Dados do Ministério da Saúde revelam que o número de internações de pessoas com menos de 40 anos, vítimas de infarto agudo do miocárdio, passou de menos de dois casos a cada 100 mil habitantes, no ano 2000, para quase cinco, em 2024, o que equivale a um aumento de 150% nas incidências. 

Para o médico e professor do curso de medicina do Centro Universitário UniBH, integrante do Ecossistema Ânima, Miguel Ângelo Noronha, esse cenário pode ser explicado por uma série de fatores, entre eles questões genéticas, mas, principalmente o estilo de vida das populações mais jovens, o que inclui aumento do sobrepeso, alto consumo de alimentos ricos em sódio, sedentarismo, etilismo, tabagismo e uso indiscriminado de hormônios anabolizantes. “Quanto mais cedo a pessoa faz parte desses grupos de risco, a tendência é que ela desenvolva a síndrome coronariana aguda mais precoce”, explica acrescentando que o problema acontece justamente porque todos esses comportamentos podem causar uma lesão no endotélio das artérias coronárias entre outras alterações no sistema cardiovascular. “Essa lesão contribui para a formação de placas de gordura na região, as chamadas placas ateroscleróticas.  Com o passar do tempo, elas crescem a ponto de obstruir totalmente as artérias, impedindo o transporte de oxigênio ao músculo cardíaco”, explica. 

Ainda de acordo com Noronha, a partir do momento em que as artérias começam a ficar obstruídas, o paciente tende a sofrer com sintomas como dor no peito, principalmente quando se submete a um esforço físico no qual precisa aumentar a frequência cardíaca. “Como ele tem uma placa de gordura obstruindo a passagem do oxigênio para o músculo cardíaco, logo vai sentir dor ao se exercitar, além de náuseas e sudorese, bem como outros sintomas que devem ser avaliados por um médico”. 

O especialista do UniBH também afirma que o risco de infarto fulminante é especialmente maior em pessoas abaixo dos 40 anos. Isso porque diferentemente dos idosos, que ao longo da vida vão ganhando uma circulação colateral de novas artérias ao redor do coração para suprir a obstrução por uma placa de gordura em desenvolvimento, os mais jovens ainda não tiveram tempo hábil de desenvolver esse mecanismo. “Por isso quando eles têm uma artéria obstruída, o quadro pode ser fulminante”, alerta. 

Por fim, Miguel reforça que pacientes jovens, com sinais e sintomas suspeitos de doença isquêmica do coração, devem procurar atendimento médico de urgência, principalmente quando se trata de uma dor nunca sentida, mas que passou a ser frequente. Quanto àqueles que já possuem uma placa de gordura diagnosticada, devem manter bons níveis de colesterol, glicose e fazer atividade física para evitar a possibilidade do infarto. “Vale destacar que não é possível reverter um quadro de artéria obstruída. Nesses casos, a medicina age para evitar a progressão da placa de gordura e impedir que ela se rompa, causando obstrução severa. Para controlar o crescimento da placa aterosclerótica, vamos tratar com remédio e mudança do estilo de vida, o que inclui o controle da hipertensão arterial, controle glicêmico e de colesterol, além de recomendar ao paciente a cessação imediata do tabagismo, caso ele seja fumante”.