Política em Análise

Sem controle e sem reação

Tragédia das manchas de óleo no Nordeste mostram que país não monitora mar como deveria

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 19 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O trágico acidente ambiental que está tingindo de petróleo as mais belas praias do Nordeste brasileiro demonstra o quão vulnerável está o país às ameaças externas e o quanto o aparato estatal brasileiro é lento para agir em situações graves e que colocam em risco a segurança nacional.

Não estamos falando de um problema menor, mas do maior vazamento de óleo da história do país, com mais de 200 toneladas do produto retirada do mar, 187 localidades atingidas, sendo 12 unidades de conservação em nove Estados e em uma área de mais de 2.000 km. 

Como é que um crime dessa monta demorou tanto tempo para ser descoberto e tem uma conclusão tão difícil? Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) calculam que o fato se deu a cerca de 600 km a 700 km da costa na data aproximada de 14 de junho, ou seja, há mais de quatro meses. As primeiras manchas de óleo apareceram nas praias em 30 de agosto. Estamos em 19 de outubro, e, de lá para cá, o país viu algumas de suas regiões com maior potencial turístico, como Maragogi e praia dos Carneiros, serem tragadas por essa tragédia ambiental de graves consequências econômicas.

É evidente que o país falha no monitoramento da atividade no mar próximo à costa brasileira. Significa dizer que contrabando de tudo quanto é tipo de produto, pirataria ou mesmo ameaças à segurança do país podem estar bem perto de nós sem que consigamos monitorar. Se não percebemos 200 toneladas de óleo vazando no Nordeste, por qual motivo podemos achar que estamos seguros de pilhagens, agressões externas ou terrorismo, por exemplo?

O Brasil está se tornando um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Temos, há anos, uma das companhias mais bem-sucedidas na retirada de petróleo de pontos profundos no mar. Como é que não somos especialistas em controle de óleo no oceano? Como é que não temos um sistema eficiente de monitoramento? Como é que vamos controlar a extração de petróleo do pré-sal, que será feita em larga escala por empresas do mundo inteiro a partir do leilão dos campos? Como é que vamos proteger esse patrimônio se demoramos quatro meses para perceber que tem uma imensa mancha de óleo no mar e, dois meses depois de chegarem as primeiros vestígios à praia, as únicas medidas concretas para acabar com o problema são limpar a areia e tentar, sem sucesso, descobrir de onde veio isso tudo?

É bom dizer que, no que avançamos até agora, muito se deu graças às universidades brasileiras envolvidas no processo, em parceria com a Marinha e a Petrobras. Isso demonstra de maneira clara o quanto a pesquisa é importante e o quanto é triste que o país a cada dia invista menos nisso.

Quando os culpados aparecerem, se isso acontecer, seja ele um navio venezuelano, ligado ou não à ditadura daquele país, à Shell ou a qualquer outra grande companhia petrolífera, o debate não pode ser apenas focado em uma punição exemplar. É importante que o país reconheça que, sem controle eficaz, tem uma soberania relativa sobre seu território.

 

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