Belo Horizonte vai receber, nos próximos meses, o Debug, um projeto-piloto do Google que usa tecnologia de ponta para combater a dengue, a zika e a chikungunya. A iniciativa, em parceria com o World Mosquito Program Brasil e a Wolbito do Brasil, vai automatizar a liberação e o monitoramento do mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, um microrganismo natural que reduz a capacidade do inseto de transmitir doenças.

A novidade foi anunciada nessa quarta-feira (20/8), durante o evento de comemoração dos 20 anos do Google em Belo Horizonte. Diferente dos métodos manuais de soltura, a Debug desenvolveu vans equipadas com tecnologia específica que permite a liberação e o monitoramento de mosquitos por meio de GPS. O sistema possibilita cobrir áreas maiores em menos tempo, otimizando o combate às arboviroses.

“A potencial vantagem da tecnologia que o Google Debug está trazendo é a capacidade de simplificar, diminuir o tempo e otimizar os recursos que hoje são gastos no processo de liberação. Este é um projeto-piloto, e, se der certo nas condições brasileiras, poderá ser expandido”, explica Luciano Moreira, diretor-presidente da Wolbito do Brasil.

Linus Upson, presidente da Debug, reforça que a parceria tem o objetivo de aumentar a qualidade do processo e reduzir custos.

“O objetivo do Google Debug é trazer tecnologia para automatizar o processo de criação e liberação dos mosquitos. Isso tem dois grandes objetivos: reduzir os custos e aumentar a qualidade”, diz. “Quanto menor o custo, mais pessoas podem ser ajudadas. Trabalhar com a Wolbito no Brasil nos dará experiência no mundo real para alcançar essa redução de custos”, completa.

Projeto-piloto em BH

A capital mineira foi escolhida para o pontapé inicial da parceria por ser uma cidade grande, com estudos avançados sobre a dengue, além de já abrigar uma biofábrica de mosquitos Wolbachia - inaugurada em abril de 2024, no bairro Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte.

“Belo Horizonte já possui um estudo clínico de 4 anos, chamado Evita Dengue, da UFMG, em fase de finalização, que avalia a eficácia do método Wolbachia em condições brasileiras. Já existiam resultados promissores em outros países, como na Indonésia, mas este é o primeiro no Brasil, e os resultados devem sair no início do próximo ano”, explica Luciano Moreira. “Por já termos uma estrutura, equipe e pessoal aqui, foi uma escolha natural. Além disso, Belo Horizonte é uma cidade grande e complexa, com muitos casos de dengue, o que a torna um excelente local para demonstrar o trabalho conjunto e essa nova parceria com a Debug”, completa.

Resultados

No momento, as equipes envolvidas no projeto-piloto estão trabalhando na integração da tecnologia Google Debug com a Wolbito. Se tudo seguir como esperado, a expectativa é que as solturas dos mosquitos com a van devem começar no mês de setembro.

Sobre resultados, Luciano Moreira esclarece que a resposta deve vir a médio e longo prazo.

“Os mosquitos com Wolbachia precisam se estabelecer. Geralmente, vemos os primeiros resultados de redução de casos e o estabelecimento da Wolbachia em campo entre 1 a 2 anos. Artigos científicos estão sendo preparados para mostrar essa capacidade, ressaltando a necessidade de um período de espera para resultados mais promissores”, explica.

O que é o Método Wolbachia?

O Método Wolbachia é uma estratégia natural, segura e autossustentável para controlar a população de mosquitos transmissores de doenças. Presente em 60% dos insetos na natureza, a bactéria Wolbachia não existe no Aedes aegypti. Cientistas australianos demonstraram que a bactéria impede a replicação dos vírus, fazendo com que o mosquito, ao invés de vetor, se torne um aliado no combate às doenças.

Quando os mosquitos com a Wolbachia – apelidados de "Wolbitos" – são liberados, eles se reproduzem com os mosquitos locais, transferindo a bactéria para as próximas gerações. Com o tempo, a população de mosquitos com a Wolbachia aumenta, reduzindo a capacidade de transmissão de doenças e eliminando a necessidade de novas liberações contínuas, tornando o método autossustentável. A Wolbachia não oferece riscos a humanos, animais ou ao meio ambiente.