diversas eleições no passado, ele parece iniciar a corrida eleitoral bem mais fraco do que a deputada federal Áurea Carolina, candidata do PSOL. Tanto que, embora improvável, uma frente ampla passou a ser discutida não em torno do nome petista, o que seria natural até pouco tempo, mas em torno do nome da psolista. Ainda que não vingue, só essa mudança no foco do debate já demonstra a força do nome do PSOL diante do quadro do PT.

No Rio, essa prevalência do PSOL não é novidade nenhuma. Já é assim há alguns anos. Em torno de Marcelo Freixo, a legenda tem se destacado no campo da esquerda nas disputas majoritárias por lá. A vantagem é tanta que, mesmo após Freixo desistir da disputa deste ano, não é nenhum absurdo imaginar que sua candidata, a deputada estadual Renata Souza, possa terminar a disputa na frente de Benedita da Silva, ex-ministra e ex-governadora do Estado.

Esse crescimento do PSOL não significa que a sigla vai conseguir tomar o controle da esquerda no país e nem que vai ter êxito nas disputas locais. O mais provável é que os nomes do PSOL sejam derrotados ainda no primeiro turno em todas essas disputas. E, com a força que o PT ainda possui no Nordeste, sua capilaridade no interior e presença em movimentos sociais pelo país, esse processo tende a ser demorado. Além do mais, mesmo as disputas municipais devem ser modificadas com o início da propaganda partidária na qual o PT tem muito mais espaço e dinheiro para investir. Ainda assim, é bem razoável imaginar que uma lenta alteração do eixo de poder na esquerda continua a todo vapor. 

Há inúmeras explicações para isso. Os casos de corrupção que atingiram o PT fortemente nos últimos anos ajudam a entender esse processo, mas a relutância do grupo de Lula e Gleisi Hoffmann de permitir que novas lideranças consigam ganhar fôlego na sigla está por trás da incapacidade do partido de se renovar. Sem prévias, com a militância esvaziada e batendo nas mesmas teclas das disputas do passado, o PT tende a diminuir, abrindo espaço para que outras legendas da esquerda saiam de sua sombra.

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