*Enviado Especial a Assunção (Paraguai)

Oito de dezembro de 2019. A derrota de 2 a 0 para o Palmeiras em pleno Mineirão decretou o primeiro rebaixamento da história do Cruzeiro, para desespero dos torcedores celestes. Vinte e três de novembro de 2024. O revés de 3 a 1 diante do Racing-ARG, em Assunção, no Paraguai, sepultou o sonho do título inédito da Copa Sul-Americana.

Mas, desta vez, a China Azul transformou as lágrimas que ameaçavam escorrer nos rostos pintados de azul e branco em força e em um sentimento de superação e de página virada. Um sentimento de uma nação que vê o time do coração voltar a ser respeitado no cenário nacional e internacional do futebol após anos difíceis.

Os milhares de torcedores da Raposa que invadiram a capital paraguaia retornaram chateados por não trazer na bagagem o troféu, mas com a certeza de dever cumprido e com boas expectativas para o futuro azul. Depois de amargar três anos na Série B do Campeonato Brasileiro, o time celeste voltou a uma final internacional após 15 anos – a última vez havia sido na Copa Libertadores de 2009, quando perdeu para o Estudiantes-ARG. É justamente este orgulho de ver o time renascendo que moveu boa parte da China Azul, que não mediu esforços para apoiar a equipe do coração no estádio Nueva Olla, no último sábado no Paraguai.

“É um ressurgimento. É você ter vivido o fundo do posso e agora ver uma luz no fim do túnel. O Cruzeiro passou por todos os problemas extracampo possíveis e foi parar até nas páginas policiais dos jornais. Chegar a uma final deste porte mostra que o clube está sendo repaginado, consolidado e com poder. É uma sensação de voltar ao lugar de onde você não deveria ter saído”, celebrou o advogado Bruno Costa Almeida, 30, morador de Belo Horizonte. “Independentemente do título, a gente vê que o trabalho está sendo feito. Não é só dinheiro. É gestão, é cuidado”, disse o empresário Pedro Henrique Nascimento, 21, também de BH. “Foi muito bom acompanhar esta final, principalmente depois de o clube ter quase acabado nos últimos anos, principalmente depois de ver diretorias passadas roubando tanto”, completou.

Efeito Pedrinho

A empolgação com a presença do empresário Pedro Lourenço, que comprou a SAF de Ronaldo no início do ano, também é grande. "O Ronaldo começou, e o Pedrinho conseguiu completar e resgatar aquela paixão e aquele sentimento que o cruzeirense tem. Depois de ficar tantos anos fora do cenário nacional o Cruzeiro voltou a ser destaque nessas copas", disse o administrador Pedro Abreu, 34. "Vejo um futuro melhor ainda para o Cruzeiro. Se o Gabigol não vier, vai vir um jogador muito grande. O Pedrinho já confirmou", completou o pequeno torcedor celeste Heitor Celestino Neves Brito, de apenas dez anos, que viajou com o pai. 

A pedagoga Lídia Bezerra comprovou durante a campanha da Sul-Americana que a saúde vai muito bem após um grande susto. "Tive arritmia cardíaca. Operei e, ainda em recuperação, fui ver um clássico contra o Atlético sem ninguém saber. Mas o teste mesmo foi nos pênaltis contra o Boca Juniors. Ali eu vi que o coração está bom mesmo", disse.

A assistente escolar Gisleide Valadares, 41, resumiu bem o sentimento ao ver o Cruzeiro recuperando o prestígio. "Ser Cruzeiro é ser doente, ser maluca, ser Cruzeiro é minha vida, é ser feliz, muitas alegrias"