O ex-presidente Jair Bolsonaro passou quase 12 horas na mesa de cirurgia no último domingo (13/04). O procedimento — pelo menos o quinto desde que ele levou uma facada na barriga na campanha presidencial de 2018 — foi dificultado por uma condição que os médicos chamam de “abdômen hostil”.

O termo foi utilizado pelo chefe da equipe médica responsável pela cirurgia, Cláudio Birolini. “O presidente tinha um abdômen hostil, com muitas cirurgias prévias, aderências causando um quadro de obstrução intestinal. Uma parede abdominal bastante danificada em função da facada e das cirurgias prévias”, disse o especialista, em comunicado público.

O abdômen é considerado hostil quando apresenta alguma alteração anatômica, como cicatrizes e inflamações, que tornam cirurgias mais difíceis e arriscadas. “É um termo genérico. Ele descreve situações em que o abdômen passa por alterações anatômicas, sejam congênitas, desde o nascimento, ou de quem passou por diversas cirurgias, como é o caso do ex-presidente, ou também de que tem quadros inflamatórios crônicos”, descreve a gastroenterologista e docente do UniBH Danielle Martins.

Cirurgias anteriores na região podem agravar o quadro, como é o caso de Bolsonaro, pois cada intervenção gera um trauma novo no organismo. “Cada cirurgia feita no paciente com abdômen hostil tem um risco maior do que a anterior”, prossegue a média. 

Em alguns casos, as intervenções acentuam a aderência do intestino, isto é, ele se “cola” em si mesmo ou em outros órgãos, o que dificulta o acesso à cavidade abdominal durante uma cirurgia. O médico Cláudio Birolini detalha que os médicos levaram cerca de duas horas só para conseguir acessar a cavidade de Bolsonaro.

A cirurgia do ex-presidente foi justamente para tratar a aderência no intestino, que causou uma suboclusão intestinal, uma obstrução parcial do órgão que dificulta o trânsito de alimentos. Este foi o procedimento mais complexo pelo qual Bolsonaro passou desde 2018.

Após a intervenção, Bolsonaro permanece internado na UTI, mas seu quadro é estável. É habitual que pacientes que passem por um procedimento dessa escala permaneçam em observação intensiva, pois sequer podem se alimentar por via oral nos primeiros dias de recuperação.