O Conselho Deliberativo do Atlético publicou edital nesta sexta-feira (1/8) alterando a data da reunião para votar, se vai cair ou não, a cláusula de diluição dos 25% pertencentes à Associação, previstos no contrato inicial da SAF, encabeçada pelos 4Rs (Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador). 

Na prática, é um sinal verde para que possam ser feitos mais investimentos na sociedade anônima, que hoje detém 75% das ações alvinegras e que, como é de conhecimento geral, vive crise financeira e com a necessidade de um novo aporte. Inicialmente, a reunião com os conselheiros estava marcada para segunda-feira (4/8) para o dia 16 de setembro, na Arena MRV. 

Um estudo encomendado pelos mandatários do clube teria mostrado que o valor do patrimônio da SAF Atlético - que inclui também a Arena MRV, a Cidade do Galo e os jogadores que pertencem ao clube - é de aproximadamente R$ 2,1 bilhões. Com isso, 15% da associação - que ficaria apenas com 10%, o mínimo estabelecido pela Lei da SAF - mudariam de dono nesse processo de diluição. O valor mínimo pedido em edital pela Associação para essa transação é de R$ 200 milhões. 

Conforme já adiantou o próprio Rafael Menin, em entrevista coletiva no mês passado, a SAF precisaria de, ao menos, R$ 600 milhões para amenizar o sufoco financeiro, colocar as contas em dia e lidar com os aumentos de juros bancários dos atuais empréstimos. Se o valor não vier de um investidor externo, ele, inevitavelmente, sairá dos próprios acionistas, no caso, a maior parte, da família Menin. Isso em troca de uma fatia maior nas ações da SAF, o que pode significar transferir justamente esses 15%, que são da Associação. Com isso, a família Menin ficaria com 55% das ações atleticanas.

Atual divisão da SAF do Atlético 

  • Rubens e Rafael Menin: 41,8%
  • Associação: 25%
  • Galo Forte FIP (Daniel Vorcaro): 20,2%
  • Ricardo Guimarães: 6,3%
  • FIGA (ainda a pagar): 6,7%

E o restante do valor?

Um nome que acabou especulado como possível investidor na SAF do Atlético foi o do empresário Marcelo Claure. O ex-Softbank, que comanda a varejista Shein na América Latina, também é investidor do Bolívar-BOL, já participou das finanças do Inter de Miami (EUA) e é sócio do grupo City no Girona-ITA. O envolvimento dele com o Galo, porém, não foi dado como certo, conforme a reportagem apurou nos bastidores. Com isso, o Galo segue em busca de um investidor. A intenção é essa pessoa não tenha ações na SAF. Apenas entre com o aporte, com garantias de contrato. 

Conforme apuração de O TEMPO Sports, o argumento que será usado para tirar a cláusula de diluição da Associação é que os únicos acionistas que têm, de fato, colocado dinheiro na SAF do Atlético são Rubens e Rafael Menin. Isso porque o empresário Daniel Vorcaro, segundo maior acionista, com o FIP Galo Forte, tem impedimento para poder fazer qualquer tipo de investimento neste momento. Isso em virtude de problemas com o Banco Central relacionados ao seu principal negócio, o banco Master. 

Fontes ouvidas por O TEMPO Sports disseram que, para os envolvidos, a única saída do Atlético é esse novo aporte da família Menin, que é quem tem de imediato condições de injetar mais dinheiro no Atlético. Ricardo Guimarães, a princípio, não fará novo aporte na SAF. Nada impede, porém, que, diante desse cenário, o banqueiro possa fazer um novo aporte futuro de R$ 200 milhões, e aumentar também seu percentual na SAF. 

Rubens Menin já foi aconselhado a vender sua parte no Atlético, mas ele entende que é um patrimônio da família, apaixonada pelo Galo. Esse é o mesmo pensamento de Ricardo Guimarães. Pessoas ligadas a Rubens, inclusive, entendem que o empresário tem sido ‘injustiçado’ em relação às críticas sobre a gestão da SAF. Isso porque, desde que o Galo mudou para sociedade anônima, a família Menin é a que tem mais investido para segurar as contas do Atlético. 

Dívida do Atlético

O Atlético possuí uma dívida líquida de cerca de R$ 2,3 bilhões, segundo o Relatório Convocados 2025, produzido pelo economista Cesar Grafietti. Alavancado pelas finais da Copa do Brasil e da Copa Libertadores, o Atlético teve uma arrecadação de R$ 607,2 milhões em 2024, mas não conseguiu controlar o crescimento da dívida.

“Esportivamente fez duas finais relevantes, mas fora de campo segue alavancado, as dívidas não cedem, e as receitas só cresceram por negociação de atletas e desempenho, que é incerto”, aponta o economista.

O número divulgado pelo economista diverge do divulgado inicialmente pelo Atlético. Em maio, o Galo liberou seu balanço financeiro, onde apontou que a dívida do clube era de R$ 1,4 bilhão. Para chegar nesse valor, o Galo fez algo que não é recomendado por Grafietti: somar os passivos circulantes e não circulantes e subtraiu as receitas antecipadas. Esse seria um caminho mais “simples” tomado pelo clube em seus balanços.

A crise estourou recentemente com atrasos em pagamento de salários, luvas e outros valores devidos aos jogadores. Alguns entraram com ações extrajudiciais para não sair no prejuízo. O Galo promete sanar todas as contas tão logo seja possível.