A chegada de Ronaldinho ao Atlético completa, neste sábado (4), 10 anos. Uma década depois, o presidente do Galo à época e responsável por conduzir as conversas com o staff do craque, contou os bastidores da contratação, considerada por muitos a maior da história do clube.

Kalil disse que tudo começou a partir de duas indicações de pessoas da confiança do cartola. “De repente, me liga o Cuca: 'Kalil, o camisa 10 que você sonhou saiu do Flamengo'. Eu falei: 'Cuca, Ronaldinho não. Eu não tenho saúde'. Eu conheci o Ronaldinho da imprensa. Eu nunca tinha visto o Ronaldinho. Daí um pouco, me liga meu filho mais velho, que não tinha conversado com o Cuca. 'Pai, nosso camisa 10 está aí, cara. Saiu do Flamengo'”, afirmou o cartola em entrevista ao Flow Podcast. 

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Diante das dicas do técnico e do filho, Kalil disse que conversou com Assis, irmão e agente de Ronaldinho. Segundo o ex-presidente, a amizade de Cuca com o empresário, desde os tempos que jogaram juntos no Grêmio, facilitou o fechamento do negócio.

Uma coincidência também ajudou: Kalil estava no Rio de Janeiro quando o filho e Cuca ligaram, mesma cidade onde Assis resolvia pendências do craque após a saída do Flamengo. 

“Falaram: 'o Assis está no Rio e está perguntando que dia ele pode te encontrar em Belo Horizonte'. Eu falei: 'então manda ele vir agora, porque eu estou no Rio também. Manda ele vir agora. Nõs vamos encontrar agora'. O Assis chegou lá e eu peguei um papel lá, um bloquinho, e coloquei que eu pago isso e isso aqui. Se o Ronaldinho quiser vir, eu fico com ele”, disse o ex-cartola alvinegro.

Uma semana depois, Kalil e Assis voltaram a conversar. Dessa vez, o objetivo era marcar um encontro do mandatário com Ronaldinho para bater (ou não) o martelo. 

A reunião aconteceu em Porto Alegre. Kalil foi para o Rio Grande do Sul em um avião particular do craque, e o encontro aconteceu num escritório dentro do hangar alugado pelo jogador em um aeroporto. 

“Levei o advogado (Rodolfo) Gropen, que era meu homem de confiança no Atlético. Quer dizer, mais um sabia. E fui para Porto Alegre. Cheguei lá, conversei com ele. 'É isso, é isso. Vai ser assim. Eu não sou presidente do Flamengo, a Patrícia (Amorim), eu sou o Kalil. Então nós vamos combinar uma coisa: você vai acabar com a minha vida, mas eu juro que eu acabo com a sua', disse Kalil ao Flow. 

Uma situação inusitada também marcou a conversa, segundo Kalil. Ao fim da negociação, Ronaldinho perguntou quando seria a apresentação para a imprensa. O presidente, no entanto, foi duro com o craque.

“'Presidente, quando a gente vai marcar a data de apresentação?'. Eu falei: 'não, meu filho. Quando eu compro o presente, eu levo na hora. Você vai chegar lá comigo amanhã’”, afirmou Kalil. 

Rejeição quase ‘mela’ negócio

A reunião entre Kalil, Gropen, Ronaldinho, Assis e Sérgio Queiroz (advogado do camisa 10) em Porto Alegre aconteceu em 3 de junho de 2012, um domingo, véspera do anúncio da contratação. À noite, enquanto assistia ao Fantástico, da TV Globo, o então cartola do Atlético se assustou com a rejeição de Ronaldinho pelas torcidas brasileiras. 

“Apareceu que a rejeição da torcida do Atlético era 72% na torcida do Atlético. Todo mundo rejeitava, mas é o caso da raposa e da uva. ‘Não quero aquela uva não’. Não quer porque ela está muito alta para pegar. Foi (uma reprovação) até que menos. A do Flamengo era 100%, a do Fluminense era 90%, a do Grêmio era 100%”, disse Kalil. 

Apesar da “pulga atrás da orelha”, Kalil não desistiu de Ronaldinho e embarcou rumo a BH com o contrato assinado. Apresentado no dia seguinte, o bruxo fez 88 jogos pelo Atlético, marcou 28 gols e teve o título da Libertadores como ápice.