A artista mineira, Sônia Lúcia Braga, 66, que enfrenta o desafio do câncer de mama, encontrou nos cuidados paliativos uma forma de recuperar sua qualidade de vida. Apesar das limitações físicas impostas pela doença, diagnosticada em 2019, transformou a arte em sua principal fonte de força e expressão. No dia a dia, dedica-se à criação de quadros únicos, que mesclam fotografias e colagens com folhas de árvores e outros elementos naturais que encontra pelo caminho por onde passa. Suas obras refletem não apenas sua sensibilidade artística, mas também sua resiliência e a capacidade de ver beleza nos pequenos detalhes da vida, mesmo em momentos de adversidade.
No Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, comemorado no segundo sábado de outubro, no dia 12 neste ano, Sônia serve como exemplo de como o cuidado integral e humanizado é importante para pacientes que enfrentam doenças graves e incuráveis. Apesar do tratamento intenso e das sessões de quimioterapia, feitas de três em três semanas e por prazo indeterminado, a artista se sente muito bem.
“Ouvi a médica dizendo que o termo paliativo vem do latim Pallium, que significa manto usado pelos peregrinos em suas viagens aos santuários para proteção ao lidar com adversidades. E é assim que eu me sinto, acolhida e protegida e mais disposta. Sou muito amparada e sigo minha vida com alegria e mais leveza. Os cuidados paliativos propiciam firmeza, otimismo e vontade de viver. Sinto-me livre, sem apego às regras”, ressalta.
A principal missão dos cuidados paliativos é proporcionar qualidade de vida, aliviando o sofrimento físico, emocional, social e espiritual de pacientes e suas famílias, bem como promover apoio psicológico. No Brasil, cerca de 625 mil pessoas precisam de cuidados paliativos, segundo o Ministério da Saúde.
De acordo com o oncologista e médico paliativista da Versania, Munir Murad, ao contrário do que muitos imaginam, os cuidados paliativos não são apenas para os momentos finais de vida, mas podem ser oferecidos em diferentes estágios da doença, paralelamente a outros tratamentos, como forma de melhorar o bem-estar do paciente.
Desafios
Segundo Murad, os cuidados paliativos ainda são pouco compreendidos e enfrentam barreiras significativas no Brasil, em grande parte devido ao tabu cultural que envolve o fim da vida. “Muitas pessoas associam erroneamente os cuidados paliativos à ideia de desistência do tratamento ou ao último recurso antes da morte iminente, o que não reflete a realidade dessa abordagem”, ressalta.
Para o médico, esse tipo de cuidado não tem como objetivo acelerar ou adiar o fim da vida, mas sim garantir a melhor qualidade de vida possível para pacientes com doenças graves, controlando sintomas como dor, falta de ar, ansiedade, entre outros. “Infelizmente, o desconhecimento e a falta de informações claras fazem com que muitas famílias resistam a sua adoção, acreditando que isso signifique ‘abandonar’ o tratamento curativo”, alerta. Acrescenta que quando o paciente começa a ter cuidados paliativos, de forma precoce, além de viver mais vive melhor, conforme estudos.
Na unidade da Versania em BH, especializada em reabilitação e cuidados paliativos - onde inclusive a artista Sônia Lúcia Braga expôs sua mostra de fotografia ‘Composições com afeto’ -, a linha de cuidado paliativo traz uma abordagem multidisciplinar e integrada de cuidados médicos, psicossociais e espirituais com foco na qualidade de vida do paciente mesmo diante de doenças graves, avançadas ou incuráveis.
“Os pacientes que estejam passando por hospitalizações frequentes também podem ser beneficiados por meio da assistência paliativa que ajuda na coordenação dos planos de cuidados e auxilia a lidar com os impactos físicos e emocionais durante o processo”, ressalta o médico.