Eleições 2024

‘Tudo que é pra todo mundo, no marketing político não serve’, diz marqueteiro

Profissionais se dividem sobre o uso das IAs nas campanhas eleitorais. Quem defende o uso, aponta a coleta de dados para entender tendências. Os contrários, defendem a experiência política

Por Clarisse Souza
Publicado em 05 de fevereiro de 2024 | 06:00
 
 
 
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O uso da inteligência artificial (IA) como peça-chave na elaboração de campanhas eleitorais está longe de ser unanimidade entre profissionais do marketing político. Enquanto uma corrente de especialistas considera inimaginável pensar o futuro das corridas eleitorais sem estratégias ancoradas no aprendizado de máquina (machine learning) para minerar dados de eleitores e extrair ideias que podem, em tese, mudar os rumos de uma eleição, há outra que considera a inteligência artificial como ferramenta dispensável para garantir campanhas exitosas. 

Com 40 anos de carreira e responsável por campanhas vitoriosas de políticos como Aécio Neves (Senado, em 2010), Alexandre Kalil (Prefeitura de BH, em 2016) e Cláudio Castro (governo do Rio de Janeiro, em 2022), o marqueteiro Paulo Vasconcelos integra o grupo de profissionais que prefere apostar na experiência. “Tudo que é pra todo mundo, no marketing político não serve”, avalia o profissional ao se referir à popularização da IA entre as agências de publicidade que atendem políticos. 

O especialista defende que o mais importante em uma campanha eleitoral é “adequar o discurso, a fala e a estética à verdade do candidato”. Para Vasconcelos, ainda que programas de IA já sejam capazes de raciocinar e interpretar dados sobre a preferência dos eleitores a partir de históricos de navegação na web, nada substitui a experiência humana. “Se a internet está disponível para todo mundo, onde vou fazer diferença? Na inteligência, que não é artificial”, defende o marqueteiro. 

Vasconcelos admite que a inteligência artificial entrega aos marqueteiros informações mais detalhadas do que os levantamentos de institutos de pesquisa, que são feitos por amostragem. Apesar disso, o especialista defende que, no final, o que define o bom resultado em uma campanha ainda é a percepção  do profissional por trás das estratégias de marketing. “A IA pode me ajudar em pesquisas. Mas até agora eu não enxerguei ela me acrescentar muito. Eu preciso da experiência, do faro fino, da sensibilidade para interpretar os dados e entregar (ao eleitor) a informação sutil”, considera Vasconcelos. 

Por outro lado, o marqueteiro Antonio Carlos Paes Barbosa defende que instrumentos de aprendizado de máquina (machine learning), aprendizagem profunda (deep learning) e big data (processamento de grande volume de dados) se tornaram fundamentais para subsidiar o trabalho das equipes de campanhas. “Usamos essas tecnologias em uma ferramenta própria que faz a análise de sentimentos a partir do processamento de linguagem natural. São algoritmos para fazermos análise das redes, notícias, canais online. Tudo para ter uma percepção pública sobre o candidato. Todos esses aprendizados a máquina vêm através de algoritmos e isso nos ajuda muito”, explica Barbosa.

O publicitário Acácio Veras também vê o uso da IA como caminho natural do marketing político. “Ela é capaz de prever jornadas, entender comportamentos e tendências. Esse é um fato sobre o qual a gente não tem como lutar contra. Mas sou um otimista e acredito que ela vai potencializar as capacidades humanas. Porém nadar contra essa correnteza é muito complexo”, avalia. 

 

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