Em uma entrevista coletiva no fim da tarde desta quinta-feira, Flávio Boson, superintendente jurídico do Cruzeiro, explicitou, até mesmo por meio de demonstrativos, como seu e-mail pessoal ligado ao cadastro da Fifa, o que aconteceu em relação ao caso Willian Bigode e as alegações do Zorya, que contesta a cessão de crédito ao grupo Alik, da Estônia, da dívida relativa ao atleta.
Apesar das contestações do clube, o Cruzeiro segue punido pela Fifa com o impedimento do registro de atletas, e não possui previsão para que essa situação seja revertida. O jurídico do time celeste já prepara um recurso para ser apresentado à Corte Arbitral do Esporte caso, porventura, a entidade alongue o processo de análise das contestações ou decida pela não homologação do acordo que foi celebrado pelo clube.
"Não existe uma resposta (sobre o prazo). E a Fifa funcionando como juiz possui o prazo que achar conveniente para decidir a questão, que o clube ucraniano segue renegando o acordo com argumentos levianos, absurdos, A Fifa não homologou o acordo, e aquela petição (que foi apresentada nessa quarta-feira), é um pedido de reconsideração, em que falamos com a Fifa 'olhe bem o que você está chancelando (em termos de punição), tudo aconteceu por seu canal oficial, está tudo seguindo os procedimentos que são recorrentes, a cessão de crédito é um instrumento legal nas leis suíças e também brasileiras", afirma Flávio Boson.
"A manutenção da punição petrifica uma injustiça, qualquer pessoa que eu conversei nos últimos dias se inconforma, se indigna com essa decisão. O que eu acharia justo é 'vamos tirar a suspensão do Cruzeiro e vamos abrir um novo procedimento, até para que o Zorya prove, diga que aquilo (documento) é falso. A Fifa não tem um prazo para tanto, se isso se alongar além do razoável, o doutor Breno Tannuri já está com um recurso destinado à Corte Arbitral do Esporte, inclusive com um pedido de liminar, para apresentar. Esse processo está em base de minutas entre hoje e amanhã. Não vamos descansar, estamos usando de todos os nossos canais, todos os nossos representantes, rogando que trabalhem e apresentem a pauta do Cruzeiro", acrescentou Boson.
"Infelizmente estamos punidos até que a Fifa reconsidere, ou se demorar demais a gente consiga uma medida de urgência, recurso esse que está sendo minutado. Se existe um problema, penso que o mais plausível era suspender a suspensão, e permitir que o Cruzeiro siga a sua vida até a Fifa decidir quem é o dono do crédito. Se é o Alik ou Zorya ou qualquer outra parte", reforçou o superintendente jurídico do Cruzeiro.
Apesar disso, a esperança de Boson é de uma resposta em torno de 15 dias. Ele se baseia em decisões recentes da entidade sobre os casos.
"A gente não pode esperar muito, porque até para a imagem do Cruzeiro é muito ruim que isso perdure por um prazo que não seja tolerável. Espero que venha uma decisão logo. A gente apresentou a petição de acordo no dia 20, e tivemos, duas semanas depois, uma decisão da Fifa. Eu acredito que num aspecto menor, a gente pode esperar que a Fifa tome uma decisão em um prazo igual", espera o advogado.
QUEM REPRESENTA O ZORYA?
O Zorya, time da Ucrânia, alega que a autorização que está presente nos documentos informados pelo Cruzeiro é falsa. A Raposa, por sua vez, contesta. O representante legal do time ucraniano no Brasil é o advogado Bichara Neto, que em relação à situação apresentada pelo Cruzeiro afirmou que não poderia se manifestar uma vez que não fez parte da negociação. O Cruzeiro entende que a participação do representante no acordo seria irrelevante, partindo do pressuposto da autorização assinada pelo Zorya.
Flávio Boson apontou que se precaveu de qualquer imbróglio jurídico ao exigir do clube ucraniano uma autorização da cessão de crédito, no caso o pagamento, a um terceiro. A autorização chegou ao clube celeste no dia 19 de agosto, com os e-mails cadastrados no sistema da Fifa. e com a autorização para que o advogado Marcelo Amoretty fosse o representante do Alik, grupo responsável por receber o crédito devido pelo Cruzeiro.
"O Cruzeiro foi procurado, algum tempo antes do prazo de pagamento da segunda,e terceira dívida referente ao Willian, por um representante brasileiro da Alik Management, que teria recebido o crédito pelo Zorya. Essa pessoa é o doutor Marcelo Amoretty, filho do ex-presidente do Internacional. Passamos a negociar com eles. Ele (Amoretty) disse que havia tido a cessão de crédito, que seria um desconto e um parcelamento do valor devido. Falei 'pefeitamente' e estabelecemos qual seria o próximo passo: preciso de um comunicado oficial do Zorya dizendo que esse crédito foi cedido ao Alik. Isso é algo extremamente natural (cessão de crédito), é admitido pela lei suíça, como é regulamento pela lei brasileira. Pedi que fosse enviado pelos canais oficiais do Zorya essa cessão, e isso foi feito no dia 19 de agosto deste ano", apresentou Boson.
