Citada em postagens como uma das responsáveis pelo fechamento do comércio em Divinópolis, a vereadora Lohanna França (Cidadania) - a mais votada da cidade nas eleições de 2020- registrou nesta segunda-feira (19) queixa crime na Delegacia de Proteção à Família em  Divinópolis depois de ter recebido ameaças e ataques nas redes sociais de pessoas críticas às medidas restritivas para conter a pandemia de Covid-19. 

Em seu twitter, neste fim de semana, a parlamentar explicou o caso. Segundo ela, circula nas redes sociais uma imagem que a coloca como uma das responsáveis pelo decreto que fechou o comércio na cidade. A postagem diz:  “Se ficou desempregado procure um deles” e traz as fotos e os telefones da parlamentar, do presidente do Conselho Regional de Saúde, Warlon Carlos e da ex-candidata a prefeita, Laís Souza. Os autores dos ataques atribuem aos três as denúncias que levaram o Ministério Público a determinar que a Prefeitura de Divinópolis cumprisse a Onda Roxa decretada pelo governo do Estado. 

De acordo com a legislação, o Ministério Público deve agir como garantidor da aplicação da lei, no caso o decreto estadual. Por isso, não se pode atribuir a responsabilidade da liminar a terceiros que não possuem competência para tal. Segundo a liminar, a ação foi ajuizada pela Advocacia Geral do Estado. 

Procurada pela coluna Aparte, a parlamentar explica que já vem sofrendo ataques e ameaças desde quando participou de uma carreata contra o presidente Bolsonaro, no começo do ano. Segundo ela, dessa vez, os ataques foram mais preocupantes e ela inclusive recebeu apoio da Polícia Militar.

“Eu fiquei muito assustada com o nível das mensagens que tenho recebido. Como meu número foi divulgado nesta montagem, eu recebo constantemente mensagens odiosas com xingamentos, ameaças. A PM interceptou ameaças contra mim.  Nas mensagens dizem que eu preciso tomar cuidado, que serei linchada, que minha batata está assando. O que mais me preocupou foi uma mensagem que dizia que alguém precisava me parar. Me parar como?”, relatou a vereadora, que acredita ter partido de alguns candidatos a vereador derrotados em 2020 a montagem e o teor dos ataques.  

Lohanna garante que não denunciou a prefeitura ao Ministério Público e conta que estão usando falas dela de março em que ela cobrava da prefeitura o fechamento do comércio naquele contexto, em que a cidade passava por esgotamento de leitos.

“Naquele momento a cidade estava com 300% de ocupação da UPA e naquele momento eu considerei que foi acertado e se a gente chegar nesse percentual de novo eu vou me posicionar do mesmo jeito. Aí pegaram o vídeo daquela época e estão falando que eu mandei o governador fechar Divinópolis. Devem achar que vereador é muito poderoso né?”, comentou a parlamentar, mas ressalva: “Divinópolis ainda está em índice de onda roxa, nossos índices são altos, o prefeito flexibilizou com uma autoridade que ele não possui e quem entrou na justiça, foi a Advocacia Geral do Estado”, explicou.

Ataques

A coluna teve acesso a alguns prints dos ataques recebidos por ela. Em uma delas o agressor se intitula eleitor de Bolsonaro e  chama a vereadora de “comunista”, de  “anta na câmara municipal” e ainda faz comentário ofensivo sobre a aparência da vereadora. Em outra, o autor afirma que a parlamentar “torce contra o país” e que a “batata dela está assando''.

Nas redes sociais, Lohanna também recebeu ataques. “Essa vereadora é medíocre. Está acabando com o comércio da cidade. Comunista Safada”, comentou uma internauta. De outro lado, a vereadora mais votada da cidade, com mais de 5 mil votos, celebra o apoio que recebeu de boa parte dos seus colegas na Câmara e de alguns eleitores. “Seu trabalho é exemplo para todos nós. As pessoas que te atacam o fazem porque são pequenas demais para lidar com sua grandeza. Muita força!”, disse um eleitor em uma rede social.

Além das agressões e das ameaças, neste fim de semana, passou a circular nas redes sociais uma petição online pelo impeachment da vereadora. No entanto, a legislação não prevê impeachment de vereadores, apenas a cassação de mandato caso o parlamentar cometa algum crime. 

“Eu não cometi nenhum crime. Isso é algo que já nasceu morto. É só para criar confusão mesmo”, pontua, mas chama a atenção para a imagem escolhida para ilustrar a petição: “É uma imagem que tem um X na minha boca. Isso é simbólico também. A própria delegada da Mulher aqui falou que esse x representa violência política de gênero. Como assim precisam me silenciar?”, destacou Lohanna. 

Por nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que após ser acionada pela vereadora instaurou inquérito para investigar o crime de Stalking, previsto no art. 147-A e a parlamentar já foi ouvida pela investigação. 

A Câmara Municipal de Divinópolis publicou em seu site nota de apoio à Lohanna e esclarecendo o não envolvimento da parlamentar nas denúncias que levaram o MP a decretar o cumprimento da onda Roxa. “A Câmara Municipal, por meio de sua Mesa Diretora, esclarece que não houve, em momento algum, nenhuma movimentação de qualquer vereador para que o comércio da cidade fosse prejudicado. A vereadora em questão não apresentou nenhuma denúncia ao Ministério Público, assim como nenhum outro edil da Casa Legislativa”, disse a nota. 

A Prefeitura de Divinópolis também se posicionou sobre o caso por meio de nota. No texto, o Executivo da cidade esclarece que a liminar que suspende o decreto municipal que flexibilizava a Onda Roxa partiu de uma ação impetrada pelo Estado de Minas Gerais. A prefeitura, ainda em nota, rechaça os ataques sofridos pela vereadora, pelo presidente do Conselho de Saúde, Warlon Carlos e pela ex-candidata Laís Soares. “É importante ressaltar que as manifestações que ferem o princípio da legalidade e a democracia não estão de acordo com os ideais da atual gestão”