Os membros da torcida organizada Mancha Verde, envolvidos no conflito com a Máfia Azul, irão responder pelos crimes de homicídio, associação criminosa, lesão corporal e incêndio, conforme o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil do Estado de São Paulo. Dezessete pessoas ficaram feridas e uma morreu no confronto que ocorreu durante a madrugada deste domingo (27), na rodovia Fernão Dias, em São Paulo. No entanto, até a manhã desta segunda-feira (28), ninguém havia sido preso.
O caso é investigado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Segundo o documento policial, os envolvidos na morte de José Victor dos Santos Miranda, de 30 anos, integrante da Máfia Azul de Sete Lagoas, ainda responderão pelo "emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso, ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum". O local onde o crime ocorreu foi isolado para o trabalho da perícia.
"A perícia esteve no local e apreendeu rojões, fogos de artifício e barras de ferro e madeiras. O caso foi registrado como homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos na Delegacia de Mairiporã, que apreendeu imagens de monitoramento e solicitou exames de IML às vítimas", informou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, em nota.
Após a coleta dos materiais necessários para a investigação, o trecho da rodovia foi liberado e o trânsito normalizado. Todas as vítimas são integrantes da torcida organizada Máfia Azul. Algumas delas foram socorridas para o Hospital Anjo Gabriel, na cidade de Mairiporã, no interior de São Paulo. As demais foram conduzidas para a delegacia, onde foram ouvidas pela polícia. Ainda conforme o documento, os ônibus em que elas estavam também foram danificados durante o conflito. Um deles foi completamente carbonizado e outro danificado.
O caso
Uma emboscada de integrantes da torcida organizada do Palmeiras Mancha Alviverde - antiga Mancha Verde - contra um ônibus da Máfia Azul, do Cruzeiro, deixou uma pessoa morta e outras 17 feridas na madrugada deste domingo (27 de outubro).
O atentado aconteceu por volta das 5h na altura do km 65 da BR-381, rodovia que é conhecida como Fernão Dias. Os cruzeirenses seguiam em direção a Belo Horizonte na volta do Paraná, após a derrota do Cruzeiro por 3 a 0, para o Athletico, quando os coletivos foram interceptados.
Ataque documentado
A confusão, que envolveu mais de 100 torcedores dos dois times, foi toda documentada por câmeras de celulares, parte deles de integrantes da torcida palmeirense. Nos vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver torcedores com camisas verdes nos rostos e barras de ferro nas mãos espancando os mineiros, muitos deles já desacordados ou implorando pelo fim das agressões.
Um ônibus com cruzeirenses, que retornavam do Paraná, foi interceptado e incendiado por torcedores da Mancha Verde, do Palmeiras, no fim da madrugada deste domingo (27), na altura de Mairiporã (SP). Informações iniciais indicam para pelo menos um morto e 12 feridos no local. pic.twitter.com/sX3pTWNJB1
— O Tempo (@otempo) October 27, 2024
Nos vídeos, também é possível ouvir os autores da emboscada falando "Aqui é a Mancha, p#$%" e "Aqui é a tropa do Moacir", fazendo referência ao presidente da torcida organizada. Imagens também mostram uma verdadeira "chuva" de foguetes, com dezenas de fogos de artifício sendo lançados contra o ônibus da torcida do Cruzeiro, que acabou incendiado.
Vídeo mostra foguetes sendo lançados contra ônibus da Máfia Azul que foi incendiado na BR-381, durante uma emboscada de torcedores da Mancha Verde, organizada do Palmeiras. Um torcedor de 30 anos morreu durante o ataque e pelo menos outros 12 ficaram feridos. pic.twitter.com/5wtXCSdf51
— O Tempo (@otempo) October 27, 2024
Revanche
Nas redes sociais, torcedores dos dois clubes indicam que a emboscada foi uma "revanche", após uma ação semelhante armada pela Máfia Azul também na BR-381, em setembro de 2022, na altura de Carmópolis de Minas, na região Centro-Oeste. Na ocasião, o presidente da torcida rival do Palmeiras foi um dos mais agredidos pelos cruzeirenses.
Pregos na estrada
Indícios colhidos no local do atentado apontam que ele pode ter sido planejado com antecedência pelos membros da Mancha Alviverde. Na rodovia, os policiais encontraram os chamados "miguelitos", dispositivos feitos com pregos entrelaçados que são usados para furar pneus de veículos.
Além dos dispositivos feitos de pregos, normalmente utilizados por criminosos da modalidade conhecida como "Novo Cangaço", com o objetivo de atrasar a ação da polícia, no local da confusão também foram apreendidas bombas caseiras utilizadas pelos palmeirenses no confronto.
Morto era de Sete Lagoas
O torcedor do Cruzeiro que teria sido carbonizado no ônibus foi identificado como José Victor Miranda, de 30 anos, que é da cidade de Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais. A morte foi confirmada a O TEMPO por familiares do homem, que preferiram não dar entrevista por estarem muito abalados.
Nas redes sociais uma prima se despediu do familiar. "Descanse em paz meu primo...Cara, vou sentir saudade demais desse menino", lamentou. O torcedor morto, que se identifica como membro da Máfia Azul Sete Lagoas no seu perfil no Instagram, deixa um filho de 10 anos.
Hospital mobilizado
Segundo as autoridades paulistas, todas as vítimas são torcedores do Cruzeiro, sendo que 15 delas foram levadas ao Pronto-Socorro Anjo Gabriel, em Mairiporã, e outras três encaminhadas ao Hospital de Franco da Rocha. Sete dos 17 feridos sofreram traumatismo craniano e um deles sofreu uma lesão por arma de fogo no abdômen, mas não corre risco de morrer.
O TEMPO entrou em contato com a unidade de saúde que recebeu a maior parte dos feridos na manhã deste domingo, sendo informada por funcionários que toda a equipe seguia mobilizada no atendimento às vítimas e que, por isso, detalhes não poderiam ser divulgados.
Sem presos
Até o momento, nenhum suspeito de envolvimento no crime foi preso. Por nota, a Polícia Civil de São Paulo informou que investiga a briga de torcidas, chamada pela própria instituição policial de "emboscada".
"O boletim de ocorrência está em elaboração pela Delegacia de Mairiporã, que requisitou perícia ao local. Mais informações serão fornecidas ao término do registro", conclui a polícia paulista.
Cruzeiro lamentou morte
O Cruzeiro Esporte Clube lamentou a morte do torcedor do clube por meio de uma nota publicada em suas redes sociais.
"O Cruzeiro lamenta profundamente mais um episódio de violência entre torcedores, desta vez durante a madrugada, na rodovia Fernão Dias, que culminou com a morte de um cruzeirense e vários feridos. Não há mais espaço para violência no futebol, um esporte que une paixões e multidões. Precisamos dar um basta a esses atos criminosos”, escreveu o clube.
Rodovia interditada por "segurança"
Procurada, a Arteris Fernão Dias, concessionária que administra o trecho da rodovia, informou por nota que a rodovia ficou interditada entre 5h14 e 6h30 "para manter a segurança de usuários e colaboradores".