Minas Gerais está no centro de uma pesquisa internacional que pode revolucionar o diagnóstico da febre reumática aguda. O Hospital das Clínicas da UFMG (HC-UFMG) é um dos protagonistas do Projeto PRIMA, que busca desenvolver um teste rápido e eficaz para identificar precocemente a doença, uma das principais causas de problemas cardíacos em crianças e jovens.

Nesta terça (8/7) e quarta-feira (9/7), o HC-UFMG e a Faculdade de Medicina da UFMG recebem pesquisadores da Universidade de Harvard e de países como Uganda, Tanzânia e Nepal para a apresentação de dados preliminares da pesquisa. O hospital mineiro é o único centro da América Latina a participar do projeto, que já começa a mostrar resultados promissores.

Quem lidera os estudos no Brasil é a cardiologista do HC-UFMG e professora da Faculdade de Medicina, Maria do Carmo Pereira Nunes. Ela alerta que a febre reumática, que surge após infecções de garganta mal tratadas, é responsável por 30% das cirurgias cardíacas e por casos graves de insuficiência cardíaca em jovens. “Detectar a doença rapidamente pode evitar sequelas permanentes e até salvar vidas”, afirma.

Mapeamento

A pesquisa no Hospital das Clínicas envolve o mapeamento de biomarcadores, indicadores biológicos fundamentais para criar o teste rápido. No serviço de Cardiologia do hospital, 80 crianças e adolescentes com suspeita da doença já foram atendidas, com 13 casos confirmados, três deles em estágio avançado, exigindo cirurgia cardíaca para troca de válvula.

A pequena Gleiciele, de apenas 8 anos, é uma das pacientes do HC-UFMG que precisou da cirurgia. O desconhecimento sobre a doença, relata a mãe, Valdene Aparecida Pinto, atrasou o diagnóstico. “Minha filha era saudável. A febre reumática a deixou com sequelas. Se tivéssemos descoberto antes, talvez não fosse tão grave.”

Diagnóstico ainda é desafio no Brasil

Atualmente, o diagnóstico da febre reumática depende de exames laboratoriais e de ecocardiograma, tecnologia nem sempre disponível em regiões mais afastadas. A cardiologista e residente em ecocardiografia do HC-UFMG, Sara Campaneli, explica: “Não há um exame específico. Precisamos juntar vários sinais clínicos, como num quebra-cabeça. Um teste rápido seria um divisor de águas.”

Problema de saúde pública 

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o Brasil registra cerca de 30 mil novos casos de febre reumática aguda por ano. Em 60% deles, há comprometimento do coração. Muitos pacientes só descobrem a doença já adultos, quando surgem sintomas graves como falta de ar e arritmias.

Diante desse cenário, o HC-UFMG reforça o chamado para o recrutamento de novos pacientes. Famílias de crianças e adolescentes com sintomas como febre após dor de garganta, dores articulares ou falta de ar podem entrar em contato com a equipe pelo telefone (31) 99760-9788.