O advogado Gilberto Quintanilha afirmou que ainda não teve acesso oficial ao processo da prisão temporária de Jorge Luís Sampaio, presidente da Mancha Alvi Verde, torcida organizada do Palmeiras, por suposto envolvimento na emboscada à Máfia Azul, do Cruzeiro.

Quintanilha, que representa o presidente da Mancha, disse que teve acesso negado aos processos. Ele relatou que foi informado pela Justiça de que a liberação não será dada por enquanto porque o mandado ainda não foi cumprido.

O advogado afirmou que a defesa está sendo cerceada e citou "ilegalidade". Ele criticou a postura das autoridades. "Tivemos a informação agora de que não vão liberar o meu acesso ao processo uma vez que não foram cumpridos os mandados ainda, isso demonstra claramente o cerceamento de defesa e por esse motivo a defesa não vai se pronunciar enquanto persistir essa ilegalidade. Importante frisar que lamentavelmente a imprensa está tendo acesso a todo o conteúdo do pedido de prisão temporária", disse Gilberto Quintanilha.

À reportagem, Quintanilha disse que pediu a liberação dos processos na última quarta (30/10). Ele esteve na delegacia do Dope (Departamento de operações Policiais Estratégicas), na Barra Funda, em São Paulo, representando seu cliente. A conversa com o delegado Cesar Saad durou cerca de 40 minutos.

O advogado afirmou que ainda não tratou com a polícia sobre uma apresentação de Jorge. Ele aguarda ter acesso ao processo para determinar quais serão os próximos passos da defesa.

Quintanilha está representando o presidente da organizada, enquanto outro advogado compareceu pela Mancha Verde. Os dois ficaram de sentar para alinhas se a defesa será unificada ou se seguirá separada.

Pedido de prisão

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) decretou a prisão temporária por 30 dias do presidente e do vice da Mancha Alvi Verde, além de quatro outros integrantes, pela emboscada contra um ônibus com integrantes da Máfia Azul, organizada do Cruzeiro. O tribunal também autorizou busca e apreensão na sede da organizada e em endereços dos suspeitos.

Os mandados de prisão são para o presidente da organizada, Jorge Luis Sampaio Santos, o vice Felipe Matos dos Santos, conhecido como Fezinho, e outros membros ligados à diretoria: Leandro Gomes dos Santos, Henrique Moreira Lelis, Aurélio Andrade de Lima e Neilo Ferreira e Silva, o Lagartixa. O pedido foi feito pela polícia e endossado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).

O relatório da polícia apontou o presidente da Mancha como o "mentor intelectual" da ação e "principal interessado" no revide por causa de um confronto anterior entre as torcidas ocorrido em 2022. Já Fezinho e Leandro foram identificados como envolvidos na emboscada por meio de gravações. Todos eles foram enquadrados nos crimes de homicídio qualificado, lesão corporal, delito hediondo, incêndio e associação criminosa, além de promover tumulto, praticar ou incitar a violência.

Mancha vetada

A Mancha Alvi Verde está proibida de entrar em estádios de São Paulo. O veto à presença da torcida em jogos foi determinado pelo MP-SP, e a decisão já foi acatada pela FPF (Federação Paulista de Futebol).

Em comunicado, a FPF informou "atender integralmente a recomendação para que seja proibida a entrada, nos estádios de futebol do Estado de São Paulo, de qualquer indumentária e objetos (faixas, bandeiras etc.) que identifiquem os associados da torcida organizada" Mancha Verde.

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também pediu o banimento da Mancha Verde. O órgão acionou a Federação Mineira de Futebol (FMF) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) solicitando a proibição por dois anos.

O incidente que aconteceu no início da manhã de domingo (27) envolveu cerca de 150 torcedores de Palmeiras e Cruzeiro. O caso foi inicialmente registrado na Delegacia de Mairiporã-SP, que apreendeu imagens de monitoramento e solicitou exames de IML às vítimas.

Uma parte dos responsáveis pelas agressões que mataram um homem e feriram outros 17 foi identificada pela Polícia Civil do estado de São Paulo através da emissão de sinais dos celulares dos suspeitos e imagens de câmeras de segurança da rodovia.

A investigação está sob responsabilidade da Drade (Delegacia de Repressão as Delitos de Intolerância Esportiva) para a identificação e responsabilização dos envolvidos. A Polícia Civil qualifica a emboscada como homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos.

A emboscada

A emboscada deixou um morto e 17 feridos na madrugada do domingo (27). Durante a confusão, um ônibus foi incendiado e a rodovia Fernão Dias chegou a ficar interditada no sentido Belo Horizonte.

José Victor Miranda, de 30 anos, morreu anos após sofrer queimaduras e lesões graves provocadas por barras de ferro. Segundo as autoridades, todas as vítimas foram torcedores do Cruzeiro. Eles foram surpreendidos pelos palmeirenses que carregavam artefatos como barras de metal e madeira e atearam fogo no ônibus em que estavam.

As agressões começaram por volta de 5h20 no quilômetro 65 da Fernão Dias, próximo ao túnel de Mairiporã.
Dos 17 feridos e hospitalizados, dois seguem internados no Hospital Estadual de Franco da Rocha e um deles está em estado grave.

Pronunciamento

Na última segunda (28), a Mancha emitiu comunicado e negou qualquer participação na emboscada. A organizada disse que vem sendo "apontada injustamente" de envolvimento no caso, que classificou como "fatídico e lamentável".

A torcida organizada afirmou que não pode ser responsabilizada por "ações isoladas de 50 torcedores". A Mancha afirmou que conta com mais de 45 mil associados e repudiou o ocorrido, ressaltando que é contrária a atos de violência, e também se colocou à disposição das autoridades.

Comunicado

"A Mancha Alvi Verde vem sendo apontada injustamente, através de alguns meios de imprensa e redes sociais, de envolvimento em uma emboscada ocorrida na Rodovia Fernão Dias, próximo ao túnel de Mairiporã, na madrugada deste domingo (27). O incidente resultou tragicamente na morte de um torcedor do Cruzeiro e deixou outros feridos. Lamentamos profundamente mais esse triste acontecimento e manifestamos nossa solidariedade e demonstramos nosso consternamento aos familiares da vítima, repudiando com veemência tais atos de violência.

Queremos desde já deixar claro que a Mancha Alvi Verde não organizou, participou ou incentivou qualquer ação relacionada a esse incidente. Com mais de 45.000 associados, nossa torcida não pode ser responsabilizada por ações isoladas de cerca de 50 torcedores, que desrespeitam os princípios de respeito e paz que promovemos e defendemos.

A Mancha Alvi Verde repudia toda e qualquer forma de violência e reafirma seu comprometimento e compromisso com a segurança e a convivência pacífica entre torcedores. Estamos à disposição das autoridades para colaborar plenamente com as investigações, auxiliando na identificação e punição dos responsáveis por mais esse fatídico e lamentável episódio ocorrido na madrugada desse domingo."

(Folhapress)