Investigação

Polícia Civil identifica rombo de R$ 10 milhões nas contas do Cruzeiro

Ex-dirigentes do clube e empresários foram indiciados pelos crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa

Por Josias Pereira
Publicado em 11 de agosto de 2020 | 17:11
 
 
 
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A Polícia Civil de Minas Gerais convocou uma coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira para dar esclarecimentos sobre a conclusão do inquérito que apura as denúncias contra três ex-dirigentes do Cruzeiro e quatro empresários. A investigação identificou um rombo de R$ 8,2 milhões nas contas do Cruzeiro, que corrigidos chegam a R$ 10 milhões. Os documentos já foram entregues ao Ministério Público de Minas Gerais, que irá decidir nos próximos dias se oferece ou não denúncia contra os suspeitos. 

Os ex-dirigentes do Cruzeiro e empresários foram indiciados pelos crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa. A pena dos envolvidos variam de 1 a 4 anos, 3 a 10 anos e 1 a 5 anos. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados pelas autoridades policiais devido à legislação, mas são conhecidos: o ex-presidente Wagner Pires de Sá; o ex-vice de futebol Itair Machado e Sérgio Nonato, ex-diretor geral do clube estrelado, e os empresários Carlinhos Sabiá (que possui envolvimento em comissão relativa à venda do lateral-direito Mayke sem possuir ligação com o atleta), João Ramalho, conhecido como 'João da Umbro', Wagner Cruz (os dois que são citados pelo Cruzeiro na renovação do goleiro Fábio, sendo que Wagner Cruz não possuía relação com o camisa 1 celeste) e Cristiano Richard (esse último que firmou um contrato de empréstimo de R$ 2 milhões com o clube, sendo que a garantia de pagamento foi a cessão de parte de direitos

As conclusões da Polícia Civil foram divididas em seis tópicos, que envolveram dentre outras situações a renovação de contrato do goleiro Fábio, o vínculo do volante Bruno Silva, a transferência do lateral-direito Mayke, comissões e até a compra de um apartamento para um ex-dirigente. As apurações apresentadas por Agnelo de Abreu, chefe do departamento de combate à corrupção e a fraudes; Domiciano Monteiro, delegado da divisão especializada de combate à corrupção, investigação à fraude e crime contra as ordens tributárias; e Gustavo Xavier, da segunda delegacia especializada na investigação de fraudes.

A Polícia Civil explicou que não existiu um motivo jurídico para uma representação de prisão contra os indiciadas neste momento, uma vez que os investigados colaboraram, sempre, na medida do possível, fornecendo documentações, e comparecendo quando foram intimados. A Polícia Civil esclareceu que as investigações não vão parar por aí e outras situações deverão ser apuradas pelas autoridades relacionadas à antiga administração.

"A gente espera que não fique apenas com esse relatório final, mas que seja o início porque, com certeza, vai haver outros desdobramentos", disse Domiciano Monteiro, delegado da Polícia Civil. 

A 'Operação Primeiro Tempo', realizada em junho do ano passado, apreendeu computadores, documentos, HDs e a análise de mais de 50 mil e-mails, documentos que ainda estão na perícia sendo analisados. 

Outro lado

A reportagem buscou contato com os indiciados. Wagner Pires e Sérgio Nonato não atenderam as ligações. Itair Machado não retornou os contatos por mensagem de texto, mesmo após visualizar o conteúdo. João da Umbro e Wagner Cruz também não responderam aos contatos telefônicos. Carlinhos Sabiá, por sua vez, manifestou-se e disse que vai procurar primeiro a orientação de seu advogado antes de qualquer pronunciamento à imprensa. A reportagem não conseguiu falar com Cristiano Richard. 

As apurações da Polícia 

- O primeiro tópico se refere ao empresário Cristiano Richard. Ele firmou um empréstimo de R$ 2 milhões ao clube, e recebeu como garantia parte dos direitos de 10 jogadores, dentre eles o menor de idade Estêvão Willian, o 'Messinho'. O empresário ainda teria feito um pagamento de R$ 3,7 milhões a uma construtora para pagar um apartamento em nome de um ex-dirigente do Cruzeiro. Um outro ex-cartola do clube, que teve seus vencimentos aumentados, teria sido responsável por apresentar Cristiano Richard à gestão celeste. 

- O segundo tópico se refere à participação do empresário Carlinhos Sabiá na negociação envolvendo a venda do lateral-direito Mayke ao Palmerias. Sem ter nenhum envolvimento com o atleta, o agente recebeu uma comissão de R$ 800 mil. Posteriormente, o empresário repassou parte das cifras para que um ex-dirigente pagasse uma dívida com um ex-treinador do Cruzeiro. 

- O terceiro tópico se deve à transferência do volante Bruno Silva ao Cruzeiro. Carlinhos Sabiá é o responsável pela gestão da carreira do atleta, mas as autoridades policiais não divulgaram o nome do empresário envolvido no imbróglio. Esse agente não identificado teria recebido o valor de comissão e repassado parte para um ex-dirigente do Cruzeiro sanar uma dívida com um profissional liberal. 

“Na contratação do jogador Bruno Silva, um empresário recebeu valores de comissão acima do valor de mercado. Então este empresário repassa valores do que ele recebeu para pagar dívidas de um ex-dirigente do Cruzeiro", diz o delegado Domiciano Monteiro. 

- O quarto tópico é sobre a renovação contratual do goleiro Fábio. “Na renovação do contrato do goleiro Fábio, o Cruzeiro pagou comissão a dois empresários. Ocorre que um dos empresários nunca representou interesses do goleiro Fábio. Esse mesmo empresário repassa cerca de R$ 750 mil a um dirigente do Cruzeiro”, explicou Domiciano Monteiro. O camisa 1 celeste chegou a prestar depoimento na Polícia Civil e negou veemententemente os fatos apresentados pelo empresário indiciado. 

- O quinto tópico se refere a pagamentos de forma retroativa a um ex-dirigente do clube por serviços que o ex-presidente Wagner Pires de Sá afirma que não foram contratados. O nome do dirigente em questão, como aconteceu nas outras explanações, não foi divulgado. 

- O sexto e o último tópico dá conta da contratação de serviços de advogados que legislaram em causas pessoais dos investigados. A Polícia, nesse caso, deixou claro que não investiga a conduta dos advogados, mas sim da prática efetuada pelos indiciados. 

- Sobre os indícios de 'rachadinhas' entre os ex-dirigentes e empresários, a Polícia Civil declarou que não encontrou nenhuma irregularidade relacionada a atletas do clube, excluindo assim a possibilidade de envolvimento de jogadores ou má fé dos mesmos. 

(última atualização às 21h17)

Assista à coletiva da Polícia Civil sobre as supostas irregularidades no Cruzeiro:

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