As dívidas têm sido um assunto cada vez mais frequente no futebol, e Cruzeiro e Atlético se encaixam nesta regra. Por razões diferentes, os rivais mineiros estão com valores pendentes no mundo das finanças. Um especialista em gestão esportiva faz um panorama dos débitos de Galo e Raposa e aponta cenários diferentes.
O balanço oficial da SAF do Cruzeiro mostrou uma dívida na casa de R$ 1,2 bilhão. Formado em jornalismo, bacharel em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e especialista em Marketing Esportivo, o diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios, Fernando Trevisan, chama a atenção para os valores altos do débito do clube celeste. Porém aponta um horizonte mais controlado para a Raposa, devido ao perfil das dívidas.
"Apesar de ser bastante elevada, a maior parte da dívida é de longo prazo e tem a ver principalmente com as parcelas que devem ser pagas à associação Cruzeiro Esporte Clube, para fazer frente aos antigos credores. Então é natural que o montante da dívida da empresa tenha a ver com o processo de separação da associação, que é recente”, pontua Fernando.
Porém o especialista alerta para a necessidade de a Raposa aumentar as receitas, principalmente com a mudança de perfil de atuação no mercado da bola, com a chegada de Pedro Lourenço ao comando da SAF. Para seguir contratando atletas de renome, aponta o especialista, é essencial expandir os ganhos.
“O desafio do Cruzeiro é crescer a sua receita, que está bem distante dos principais concorrentes por conta dos anos de Série B, e assim conseguir honrar as dívidas futuras e o alto nível de investimento que a empresa tem feito em elenco. O Cruzeiro foi a segunda equipe que mais investiu em contratação de jogadores no ano passado”, destaca.
Já no caso do Atlético, Fernando Trevisan mostra mais preocupação. O balanço oficial da SAF alvinegra apontou dívida de R$ 1,4 bilhão, em contraste com o relatório Convocados 2025, que indicou R$ 2,3 bilhões de débitos para o clube preto e branco. Para o Galo, o perfil da dívida é preocupante, segundo Fernando Trevisan.
“O perfil dela é majoritariamente de curto prazo, o que acaba sufocando o fluxo de caixa do clube. O Atlético-MG teve um bom crescimento de receita em 2024, saltando para mais de R$ 600 milhões de faturamento, mas ainda depende da venda de jogadores para conseguir fechar a sua operação com resultado positivo. Mesmo com o forte crescimento de 30% na receita e o resultado econômico positivo, isso foi insuficiente para reduzir a dívida”, considera.
Porém Trevisan, ao lembrar os desafios do Atlético para ficar em situação mais tranquila, aponta também uma vantagem que o clube alvinegro tem: a Arena MRV. A exploração do estádio pode ajudar o Galo, segundo Fernando, no aumento de receitas.
“O principal desafio do Atlético-MG é seguir crescendo a sua receita, principalmente com a exploração de sua nova arena, que já representa 28% de tudo o que arrecada. É o segundo clube que mais arrecada com "matchday" (dias de jogos) no Brasil. Ao mesmo tempo, tem que reestruturar os seus gastos e a política de investimentos, de modo a conseguir equilibrar o caixa e começar a reduzir o seu endividamento”, aconselha.
Em uma análise geral, Fernando Trevisan enxerga boas perspectivas para a redução das dívidas tanto de Atlético quanto de Cruzeiro. O analista lembra que a dívida em si não é um problema. O X da questão é o perfil dos débitos na praça.
“Se o Atlético conseguir alavancar o seu faturamento, ir aos poucos e ir reduzindo o seu endividamento, da mesma forma o Cruzeiro, isso não vai zerar no curto prazo, mas vai conseguir ser equacionado. É claro que é muito desafiador no primeiro momento, dado o custo de juros do Brasil, que é altíssimo. Então, qualquer empresa que se financia em curto prazo tem muita dificuldade de caixa no primeiro momento, mas nós estamos falando de duas potências, que têm uma capacidade de arrecadação imensa, seja via matchday, seja via patrocínio, seja via bilheteria e venda de jogador também”, pondera.
Conafut 2025
As dívidas dos clubes são apenas um dos assuntos que serão abordados na Confederação Nacional do Futebol 2025 (Conafut 2025). Organizado pela Trevisan Escola de Negócios e pela THE360, o evento vai ocorrer no Mineirão nos dias 7 e 8 de agosto - próxima quinta e sexta-feira.
Criada em 2017, a Conafut busca promover discussões de vanguarda sobre a gestão do esporte, além de proporcionar um ambiente de conexão e networking entre profissionais da área. Fernando Trevisan entende que há uma carência desse tipo de evento no Brasil.
“Nas últimas décadas o futebol avançou muito no Brasil em termos de profissionalização, e ao mesmo tempo está aquém dos outros setores em termos de organização e até mesmo de profissionalismo em vários sentidos. Tivemos a ideia de criar um ambiente que trouxesse tanto de um lado conteúdo de ponta, de vanguarda, um ambiente de discussão, de debate, voltado especificamente para a indústria do futebol, quanto um ponto de encontro para a network, como tem vários outros setores, e no meio do futebol ainda bastante carente”, explica o especialista.