Depois da derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, o Atlético tem missão muito complicada no duelo de volta para seguir vivo na busca pelo bicampeonato. No entanto, a inspiração para conseguir uma reviravolta inesquecível está na própria história recente do Galo na competição mata-mata. O título alvinegro de 2014, afinal, ficou marcado por viradas épicas contra Corinthians e Flamengo e vitórias sobre a própria Raposa na decisão do torneio que lavou a alma dos atleticanos. E um dos protagonistas daquela conquista foi Jesús Dátolo.

Hoje camisa 10 do Banfield, clube que o revelou, o argentino, de 35 anos, concedeu entrevista exclusiva ao SuperFC. No bate-papo com a reportagem, o meia relembrou grandes momentos do título de cinco anos atrás, contou histórias da conquista, revelou momentos com Luan e o ex-presidente alvinegro Alexandre Kalil e demonstrou todo o seu amor pelo Atlético.

Amor que segue muito forte e é sempre lembrado, já que a namorada e a filha do jogador são de Belo Horizonte e ele sempre visita a capital mineira em suas férias. Dátolo ainda falou sobre Ronaldinho, Messi e outros craques que atuaram ao seu lado e contra ele na carreira. O hermano colocou o Bruxo acima do atual camisa 10 do Barcelona, fez revelações sobre as famosas festas de R10 e ainda disse ter aprendido a tocar instrumentos com o eterno craque.

Confira a entrevista exclusiva de Dátolo ao SuperFC:

Como são os reencontros com a torcida do Atlético? Brincam muito com você?

"Eles constantemente me pedem para voltar e brincam comigo (risos). Eles têm muito carinho por mim e eu por eles. Esse amor nunca vai acabar. É uma coisa muito bonita que a gente criou durante esse tempo que eu joguei no Atlético. Nós conquistamos muitos títulos. Fico muito feliz porque eles reconhecem meu trabalho mesmo tanto tempo depois de eu ter saído do Galo. Pra mim, é uma honra. É óbvio que a gente sempre quer voltar, é normal, porque vivi uma história muito bonita, mas as coisas não são fáceis. É outra diretoria, são outras pessoas trabalhando, então a gente tem que respeitar essa nova diretoria."

Tem muita vontade de voltar a jogar no Atlético?

"É claro. Quem não tem vontade de jogar no Atlético? Quem não gostaria de voltar ao Atlético? É o clube que me deu tudo. É um clube que eu gosto de jogar. Mas é como te falei, eu também tenho um clube na Argentina que eu tenho que respeitar, me revelou e eu gosto muito de jogar também. Eu sempre tive sorte, porque deu certo em todos os times que joguei. Voltei depois de muito tempo jogando fora do meu país, então voltar ao time que me revelou (Banfield) é muito gratificante. Mas é óbvio que em algum momento eu gostaria de voltar (ao Atlético), porque é o time que me deu tudo."

O seu estilo de jogo encaixou muito com o Atlético, você teve muito sucesso no clube e é querido pela torcida. Qual razão você acredita ter sido a principal para essa sinergia?

"Eu acho que desde o primeiro momento que cheguei em Belo Horizonte e na primeira vez que falei com o (Alexandre) Kalil (ex-presidente do Atlético), eu nunca vou me esquecer, eu cheguei na sala dele e ele me disse: 'Tudo bem? Eu sou o Kalil. Você está no Atlético e já sabe como é. Quanto tempo você quer ficar aqui? Um ano, dois anos, três anos, quatro anos?' Quando você escuta essas palavras de um presidente que te dá toda essa confiança, essa moral, é muito importante. Pra mim foi muito importante. Então, eu já disse: 'Posso ficar aqui vários anos porque vou dar a minha vida por esse clube'. Eu me senti muito bem com a conversa e já decidi na hora que ia comprar um apartamento em BH porque ia ficar aqui e conquistar títulos. Quando acontece isso e você ganha confiança, você vai pra cima e dá a vida pelo clube. A confiança que o Kalil me deu me fez querer dar a vida pelo Atlético."

Como foi seu reencontro com o Kalil na última vez que veio para BH?

"Foi ótimo. A gente sempre se lembra dos ótimos momentos que vivemos juntos. Eu encontrei com a Adriana Branco (ex-diretora executiva do Atlético) também. São pessoas que eu gosto muito. A Adriana é uma grande amiga que eu fiz no futebol. Tenho um carinho enorme pelos dois. Relembramos muitas coisas boas."

