A determinação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a realização da partida entre Cruzeiro x Palmeiras com portões fechados, nesta quarta (4/12), no Mineirão, não foi bem recebida pelo autoridades mineiras. Vice-governador do estado, professor Mateus Simões se mostrou 'surpreso' com a medida e subiu o tom contra a 'incoerência' da entidade, que, segundo ele ressaltou, em vários episódios semelhantes já adotou a prática de permitir apenas a torcida do clube mandante. Críticas também foram direcionadas à direção do clube paulista.

"A gente recebe (a decisão) no governo com muita surpresa, especialmente a manifestação da CBF e do Palmeiras. Desde os incidentes no jogo do Atlético, na Arena (MRV), a gente vem avisando que providências teriam de ser tomadas para garantir a segurança de quem frequenta os times", iniciou Mateus Simões.

O vice-governador garantiu não ter dúvidas sobre as condições de segurança no Mineirão e destacou que o foco do debate deveria ser outro: a discussão sobre a existência das torcidas organizadas no futebol brasileiro.

"Não temos nenhuma dúvida sobre as condições de segurança do Mineirão e a nossa polícia é absolutamente capaz de garantir a segurança dentro do estádio, mas é importante entender que não há nenhuma forma de se garantir a segurança de cada uma das pessoas que circulam na rua. A presença de palmeirenses 'avulsos' em Belo Horizonte vai representar um risco para eles mesmos, considerando a atuação das torcidas organizadas ao longo dos últimos tempos. E aí eu volto a dizer, está na hora de a gente repensar a própria existência das torcidas organizadas no Brasil se é esse tipo de situação que nós vamos naturalizar", questionou Mateus Simões.

O vice-governador se refere aos vários episódios de violência entre integrantes de Mancha Verde (Palmeiras) e Máfia Azul (Cruzeiro), sendo que o último deles resultou na morte de um torcedor após o ônibus que levava os cruzeirenses ter sido alvo de uma emboscada na estrada.

"O que nós estamos recomendando? Especialmente em virtude da morte daquele cruzeirense a pouco mais de um mês atrás no estado de São Paulo, é que a gente tivesse torcida única dentro do estado. Torcida única que já aconteceu em vários momentos por ordem da própria CBF e em virtude do comportamento das organizadas. Nós temos inúmeros jogos no passado em que a decisão da CBF foi na direção da torcida única", relembrou o governante.

Na visão de Mateus Simões, o Cruzeiro estaria sendo prejudicado com a decisão da CBF. E ele também lamentou a postura do Palmeiras nesta questão. "Nossa recomendação, enquanto poder público, é de que não tem porque prejudicar os torcedores do Cruzeiro, o futebol, fechando os portões do estádio, sendo que na verdade o nosso problema é especificamente com relação às torcidas organizadas. (Também) Não admito o tom que está sendo utilizado pelo Palmeiras dizendo que nós não garantimos a segurança no estádio. Volto a dizer, não estamos discutindo sobre a segurança do estádio, mas, por outro lado, é também inacreditável que a CBF pretenda ignorar o assassinato de um torcedor numa estrada".

Na justiça

O governo de Minas já judicializou a questão, solicitando que a partida seja disputada com torcida única. E Mateus Simões pede celeridade para a decisão.  "Espero que a gente tenha tranquilidade para conduzir isso, o Estado está judicializando a questão para que os precedentes da própria CBF sejam atendidos e portanto a gente tenha torcida única dentro do estado e não portões fechados. Mas volto a insistir que nós precisamos repensar a própria existência das torcidas organizadas e como vamos tratar isso ao longo do tempo, porque estamos naturalizando uma situação de violência com riscos consideráveis à população". 

O político entende que a decisão seria a mais justa. "Espero que haja tranquilidade das autoridades judiciais nessa análise e que a CBF possa repensar a sua decisão, porque dois pesos e duas medidas. Não é que a gente precisa de dar uma resposta para a Mancha Verde. A resposta, aparentemente, não é a mesma que a CBF já deu em outros momentos contra outras torcidas organizadas", finalizou.