Volta por cima no Atlético? Vargas passa de odiado a peça importante nos últimos jogos

"Finda a tempestade/O sol nascerá". Se vivo, o cantor e compositor Cartola (1908-1980), um dos mais célebres torcedores do Fluminense, talvez estivesse furioso com Eduardo Vargas. O sambista não poderia negar, entretanto, que os versos dele em parceria com Elton Medeiros (1930-2019) em "O Sol Nascerá" (mais conhecida como "A Sorrir") descrevem como poucos o momento do atacante do Atlético.

No último sábado (04/05), Vargas deu mais um passo rumo à recuperação com a camisa alvinegra ao marcar duas vezes e garantir o empate por 2 a 2 com o tricolor em Cariacica (ES), pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro.

O Atlético perdia por 2 a 0 quando o técnico Gabriel Milito o colocou em campo, aos 27 minutos do segundo tempo, no lugar de Hulk. Nove segundos foram suficientes para o chileno balançar a rede. Depois, ele fez mais um, aos 33, para dar placar final ao jogo.

Vargas já havia marcado no fim de semana anterior, na vitória por 3 a 0 sobre o Cuiabá, na Arena Pantanal. Gols que alimentam a expectativa de volta por cima do jogador, alvo maior da ira da torcida alvinegra nos últimos meses.

"Estou muito feliz. Primeiro, tenho de agradecer a Deus pelas coisas que estão acontecendo. E agradecer também a todas as pessoas que têm me ajudado: minha noiva, meus amigos pastores, meu sogro, meus pais e meus amigos. Eles me ajudaram muito a levantar a cabeça e, agora, estou treinando bem, fazendo tudo certo, e tem dado resultado em campo", afirmou Vargas, ao Premiere, após o empate com o Fluminense.

Crise e busca pela redenção

Vargas chegou ao Atlético em novembro de 2020 e participou da campanha do Triplete Alvinegro. Ao todo, conquistou sete títulos pelo clube: o Brasileiro (2021), a Copa do Brasil (2021), a Supercopa do Brasil (2022) e o Campeonato Mineiro (2021, 2022, 2023 e 2024).

Em 2022, entretanto, o jogador já era alvo de críticas da torcida. O auge da crise foi em setembro do ano passado, quando membros de uma organizada foram atrás do atacante em uma casa noturna de Belo Horizonte. O atacante, que estava de folga, já havia deixado o local, e as ameaças que receberia pessoalmente foram feitas em vídeo divulgado nas redes sociais.

O mau momento do gringo em campo e o clima tenso apontavam para uma saída no início da atual temporada. O salário alto, entretanto, afugentava clubes interessados. Com contrato até o fim deste ano, Vargas seguia na Cidade do Galo e, às vezes, figurava no banco de reservas.

Sem que as negociações progredissem, o técnico do Atlético, Luiz Felipe Scolari, apostou na recuperação do atleta. "Eu disse ao Vargas: 'Mesmo que alguns não gostem da tua forma de jogar, vou te dar a oportunidade, vou te bancar em determinados momentos de uma partida. Só me dá um respaldo, e eu vou contigo até a morte", afirmou o treinador no fim de fevereiro.

Como o restante do time, Vargas não evoluiu. O Atlético só melhorou com a chegada de Milito, que tem como um dos pontos altos no Galo a recuperação de jogadores com desempenhos insatisfatórios. Um deles, o chileno.

Vai engrenar?

O gol de Vargas sobre o Cuiabá acabou com uma 'seca' de 11 meses do atacante sem balançar a rede. Naquele jogo, ele ainda deu fim a outro jejum: há dez meses não começava como titular.

Diante do Fluminense, o gringo chegou a 140 partidas pelo Atlético e também quebrou uma marca ao passar o venezuelano Rómulo Otero e se tornar o terceiro maior artilheiro estrangeiro da história do clube, com 27 gols — está atrás do argentino Lucas Pratto (42) e do equatoriano Cazares (41).

Talvez seja precipitado dizer que o sol de Cartola já tenha renascido para Vargas no Atlético, mas o desempenho recente do atacante permite afirmar, ao menos, que não há mais tempestade.