"E isso não é qualquer email que alguém pode enviar, não é um email particular, é um email cadastrado no sistema Fifa -TMS. Eu demorei um mês para cadastrar meu email nesses sitema da Fifa. Esse email veio o escritório do doutor Bichara (responsável por representar o Zorya no Brasil). Ele (Bichara), no dia anterior, recebeu o email do Zorya. O que importa é o email do remetente. A carta enviada pelo Zorya no dia 19 confirma as instruções do Alik e portanto requer que o pagamento fosse feito a eles. Isso tudo está copiado à presidência do Cruzeiro, o doutro Bichara, e um email local ucraniano", certificou-se o representante jurídico do Cruzeiro.
Apesar disso, Flávio Boson declarou que não entrou em contato com Bichara Neto nos últimos meses, uma vez que entendeu que o Zorya, por meios legais, repassou essa autonomia ao Alik.
"Eu não falei com o doutor Bichara, ele também não me procurou. As negociações foram feitas com o representante do Alik. A exigência de uma assinatura do Zorya foi uma exigência minha, queria que esse pagamento fosse feito com segurança. Não queria que essas 'piadinhas' acontecessem, de que o nosso presidente pagou para uma pessoa errada. Ele (Bichara) estava copiado no email, talavez tenha deduzido que ele tinha ciência da informação. Mas não sei se ele sabia do acordo. O doutor Bichara pode ter conversado isso diretamente com o Breno Tannuri (advogado do Cruzeiro nas causas da Fifa). É uma situação que é praxe entre eles", justifica o diretor celeste.
CRUZEIRO QUER RESPOSTAS DO ZORYA
Com a punição estabelecida ao Cruzeiro, Flávio Boson reforçou que o Cruzeiro quer explicações por parte do time ucraniano quanto aos procedimentos que foram adotados e certificados também por eles. Quando da primeira dívida quitada com o Zorya, logo quando Sérgio Santos Rodrigues assumiu, Boson revelou que o clube promoveu a mesma prática de repassar a cessão de crédito a terceiros, mas o Cruzeiro, para evitar qualquer punição pois já estava em cima do prazo, completou a transferência diretamente para o clube ucraniano.
Boson ainda questiona as alegações do Zorya, apresentando como prova justamente o e-mail cadastrado pelo clube no sistema da Fifa. A possibilidade de fraude por meio dessa ferramenta seria praticamente nula.
"Eu até me pergunto, não concordo, o carimbo pode ser falisifcado? Pode. Acho que pode, agora o e-mail pode ser hackeado? Eu duvido. O mesmo e-mail que o Zorya envia ao Cruzeiro é o endereo que o clube ucraniano envia à Fifa dizendo que os documentos teriam sido falsificados. É o email cadastrado no sistema Fifa-TMS. O Cruzeiro se resguardou de todas as formas, o Cruzeiro não pagou até agora ninguém, confiou no email enviado pelo Zorya, e está à disposição. O Cruzeiro confiiou nos advogados envolvidos, o Breno Tannuri, o Marcelo Amoretty, e tem plena convição de que todos os processos foram feitos legalmente. Até um possível arrependimento do clube ucraniano não parece ser eficaz, são os esclarecimentos iniciais, de um triste episódio. A imagem do Cruzeiro está de fato manchada, tudo que envolve o Cruzeiro fica parecendo que o clube está errado. Uma das medidas dessa nova diretoria é transparência e esclarecimentos. Por isso apresentamos todos os documentos, inclusive meu e-mail pessoal", declarou Boson.
A pena desportiva é extremamente prejudicial ao Cruzeiro, que está no mercado na tentativa de contratar mais reforços para o elenco. O clube negocia, por exemplo, com o Palmeiras, o retorno de Angulo, mas um novo acordo só poderá ser celebrado com o atleta a partir do momento que a punição ao Cruzeiro for reconsiderada pela Fifa.
"Os juízes da Fifa possuem aquilo que a gente chama de prazo impróprio para decidir, mas ninguém exige isso. Ninguém chega até eles e fala, 'ó, vocês estão demorando demais para julgar isso', ninguém faz isso. A gente espera com razoabilidade, aí você faz o que é natural, recorre, algo que o clube porventura fará se necessário for, espero que não seja", concluiu o superintendente jurídico do Cruzeiro.