A recente onda do “morango do amor" — receita da fruta coberta por chocolate branco e mergulhada numa crosta de caramelo — reacendeu o interesse dos brasileiros pelo fruto vermelho. Mas afinal, pode-se comer à vontade? E há riscos, principalmente para crianças? Como identificar se o produto é de qualidade? Dúvidas que podem fazer parte do imaginário de algumas pessoas neste momento.
A nutricionista Paula Magalhães explica que o morango é uma fruta rica em vitamina C, antioxidantes, fibras e água, além de ter baixo valor calórico, o que favorece seu consumo frequente. No entanto, ela faz um alerta importante: “Apesar de todos esses benefícios, é um dos alimentos que tem o maior índice de agrotóxicos. Então, ao fazer o consumo, é muito importante lavar bem e sanitizar — com uma colher de sopa de água sanitária por 10 minutos — e, de preferência, consumir frutas orgânicas”.
Segundo Paula, o morango puro é saudável e pode fazer parte da dieta de qualquer pessoa que não tenha restrição alimentar. “O equilíbrio é sempre o melhor caminho. A forma como ele é preparado também importa. Um morango puro é uma coisa. Agora, um morango do amor, coberto com açúcar, com brigadeiro branco, aí a gente já tem que ter um pouco de moderação”, reforça.
João Krauzer, chefe de Serviço da Pediatria do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), afirma que para crianças, a recomendação do consumo da fruta é a mesma. “Assim como as demais frutas, o morango está liberado para ser ingerido a partir dos seis meses de vida da criança. No passado, havia uma ideia de que morango fosse uma fruta mais alergênica e que então deveria entrar na dieta da criança a partir dos nove meses de idade. Só que isso não corrobora mais.”
Ainda conforme o médico, o ideal é consumir morango orgânico, “porque como é uma fruta não descascável, então a polpa fica repleta de agrotóxico. Em excesso, pode fazer mal à criança, podendo surgir sintomas de náusea, vômito e desconforto associado ao agroquímico. Já o morango coberto com caramelo é contraindicado para crianças de qualquer idade,” finaliza o especialista.
Agroquímicos
O cuidado com os agrotóxicos é justificado por dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo estudo do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, o morango é o segundo alimento com maior índice de contaminação por agrotóxicos no Brasil.
O especialista técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Pouso Alegre, José Abílio de Oliveira Filho, explica que o uso de agroquímicos é uma decisão do produtor, mas ressalta que a Emater vem incentivando métodos de cultivo mais seguros. “Trabalhamos muito com processos biológicos. Quem está nesse caminho vai apresentar ao consumidor um produto muito melhor, com segurança alimentar, livre de agrotóxicos e, às vezes, até com produtividade maior. Mas ainda há quem abuse, embora em linha geral seja muito pouco”, afirma.
Produção e preço
Minas Gerais é o maior produtor de morangos do Brasil, concentrando 20 municípios com alta produção, entre eles Pouso Alegre, Bom Repouso e Espírito Santo Dourado, no Sul de Minas. Segundo José Abílio, a melhor época de produção vai de julho a setembro, com o ápice da safra acontecendo justamente neste período. “O morango hoje, por causa do frio, está amadurecendo de forma mais lenta, o que garante melhor qualidade”, afirma.
Com o aumento do consumo motivado por tendências como o “morango do amor”, os preços também subiram. “Com esse evento aí, deu um ganho de R$ 7 a R$ 8 por caixa ao produtor”, detalha.
Como verificar a qualidade do morango
Para escolher um bom morango, o especialista orienta observar o aspecto da fruta: ela deve ser brilhante, sem manchas ou defeitos. “O comprador precisa olhar o fundo da embalagem e, se notar que os morangos não estão bons, deve cobrar qualidade do estabelecimento. Agora a crocância, ele só vai saber quando comer mesmo”, orienta.