Imagino que suas melhores lembranças do Atlético envolvem a Copa do Brasil de 2014.

"Ah sim. Cada vez que eu encontro um atleticano, e atleticano tem no mundo todo, né. É impressionante. E cada vez que encontro um, sempre me lembram daquela Copa maravilhosa que a gente conquistou. Foi um torneio diferente por tudo que a gente passou. Aquelas viradas e a final em cima do rival. Foi um torneio que eu nunca vou esquecer. Eu sempre digo que eles podem ganhar 20, mas a gente ganhou a que mais importava (risos). A gente ganhou em cima deles e eles podem ganhar tudo que quiserem, mas nunca vão esquecer aquela final."

Você ainda marcou um gol na final contra o Cruzeiro e deu a assistência no jogo do título.

"Cara, os dois jogos foram maravilhosos. Eu sabia que seriam jogos que entrariam para a história, então me concentrei ao máximo, porque sabia o quão importante era vencer aquele título para o torcedor do Atlético. Eu me coloquei na pele do torcedor. Eu e meus companheiros demos nosso sangue, nossa vida e interpretamos o que o torcedor queria."

Teve alguma conversa ou alguma história antes do jogo que motivou vocês ainda mais?

"Não teve nada especial. Mas o meu companheiro de quarto era o Luan, e a gente sempre conversava muito, dava moral e passava confiança um para o outro. Na véspera do jogo a gente sempre pilhava o outro dizendo que a gente tinha que dar o sangue, correr como nunca, ser protagonista e representar o torcedor do Atlético, ajudar os companheiros e correr muito. A gente sempre procurava motivar o outro e ter muita concentração. Eu acho que o jogador de futebol precisa sempre disso, do apoio dos seus companheiros, porque todo mundo ganha."

Além dos jogos daquela Copa do Brasil, outro jogo muito importante e emocionante que você disputou foi aquela Recopa Sul-americana maluca contra o Lanús, que marcou a despedida do Ronaldinho do Atlético. Quais as suas lembranças daquele jogo?

"Também foi uma noite muito especial, porque o Lanús é rival do Banfield, o time que estou agora e me revelou, então pra mim era ainda mais especial. Eu joguei pelo Atlético e pelo Banfield (risos). Foi uma virada muito importante. E eu me lembro também de uma Copa Libertadores que eu fiz gol pelo Boca (Juniors) contra o Cruzeiro, então a minha vida sempre foi um filme, sabe? É um filme sempre com histórias bonitas. E essa noite com a despedida do Ronaldinho e mais um título foi uma delas."

Você jogou com o Riquelme no Boca, o Ronaldinho no Galo, o Messi na seleção argentina... Sortudo, hein (risos).

"Eu fui muito abençoado. Joguei com o Carlitos Tévez também. Joguei contra Ibrahimovic, Del Piero... É muito jogador bom que eu joguei junto e enfrentei. Pra mim, a minha carreira foi muito abençoada, porque nem todo mundo consegue jogar com esses craques, e estou feliz porque minha carreira continua muito boa, estou jogando bem, superei a época que sofria com lesões e agora estou muito feliz jogando, marcando gols e jogando bem."

Sinuca pra você se virar (risos). Qual desses craques foi o melhor?

"(Risos) Pô, tem uma pergunta mais fácil não? Cara, eu coloco o Ronaldinho. Pra mim, ele foi fora de série. Além de jogar muita bola, ele é um fenômeno geral também fora de campo. Depois dele, o Messi, e aí o Tévez."

Tem alguma resenha boa com algum deles?

"(Risos) Não posso entregar ninguém, mas sou muito amigo do Tévez, eu e o Messi somos bons companheiros até hoje também... Mas com o Ronaldinho, quando eu cheguei no Galo, ele se sentou no vestiário e me chamou pra sentar do lado dele falando: 'Senta aqui, gringo, senta aqui' (risos). Ele é um grande amigo. Foi uma honra ter jogado com ele. Eu nunca vou me esquecer."

Chegou a ir em alguma daquelas festas famosas do Ronaldinho?  Ele te levou para o caminho do samba, do pagode?

