Quem viu a euforia da torcida do Cruzeiro na primeira quinzena de janeiro com as contratações de Gabigol, Dudu, Fabrício Bruno, dentre outros reforços, não imagina que, pouco mais de um mês à frente, o clube voltaria à uma crise, como na reta final da temporada de 2024. A eliminação para o América, na semifinal do Campeonato Mineiro, neste sábado, não só tira a Raposa da final do estadual - torneio que o clube não ganha desde 2019 -, como evidencia os erros da diretoria estrelada.
O Cruzeiro começou a temporada de 2025, apesar da grande expectativa pelo rendimento dos reforços, com uma interrogação: até onde iria o trabalho de Fernando Diniz? O treinador chegou à Toca da Raposa em setembro, mas colecionou, além de resultados negativos, um desgaste com a torcida e com a própria cúpula celeste. No final do Campeonato Brasileiro, inclusive, Diniz criticou a diretoria em função das notícias de que seria demitido após a partida contra o Juventude.
A saída, que parecia certa em dezembro, foi reconsiderada, o treinador permaneceu, participou da montagem do elenco, mas acabou desligado, no dia 27 de janeiro, com apenas três jogos oficiais no ano. Ao optar pela manutenção de Diniz, substituído por Leonardo Jardim, Alexandre Mattos, Paulo Pelaipe e Pedro Lourenço não só assinaram um desgaste maior na relação com o técnico e torcida, como também jogaram ao vento o período de pré-temporada que poderia ter sido melhor aproveitado por outro treinador.
Fato é que, agora, com a eliminação do Cruzeiro da final do Mineiro, Leonardo Jardim fará uma preparação forçada. A Raposa só voltará a campo, em jogos oficiais, no final de março, e o português terá cinco semanas para trabalhar a evolução da equipe. Neste meio tempo, Jardim aguarda por reforços, já que bastaram três jogos à frente do Cruzeiro para avaliar negativamente o plantel montado por Mattos e Diniz.
“Eu tenho o hábito, durante a minha vida, de tudo que penso sobre a equipe, eu canalizo para as pessoas responsáveis. Eu não mando mensagens pela mídia. O clube sabe qual é a minha opinião sobre o plantel”, disse na coletiva de imprensa o português. Mas a desconfiança do torcedor é se, de fato, a diretoria sabe as carências do elenco. Afinal, desde que a SAF foi comprada por Pedro Lourenço, em abril do ano passado, foram centenas de milhões gastos em jogadores, duas trocas de treinador, e os problemas permanecem.
Fato é que alguns jogadores iniciaram o ano mal. Cássio não vive sua melhor fase, apesar da boa partida contra o América. Romero, sobrecarregado por ser o único homem de marcação do meio, tem falhado. Nas laterais, William não conseguiu voltar à boa forma de 2024, enquanto Marlon acumula atuações ruins que o levaram ao banco de reservas, sendo substituído por Kaiki na equipe titular. Gabriel Barbosa, o principal reforço para o ano, também não se encontrou em campo.
Os cinco gols marcados no estadual, a maioria de pênalti, não refletem as dificuldades do camisa 9 em se encontrar em campo. Com uma criação centralizada principalmente em Dudu, pela esquerda, a bola mal chegou para o atacante em condições de finalizar - e quando houve oportunidades, ele desperdiçou.
Não dá para deixar de citar Matheus Pereira. O camisa 10 e melhor jogador do elenco dava mostras, desde o início do ano, que o foco estava longe da Toca da Raposa. O estopim foi a declaração, após a derrota no clássico para o Atlético, quando disse que queria deixar o Cruzeiro para o futebol europeu no final de 2024. A oportunidade veio, mas em fevereiro, com a possibilidade de se transferir para a Rússia.
Mineiros e russos se acertaram, Pereira ‘arrumou as malas’, porém, de última hora, decidiu ficar - mesmo que por ora. Certo é que não há mais margem de erro para o departamento de futebol comandado por Alexandre Mattos. O futebol apresentado pelo Cruzeiro joga contra o investimento feito e as recorrentes trocas de técnico, falhas na montagem do elenco e os ruídos que vazam dos muros da Toca da Raposa deixam claro que o trabalho, até então, tem falhas que precisam de um conserto definitivo, e não de mais soluções paliativas.