A suspensão do uso dos glicosímetros e das tiras reagentes da marca OK Pro na rede pública de saúde de Belo Horizonte tem levado pacientes diabéticos a arcarem, do próprio bolso, com a compra dos insumos necessários para a medição e o controle da doença. As dificuldades enfrentadas começaram após a aquisição dos equipamentos, cuja qualidade foi questionada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e por médicos da rede de saúde da capital mineira sobre a eficácia do dispositivo. Os glicosímetros e as tiras foram comprados pelo governo de Minas para distribuição na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).      

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Há 12 anos, o perito avaliador judicial Windson de Sá, de 54 anos, convive com o diabetes. Desde a suspensão do uso do glicosímetro OK Pro, ele relata que precisou reduzir a frequência das medições de glicemia, pois tem que pagar até R$ 120 para comprar as tiras. "Quando estava conseguindo pegar as tiras no posto, estava medindo seis vezes ao dia. Agora, no máximo, três. Uso insulina e remédios para o controle da diabetes. Para aplicar a insulina regular, tenho que fazer a medição para saber a dosagem correta. Aplicando errado, posso sofrer até convulsão", afirma.

Sá conta que, para poupar as tiras reagentes, muitas vezes deixa de medir a glicemia e acaba aplicando a insulina com base em estimativas. "Esses dias quase desmaiei no meio da rua, pois caminhei até o encontro com uma cliente e senti muita tontura. Essa situação tem que ser normalizada o quanto antes, pois está muito complicado. Sendo bem franco, está um inferno", desabafa.

Morador do bairro Planalto, na região Norte da capital, ele afirma que tem ido ao posto de saúde em busca de informações sobre o retorno da distribuição dos insumos, mas não tem obtido respostas satisfatórias. "Falam que não têm informação de quando será restabelecido e, assim, não sabem dizer quando a situação será normalizada", relata.

Questionada, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que, "até o momento, não recebeu um parecer definitivo da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) em relação aos produtos. Para garantir segurança assistencial aos usuários, o município já está trabalhando em uma compra para a aquisição dos aparelhos e insumos", esclareceu.

A reportagem procurou a SES-MG e o Ministério da Saúde. Os posicionamentos seguem aguardados.

Uso essencial

O médico endocrinologista do Hospital Orizonti, Gustavo Penna, alerta que o uso dos glicosímetros e das tiras reagentes é indispensável para os pacientes que necessitam aplicar insulina."A conduta do médico é baseada nos valores de glicemia anotados pelos pacientes durante o controle. A partir daí, orientamos o paciente sobre quais condutas deve tomar em casa", explica.

Por esse motivo, o especialista reforça que os aparelhos fornecidos pelo poder público aos usuários precisam realizar medições com precisão. "Os valores apontados precisam ser confiáveis, pois a tomada de decisão sobre a quantidade de insulina a ser aplicada no paciente depende da glicemia que ele mediu", afirma.

Segundo Penna, valores errados nas medições podem levar a decisões perigosas. "Em um caso hipotético: se a glicemia real do paciente é de 90, mas o aparelho utilizado por ele aferiu 300, ele vai achar que está alta e aplicar a dosagem para redução. Isso fará com que ele tenha um quadro de hipoglicemia, o que pode representar risco de vida, dada a gravidade do caso", complementa.