Sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá. A frase dita por Ayrton Senna, maior ídolo do automobilismo brasileiro, é um lema para Fabrício Daniel, 24, um dos destaques do América nesta temporada. Em entrevista exclusiva ao Super.FC, o atacante conta sobre sua trajetória no futebol, a desilusão com o esporte e o apoio incondicional da família.
Infância e início no futebol
Foi no interior de São Paulo, em Araraquara, onde Fabrício despontou no futebol brasileiro, em 2016. Desde pequeno, jogava bola com a família, mais precisamente com seu irmão, que se firmou como profissional mas foi obrigado a parar após seguidas lesões no ligamento do joelho. “É tudo para mim. Era meia e depois se tornou zagueiro. Meu forte no um contra um, em dribles, aprendi jogando contra ele, os macetes que ele me passava sempre fizeram a diferença”, relembra.
Ainda que não tenha tido futuro no futebol, o pai de Fabrício também sempre o incentivou a seguir a carreira e mostrou que a caminhada não seria fácil. “Sempre falou ‘se vocês quiserem mesmo (serem jogadores) vão ter que abdicar’, e eu e meu irmão sempre estivemos convictos na decisão”, conta. Ainda adolescente, tinha como motivação as partidas das finais do Paulistão que assistia pela televisão, e afirmava para si que um dia disputaria a competição com o estádio lotado.
Em 2017, Fabrício foi vendido ao Santos e disputou a Copa Paulista e o Campeonato Brasileiro de Aspirantes; porém, foram apenas 17 jogos e um gol marcado. Sem oportunidades, dois anos depois foi emprestado para o Cianorte, onde fez quatro jogos e balançou as redes uma vez. A falta de sequência aliada à lesão, fizeram com que Fabrício Daniel questionasse a continuidade da carreira.
Quase desistência e apoio da família
“Vinha de clubes que acabei não atuando e ficou um ponto de interrogação. ‘Será que posso mesmo, que sou bom?’. Me questionava todos os dias que acordava de manhã, mesmo sabendo que tinha talento. Questionava porque não consegui desenvolver nos clubes. Fiquei seis meses parado, treinando na academia, sem receber. E aquilo foi o ápice do momento que queria parar e buscar outra alternativa”, revela o jogador, que queria estar perto da família.
O jogador havia passado por cirurgia no menisco e estava em processo de recuperação quando recebeu uma oportunidade no Noroeste, clube de Bauru, que disputa a terceira divisão do Campeonato Paulista. “Quando voltei, ia correr e mancava, e precisavam de mim em curto espaço de tempo”. Foi então que a mãe de Fabrício, formada em psicologia, teve papel fundamental. “Liguei para minha mãe e disse que não sabia se ia dar certo, se iriam me utilizar, me colocar para jogar”, relata.
A mãe, apesar de não entender sobre futebol, incentivou e disse para Fabrício viver cada momento como se fosse o último, dando seu melhor, e que ele faria do Noroeste um grande clube. O jogador mentalizou. “Quero sair daqui com a torcida me amando. Quero ir para uma Série B, depois um Paulistão e uma Série A”, diz. E foi o que ocorreu.
O camisa 23 do América conta que em Bauru era querido pela torcida, que sequer o deixava pagar quando frequentava os estabelecimentos da cidade. “Me incomodava porque não gosto de não pagar pelo que estou consumindo, mas via que eles tinham gratidão pelo que eu estava fazendo”.
Mirassol e a chegada ao América
Fabrício chegou a ter breve passagem pelo Cuiabá, na disputa da Série B, mas também não teve sequência. Foi quando recebeu proposta para tentar a sorte no Mirassol e disputar a Quarta Divisão do Brasileiro em 2020. O atacante foi um dos artilheiros na competição com 11 gols em 21 jogos, além dos quatro gols em 17 jogos nesta temporada. “O Mirassol apostou em mim, é um clube que sou muito grato por todo o staff. Fomos campeões (da Série D), e depois do Paulistão”, declara.
A chegada ao América e à Série A do Campeonato Brasileiro foi de longe o passo mais importante, e emocionante, dado por Fabrício em sua carreira. O convite veio em um dia de folga e pegou a todos desprevenidos. “Me ligaram e falaram que tinha proposta do América, praticamente certa. Estava em casa ajudando meu pai e a gente se alegrou bastante. Meu pai sem entender, minha mãe perguntando se era bom. E falei ‘é tudo que a gente sempre sonhou, batalhou para desfrutar’, e começaram a chorar e agradecer à Deus”, descreve o atacante.
O jogador conta que entre as muitas cidades e clubes que passou jogando futebol, Minas Gerais se destaca. “O pessoal de Minas é muito receptivo, carinhoso e a gente percebe isso. É diferente de alguns estados. Parece que as pessoas me conhecem faz tempo”, comenta o jogador, que completa dizendo que gosta muito da comida mineira. “Gosto de sair para comer, levar minha família para desfrutar do que tem em Belo Horizonte, os lugares históricos”. Questionado pela reportagem se a torcida americana já pagou algum almoço, Fabrício brinca. “Estão devendo, as coisas aqui são meio caras”.
O jogador conta que faria tudo do mesmo modo e que apesar da trajetória longa e nem sempre tranquila, o resultado é indescritível. “É muito bom trabalhar, lutar pela sua vitória e conquistar. O sabor é diferente”, conclui. Fabrício se diz feliz no América, e espera conquistar o objetivo de permanecer na Série A com o Coelho.
Com dez jogos pelo América, nas últimas semanas o atacante esteve afastado devido à infecção por Covid-19. Após dez dias afastado, retornou no domingo (26), no empate em um a um com o Flamengo no Horto. Fabrício Daniel tem dois gols pelo clube, que foram marcados na vitória do América por 2 a 0 sobre o Ceará, em jogo válido pela 18ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro.