As brigas e as cenas de selvageria vistas na Arena MRV (Esplanada, interior do estádio se estendendo ao gramado) antes, durante e depois da final da Copa do Brasil, no último domingo (10/11), levaram o Atlético a rever todo o protocolo de segurança do estádio para o futuro. Nesta terça-feira (12), conforme adiantou O TEMPO Sports, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) interditou o estádio por tempo indeterminado.
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"A Arena MRV é um estádio concebido de forma moderna, de forma que houvesse maior interação da torcida com o campo, mas vimos que isso não dá certo. Os justos pagam pelos pecadores. Temos que pensar em subir os vidros, ter catracas iguais as que existem na Europa, que vão do piso ao teto, onde passam um por um. Vamos ampliar a discussão de segurança privada e pública dentro do estádio, que é um ponto importante", afirmou Bruno Muzzi, CEO do Atlético, em conversa exclusiva com a reportagem.
Efetivo dobrado não suportou confusão
Segundo Muzzi, em um jogo normal na Arena MRV, são contratados 450 seguranças privados. Para a final da Copa do Brasil entre Atlético e Flamengo, esse número foi de 720 profissionais. "Foi o maior efetivo do Batalhão de Choque da PM na Arena MRV (número de policiais não revelado). Gradeamento no gramado e nada disso foi o suficiente para conter o vandalismo e agressões aqui dentro”, contou.
Ao todo, 16 pessoas foram conduzidas pelo Atlético para a delegacia e 12 ficaram presas. Dez torcedores foram identificados pelos mais diversos delitos, que vão de agressões verbais a tentativa de invasão de campo e arremesso de bombas. Muitos dessas invasões, inclusive, segundo Muzzi, vindas de setores mais caros do estádio.
“Vamos punir os torcedores nos programas de sócio-torcedor, independente de onde eles estavam no campo. Vamos suspender, banir do estádio. Quando complementarmos o reconhecimento facial, vamos impedir esses criminosos de entrar no estádio. Os que tiveram suspensões administrativas também, precisamos deixar essa turma de fora da Arena MRV”, explicou Muzzi.
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Segundo o dirigente, além de todo o prejuízo financeiro, que ainda não foi contabilizado, há também um prejuízo moral por parte do clube. “Temos que elevar a segurança da Arena para outro patamar. Nosso prejuízo maior que o financeiro é o moral, um sentimento de perda, o Galo perdeu, a torcida perdeu, o Brasil perde com o espetáculo da forma que foi, já que o futebol é um patrimônio importante. Esse é o meu sentimento verdadeiro”, disse Muzzi.
A invasão na Arena MRV
Toda a confusão dentro da Arena MRV e na Esplanada foi monitorada em um centro de comando do lado da área da imprensa, com 350 câmeras. Segundo Muzzi, todos os profissionais envolvidos na segurança tiveram acesso às imagens e foram tomando as medidas para conter a quebradeira em tempo real.
Os baderneiros romperam as telas de proteção, pulando pelo portão G, de acesso à imprensa e TV Compound, rompendo os tapumes. No acesso A, também invadiram os tapumes e subiram um barranco de grama. "Eles foram invadindo, entraram com bombas e fizeram aquele movimento de cavalo doido, que vem um grupo grande, correndo, entrando nos portões, chutando tudo e tirando os seguranças, até que a PM chegasse e contivesse eles. Tivemos que fechar os portões para o choque entrar e varrer essa turma de fora", explicou.
O tumulto também foi visto em campo, onde, após a partida e o gol de Plata - aos 37 minutos do segundo tempo - houve outros episódios de brigas entre a torcida do próprio Atlético. Em um destes casos, um torcedor alvinegro, que estava em um dos camarotes da Arena MRV, foi flagrado fazendo um possível gesto racista em direção a um torcedor que estava no setor inferior do estádio.
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Segurança da imprensa e torcida visitante
Muzzi também falou sobre os fatos ocorridos com o fotógrafo Nuremberg José Maria, de 67 anos, sofreu três fraturas no pé, lesão nos tendões e teve que ser hospitalizado para passar por cirurgia. O presidente Sérgio Coelho, inclusive, visitou o profissional nesta terça-feira (12/11), que segue em recuperação. Ele trabalhava no jogo e foi atingido por uma bomba e como os suspeitos entraram no estádio com os artefatos.
Segundo Muzzi, estruturas da Arena MRV precisam ser modificadas para garantir segurança aos profissionais que trabalham nos jogos. “Precisamos pensar em subir os vidros. Ter um maior perímetro de controle das pessoas que entram na Arena sem ingresso. Controlar essas invasões da rua para dentro do estádio, que é uma questão de segurança pública. Melhores revistas na esplanada. E punir. São os caminhos que vamos adotar e usar de toda essa tristeza para que eleve o patamar de segurança", afirmou.
Sobre a confusão envolvendo a torcida do Flamengo antes da partida, o CEO do Atlético disse que houve um problema nas catracas e que, devido à quantidade de pessoas, a situação piorou.
“Acionamos a cavalaria para conter. No jogo do River, por exemplo, com 4 mil argentinos, não houve nada. As medidas de segurança precisam ser amplificadas. Brigas entre as torcidas é algo difícil de conter. Mas, se tivermos segurança pública, polícia dentro do estádio, é muito diferente da segurança privada, treinada para lidar com torcedor e não com marginal”, disse.