Com a chegada do inverno, as doenças respiratórias se tornam mais comuns e os sintomas como espirros, nariz entupido e cansaço parecem aparecer com mais frequência. Mas, afinal, o frio tem mesmo culpa nisso?
Apesar da sensação de que o inverno “derruba” o corpo, a imunidade não depende apenas da temperatura. O sistema imunológico é influenciado por uma série de fatores, e é justamente o estilo de vida e as condições ambientais durante a estação que deixam o organismo mais vulnerável — e não o frio em si.
O frio enfraquece o sistema imunológico?
Não diretamente. O frio, por si só, não tem o poder de enfraquecer o sistema imune. Segundo o médico Eduardo Cunha de Souza Lima, preceptor da residência de clínica médica na Rede Mater Dei de Saúde e pós-graduando em alergia e imunologia, o que acontece é que o ar frio e seco pode prejudicar as barreiras naturais de defesa do corpo, como a mucosa nasal, responsável por filtrar e bloquear a entrada de vírus e bactérias nas vias respiratórias.
“O ar seco do inverno compromete a integridade da mucosa nasal, reduzindo a eficácia da defesa local e facilitando infecções respiratórias”, explica o mestre em medicina tropical pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O médico infectologista Adelino Melo Freire Junior, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), reforça que o maior problema não é o frio em si, mas os comportamentos associados à estação. “A tendência de permanecer em locais fechados e mal ventilados durante o inverno aumenta o risco de transmissão de vírus respiratórios”, aponta.
Além disso, a menor exposição solar reduz a produção de vitamina D, essencial para o funcionamento do sistema imunológico.
Por que as pessoas adoecem mais no inverno?
A principal razão está no comportamento coletivo: aglomerações em ambientes fechados e mal ventilados, ressecamento das mucosas respiratórias e maior circulação de vírus sazonais.
“Não é que as pessoas fiquem com a imunidade baixa no frio. O que ocorre é a combinação de fatores ambientais e comportamentais que aumentam o risco de contágio, como o contato próximo e a piora da barreira mucosa”, explica o médico Souza Lima.
O doutor Eduardo Cunha ainda aponta os principais fatores que podem comprometer a imunidade no cotidiano. São elas: má alimentação, deficiência de micronutrientes, obesidade, privação de sono, estresse crônico, exposição à poluição e doenças crônicas.
O infectologista Adelino Melo também destaca que o tempo seco favorece crises alérgicas que fragilizam as vias respiratórias e aumentam a predisposição a infecções. “Alergias respiratórias são mais frequentes no inverno e podem comprometer as defesas do trato respiratório”, afirma.
Doenças respiratórias mais comuns no frio
- Asma;
- Sinusite;
- Rinovírus;
- Gripe (influenza);
- Resfriado comum;
- Vírus sincicial respiratório (VSR);
- Covid-19, que continua circulando mesmo com a vacinação em massa.
Segundo o médico infectologista, casos de coinfecção (como gripe e Covid-19 ao mesmo tempo), também ocorrem e requerem atenção. "O principal cuidado deve ser com infecções bacterianas secundárias, como pneumonia ou sinusite, que podem surgir após uma infecção viral”, alerta
Ainda conforme o presidente da SMI, o número de internações tende a aumentar na estação. “O total de infecções respiratórias cresce, e com isso, os casos graves e hospitalizações também aumentam, principalmente entre idosos, crianças e pessoas com comorbidades.”
Como evitar as infecções virais
Segundo o Ministério da Saúde (MS), algumas medidas de prevenção incluem os princípios básicos da saúde pública:
- Evitar o tabagismo;
- Higienização das mãos;
- Aumentar a ingestão de líquidos;
- Praticar atividade física regularmente;
- Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar;
- Manter uma alimentação balanceada e saudável;
- Evitar aglomerações em locais fechados e sem ventilação.
O médico Souza Lima reforça que a prevenção começa com os hábitos diários. “Boa alimentação, sono adequado, atividade física regular e exposição solar ajudam a fortalecer o sistema imune. Também é essencial manter o cartão vacinal atualizado, principalmente para os grupos de risco”, afirma o doutor, que também é professor da PUC Minas e da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG).
O infectologista Adelino Melo acrescenta que a vacinação é uma das medidas mais importantes para evitar formas graves de infecção. “Ela reduz complicações e óbitos, especialmente entre grupos vulneráveis. Isso vale para gripe, Covid-19, pneumonia pneumocócica e VSR.”
Vitamina D e a regulação da imunidade
A vitamina D tem papel fundamental na modulação da resposta imunológica. Ela desempenha um papel fundamental em diferentes mecanismos de defesa do organismo, ajudando a equilibrar a resposta inflamatória e a produção de substâncias antimicrobianas no sistema respiratório.
“A deficiência de vitamina D pode aumentar a suscetibilidade a infecções respiratórias. Em pessoas com baixos níveis, a suplementação pode ajudar a reduzir a frequência dessas infecções. Mas é importante lembrar que o excesso de vitamina D também pode causar problemas sérios, como alterações nos rins e no sistema gastrointestinal”, alerta o médico Eduardo Cunha.
A exposição ao sol por pelo menos 15 minutos ao dia já ajuda na produção natural da vitamina pelo organismo.
Sinais de uma imunidade baixa
O doutor Eduardo Cunha explica que os sinais práticos “incluem infecções de repetição como pneumonias, otites recorrentes, estomatites, abscessos, diarreia crônica ou infecções que evoluem para maior gravidade. Esses sintomas indicam que o organismo pode estar com a imunidade comprometida e merecem avaliação médica”, orienta.
Mito ou verdade
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Pegar friagem causa gripe?
Mito. “A gripe é causada pelo vírus influenza. O frio pode facilitar o contágio por aumentar a permanência em ambientes fechados e com pouca ventilação, mas não é a causa direta da infecção”, explica o médico Souza de Lima.
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O frio enfraquece o sistema imune?
Mito. O sistema imune não é diretamente afetado pelo frio, mas sim pelas mudanças comportamentais e ambientais que ele traz.
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Vitamina C previne resfriado?
Mito. “O uso regular de vitamina C não previne o resfriado comum na população geral. Estudos recentes não indicam de forma rotineira a suplementação profilática de vitamina C para prevenção de resfriados. A vitamina pode ser obtida por meio de frutas cítricas, principalmente, e vegetais frescos”, aponta o doutor Eduardo Cunha.
Dicas de como fortalecer a imunidade no frio
- Gerenciamento do estresse;
- Dormir de 7 a 9 horas por noite;
- Manter o cartão vacinal completo e atualizado;
- Praticar atividades físicas regularmente;
- Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool;
- Exposição solar moderada para manutenção dos níveis de vitamina D;
- Manter uma alimentação balanceada e rica em frutas, vegetais, proteínas magras e micronutrientes;
- Aumentar a ingestão de líquidos — inclua chás, sucos naturais e vitaminas para variar na hidratação do corpo.
“Nosso sistema imune é impactado por vários fatores externos. Pequenas mudanças de hábito fazem uma grande diferença na resistência a infecções e não apenas no inverno”, reforça o médico Eduardo de Souza Lima.
* Estagiário sob supervisão de Renata Evangelista