Duas pessoas morreram no sul da Itália e dezenas estão internadas após comerem um sanduíche de brócolis contaminado pela bactéria que provoca o botulismo. A contaminação é grave e pode ser fatal em poucas horas.
Entenda a doença:
O botulismo é uma doença neuroparalítica grave causada pela toxina da bactéria Clostridium botulinum, que pode ser fatal devido à paralisia da musculatura respiratória. A contaminação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos inadequadamente conservados ou através de ferimentos. No Brasil, por exemplo, a maioria dos casos notificados está relacionada à contaminação alimentar.
A toxina botulínica provoca envenenamento grave em poucas horas, mesmo quando ingerida em quantidades mínimas. De acordo com informações do Ministério da Saúde, os esporos da bactéria são encontrados amplamente na natureza, como em solos, sedimentos de lagos e mares, podendo sobreviver em ambientes com pouco oxigênio, como alimentos em conserva ou enlatados.
A contaminação acontece porque os esporos estão presentes em diversos ambientes naturais. Além de solos e sedimentos aquáticos, podem ser encontrados em água não tratada, produtos agrícolas como legumes e vegetais, mel, e também nos intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos.
Botulismo alimentar
O botulismo alimentar, tipo que fez vítimas na Itália, ocorre quando há ingestão de toxinas presentes em alimentos contaminados produzidos ou conservados inadequadamente. Entre os alimentos mais frequentemente associados estão conservas vegetais artesanais (palmito, picles, pequi), produtos cárneos processados artesanalmente (salsicha, presunto, "carne de lata"), pescados defumados, salgados ou fermentados, além de queijos e pastas de queijos.
Na forma alimentar, os sintomas podem aparecer entre algumas horas até dez dias após o consumo, com média entre 12 e 36 horas, dependendo da concentração da toxina ingerida.
Outros tipos de botulismo
A doença afeta diferentes grupos populacionais. O botulismo infantil ocorre mais frequentemente em crianças com idade entre 3 e 26 semanas, tendo como uma das principais causas o consumo de mel nas primeiras semanas de vida. Casos têm sido notificados em diversos continentes, incluindo Ásia, Aus, Europa, América do Norte e América do Sul, embora a incidência real seja imprecisa devido à baixa suspeição por parte dos profissionais de saúde.
Crianças menores de dois anos são particularmente vulneráveis ao consumo de mel, pois ainda estão desenvolvendo sua microbiota intestinal, o que as torna mais suscetíveis a quadros graves da doença. Aproximadamente um em cada vinte casos de morte súbita em lactentes pode estar relacionado ao botulismo infantil.
No botulismo intestinal, os esporos contidos em alimentos contaminados se fixam e multiplicam no intestino, onde ocorre a produção e absorção da toxina. Em adultos, fatores de risco incluem cirurgias intestinais, doença de Crohn e uso prolongado de antibióticos, que podem alterar a microbiota intestinal.
Entre as formas mais raras está o botulismo por ferimentos, causado pela contaminação com C. botulinum em lesões. As principais portas de entrada para os esporos incluem úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos profundos mal vascularizados, lesões por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em usuários de drogas inalatórias.
No botulismo por ferimentos, os primeiros sinais surgem em média após uma semana, podendo variar de 4 a 21 dias após a contaminação.
Sintomas
Os principais sintomas do botulismo incluem:
- Ausência ou diminuição dos reflexos
- Perda da função muscular
- Ausência do reflexo faríngeo
- Intestino paralisado
- Pálpebra caída
- Comprometimento da fala
- Retenção urinária
- Dificuldade respiratória
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico começa com exame físico realizado pelo médico, que pode solicitar avaliações neurológicas, exames de imagem e laboratoriais. Exames de sangue e fezes podem identificar a toxina, além de análises em alimentos suspeitos.
O tratamento do botulismo deve ser iniciado imediatamente após a suspeita clínica, sendo fundamental procurar ajuda médica ao primeiro sinal de sintomas. A dificuldade respiratória representa uma das complicações mais graves.
O tratamento deve ser realizado em hospitais com unidade de terapia intensiva (UTI), dividindo-se em medidas de suporte e tratamento específico. As medidas de suporte incluem monitorização cardiorrespiratória contínua. O tratamento específico visa eliminar a toxina circulante através do Soro Antibotulínico (SAB) e antibióticos. O SAB é fornecido exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde mediante notificação do caso suspeito. As amostras para exames diagnósticos devem ser coletadas antes do início do tratamento com o soro.
Prevenção
As principais formas de prevenção do botulismo são:
- Não consumir conservas em latas estufadas, vidros embaçados ou embalagens danificadas
- Manter higiene adequada das mãos
- Ter cuidados especiais no preparo de conservas caseiras
- Não oferecer mel a crianças menores de 2 anos, conforme alerta o Guia alimentar para crianças brasileiras
- Aquecer os alimentos acima de 80°C por pelo menos 10 minutos para eliminar as toxinas botulínicas
- Especialistas recomendam atenção especial a alimentos em conserva, especialmente a "carne de lata", e orientam que qualquer suspeita de contaminação seja imediatamente reportada às autoridades sanitárias. Os casos suspeitos devem ser notificados em até 24 horas para prevenir novos casos.