"Eu fui várias vezes na casa dele. Sinceramente, o pessoal aumenta um pouquinho o que rola nessas festas (risos). Ele fazia as festas dele e tudo, mas ele ficava de boa e, quando entrava em campo, era um monstro. O cara decidia. E ele é um fenômeno em todos os sentidos, dentro e fora de campo. Por causa dele eu aprendi a tocar pandeiro e tantã (risos). Na época a gente tocava muitas músicas conhecidas, ainda não tinham composições dele. O Ronaldinho gosta muito de música e de escrever, como você sabe, e já gravou vários clipes e tudo. É impressionante como tudo que ele faz é show. Estou aguardando o próximo sucesso dele. As músicas dele estão aprovadas, já ouvi várias."

Você lembrou do Boca. Com os Xeneizes, você ganhou uma Libertadores com o Riquelme arrebentando. A qualidade daquele time era impressionante.

"Cara, naquele ano... A gente pegou o Riquelme no melhor momento dele. Ele arrebentou com todos os times e estava num momento muito bom. A gente tinha um time bom demais e que estava em um momento impressionante. Impressionante. Palacio, Palermo, Bataglia... Cara, todo mundo estava jogando demais. O nosso time era muito bom. A gente venceu o Grêmio na final por 5 a 0 no placar agregado. 5 a 0 na final. Não é pouca coisa. A gente tinha um timasso. Ganhamos duas Recopas, a Libertadores, o Campeonato Argentino... Nós ganhamos quase tudo. Era legal também porque não tinha um onze inicial. Todo mundo que entrava arrebentava e o time estava muito feliz também. Todos os jogadores estavam muito felizes. Isso é raro no futebol. Um grupo inteiro feliz."

Não sei se você vai se lembrar, mas uns anos atrás você me disse que se fosse milionário jogaria no Atlético de graça e que realmente quem entra no Atlético como funcionário sai como torcedor. Nos seus tempos de Atlético você chegou a receber alguma oferta mas preferiu seguir no Galo por conta do carinho e da identificação com o clube?

"Sim, eu me lembro de tudo isso e é tudo verdade. A verdade é que eu nunca quis sair. Eu sempre quis ficar no Atlético, mas o presidente (Daniel Nepomuceno) na época disse que não queria renovar e aí eu não pude fazer mais nada. Mas sigo com muito carinho pelo Atlético. O carinho e a vontade de ficar no Atlético continuaram (voz fica embargada) e sempre existiram. O jogador de futebol... Cara, a nossa situação é até difícil em alguns momentos, porque a gente dá muito, muito, muito e às vezes quando temos que receber aquele apoio... (Pausa). Porque eu estava em um momento difícil na minha carreira, porque estava com uma sequência sem jogar. Eu queria... Eu precisava do carinho e do afeto que eu tinha dado um tempo atrás. Eu esperava um pouquinho mais de compreensão. Mas o futebol é assim. Às vezes quando você está muito bem gostam muito de você, mas depois quando abaixa um pouco o nível, as pessoas se esquecem. Infelizmente é assim. Mas eu levo o carinho das pessoas, que é o mais importante e não me importa o resto. Obviamente eu gostaria de ainda estar jogando no Galo. Eu me sentia muito bem lá e tinha tudo lá, tudo que eu queria. Eu era muito feliz no Galo. Mas agora é mais difícil. Obviamente são outros jogadores, outra diretoria e eles têm o direito de escolherem os jogadores que quiserem, então não posso fazer nada. Como te falei, estou muito feliz na Argentina e jogando muito bem no Banfield. Obviamente, se vier alguma proposta de algum time do Brasil, menos o Cruzeiro, é claro (risos), eu vou escutar, mas se for o Galo, melhor. Mas eu não posso me candidatar também. Eles têm que querer e, se eles quiserem e for algo bom para mim e para o Banfield, eu volto com muito prazer, até porque conheço o clube e tudo que o Galo representa e sempre vou amar o Atlético. É lógico que se chegar uma proposta eu vou sentar e conversar."

Como você definiria o Galo em uma palavra?

"(Longa pausa) Poxa, cara, muito difícil essa. Mas fico com paixão. Acho que nenhuma outra palavra define tão bem o Galo e o seu torcedor. Amor, paixão... É uma coisa incrível. A torcida do Atlético é uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida. Eu até parecia um mineiro de tão em casa que me sentia."