Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Tulane fizeram uma descoberta importante sobre o verme Schistosoma mansoni, responsável pela doença de esquistossomose. Eles identificaram que esse parasita produz substâncias capazes de bloquear a proteína TRPV1+, que é responsável por transmitir sinais de dor, coceira e calor ao cérebro. A descoberta foi publicada na última quinta-feira (7/8) no "The Journal of Immunology". O estudo revela que esse mecanismo facilita a entrada do parasita no organismo humano e pode inspirar o desenvolvimento de novos medicamentos.

A equipe de cientistas, liderada pelo professor De'Broski R. Herbert, especialista em imunologia, demonstrou que o Schistosoma suprime a proteína TRPV1+ como estratégia para aumentar sua taxa de sobrevivência durante a infecção. Esta proteína não apenas detecta sensações desagradáveis, mas também regula respostas imunológicas em diversos contextos.

"Se identificarmos e isolarmos as moléculas usadas pelos helmintos (vermes parasitas) para bloquear a ativação do TRPV1+, isso poderá representar uma nova alternativa aos tratamentos atuais à base de opioides para a redução da dor", afirmou o especialista em um comunicado. 

O bloqueio da TRPV1+ pelo Schistosoma impede que o corpo humano inicie uma resposta imune eficaz contra a invasão. Em condições normais, quando ativada, esta proteína mobiliza células de defesa como células T gd, monócitos e neutrófilos, provocando uma inflamação protetora na pele que dificulta a entrada da larva do parasita.

O mecanismo identificado afeta diretamente pessoas que entram em contato com águas contaminadas pelo Schistosoma mansoni. O parasita consegue penetrar na pele humana sem despertar os sinais de alerta que normalmente seriam ativados pela proteína TRPV1+.

Os cientistas ainda não identificaram exatamente quais moléculas específicas o parasita utiliza para bloquear a proteína TRPV1+, sendo este o próximo passo da pesquisa em andamento.

As descobertas podem resultar em dois tipos de aplicações médicas: tratamentos para dor crônica e métodos preventivos contra a própria esquistossomose. Herbert também explica que, "as moléculas que bloqueiam o TRPV1+ também podem ser desenvolvidas em terapias que reduzam a gravidade da doença em indivíduos que sofrem de condições inflamatórias dolorosas".

O que é esquistossomose? 

De acordo com o Ministério da Saúde, a esquistossomose é uma doença parasitária diretamente relacionada ao saneamento precário. Causada pelo Schistosoma mansoni, a infecção é adquirida quando o indivíduo entra em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelos vermes causadores da esquistossomose. 

Conhecida também como “xistose”, “barriga d’água” ou “doença dos caramujos”, a doença é transmitida quando uma pessoa infectada elimina os ovos do verme por meio das fezes. Em contato com a água, os ovos eclodem e liberam larvas que infectam caramujos que vivem nas águas doces. Após quatro semanas, as larvas abandonam os caramujos na forma de cercarias e ficam livres nas águas naturais. O ser humano adquire a doença pelo contato com essas águas.