A cena, que circulou nas redes sociais e nos principais sites de notícia é chocante. Para liberar o trânsito interditado por moradores, um policial militar pega tudo o que vê pela frente e joga no Ribeirão Arrudas. Porta, mesa, cadeira, pedaços de madeira. Se eu não tivesse visto o vídeo nem teria acreditado. Para alguns pode parecer um mero ato de despreparo, mas temos que encará-lo como a síntese do Estado brasileiro.
Órgãos públicos no Brasil atuam de forma estanque, cada um fazendo sua função sem qualquer coordenação ou preocupação sistêmica. Para o policial do vídeo, só importava liberar o trânsito, função que lhe deram. Não importa se, para isso, agrava ainda mais o problema, jogando entulho no leito do ribeirão, justamente a principal causa das inundações que assolam as grandes cidades brasileiras.
Isso ajuda a explicar, por exemplo, por qual motivo a segurança pública no Brasil é sempre dissociada dos programas sociais, da assistência, a chegada dos serviços mais básicos quando uma comunidade sofre intervenção, por exemplo. O Estado desconhece a necessidade de coordenação. Quer resolver problemas de forma truculenta e sem qualquer preocupação com suas consequências. Não há planejamento. Há apenas ação direta e intempestiva.
Denota que estamos bem longe dos conceitos de cidadania. Bem longe de uma educação ambiental efetiva. Esse sim um tema que deveria ser discutido no setor, e não as bobagens ideológicas sobre escola sem partido e assemelhados.
Vivemos em um país absolutamente atrasado. A ponto de um servidor público praticar um crime ambiental, causar um problema muito maior para resolver uma mera obstrução de trânsito. Ignorância extrema. Retrato assustador.