Com o aumento da busca por um estilo de vida saudável e pela prática de exercícios físicos, cresce no Brasil o consumo de produtos ultraprocessados que destacam em seus rótulos alegações de proteína. Exemplos como “paçocas proteicas”, “sopas proteicas” e “tapiocas proteicas” já são encontrados com frequência no mercado. O consumo desses alimentos são bastante impulsionados pela crença de que a suplementação proteica é essencial para o desempenho físico, o que não é necessariamente verdade, conforme o Instituto de Defesa do Consumidor. 

Na última quarta-feira (6/8), o instituto divulgou um levantamento que analisou se as alegações de proteína nesses produtos estão alinhadas com as normas brasileiras e os princípios do Guia Alimentar para a População Brasileira. O estudo identificou 60 produtos ultraprocessados que trazem alegações de proteína, dos quais 52 foram analisados por atenderem a critérios específicos, como a presença de proteína no rótulo e o uso de ingredientes proteicos entre os cinco primeiros da lista. Foram encontradas 65 alegações relacionadas à proteína, sendo que 44 delas referem-se à quantidade e 11 podem induzir o consumidor ao erro.

Além disso, o levantamento apontou que alimentos antes minimamente processados tornaram-se ultraprocessados para atender à demanda por produtos proteicos, contrariando o Guia Alimentar. “Essa “snackficação” das refeições — substituição de pratos completos por lanches prontos com foco em nutrientes isolados — preocupa especialistas, já que ultraprocessados estão associados ao aumento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes e hipertensão,” diz a pesquisa do Idec.

Para a entidade, as alegações de proteína nesses produtos criam um falso apelo de saudabilidade. “Essa estratégia pode estimular a troca de alimentos saudáveis por ultraprocessados, incentivar o consumo desses produtos e fazer com que o consumidor acredite estar ingerindo mais proteína do que realmente consome”, alerta o instituto.

Mariana Ribeiro, nutricionista do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, reforça que “a adição de proteína em ultraprocessados não representa benefícios reais devido à sua composição e pode trazer malefícios”. Ela destaca que alimentos naturais, como feijão, lentilha, ovos e derivados do leite, oferecem melhor qualidade nutricional sem os riscos do ultraprocessamento. “Enquanto os ultraprocessados proteicos são exaltados, alimentos tradicionais e acessíveis têm sido desvalorizados”, completa.

Todos precisam de suplementação?

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), o mercado de suplementos naturais no país cresceu 8,1% entre janeiro e setembro de 2023, em relação ao mesmo período anterior. O segmento já movimenta cerca de US$ 35 bilhões por ano, conforme a Euromonitor Internacional. A proteína é uma das categorias mais procuradas pelos consumidores. 

Mas todas as pessoas têm necessidade de suplementar proteína? A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recomenda uma ingestão diária de 0,6 g a 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal. Na América do Sul, a média de consumo em 2022 foi de 96,4 g por pessoa — acima do necessário.

Por isso, o Idec conclui que a suplementação proteica, em grande parte dos casos, não é necessária e recomenda que os consumidores façam uma leitura crítica dos rótulos, prestando atenção à lista de ingredientes e ao nível de processamento. O instituto também pede maior fiscalização dos órgãos reguladores para coibir práticas enganosas.