Entenda

Tudo sobre o contrato entre Cruzeiro, Mineirão e governo de Minas

Cruzeiro pede governo de Minas para intermediar relações com a Minas Arena para voltar a jogar no Mineirão; mas imbróglio é antigo. Relembre

Por Dimara Oliveira e Paula Coura
Publicado em 05 de abril de 2023 | 11:57
 
 
 
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O impasse entre Minas Arena e Cruzeiro ainda vai render mais alguns capítulos. Ainda não há um acordo para que o time de Ronaldo volte a mandar seus jogos no Mineirão. Na terça-feira (4), durante audiência pública na ALMG, mais uma vez o assunto foi debatido, com cada uma das partes defendendo seus interesses. Mas, o que ainda não ficou tão claro para o torcedor é: por que a concessionária que administra o estádio, o governo de Minas e o clube estrelado ainda não se acertaram?

Para entender o cabo de guerra é preciso conhecer primeiro o acordo firmado entre o governo de Minas e a Minas Arena. O contrato de PPP (Parceria Público-Privado) fechado entre as partes em 2010, previa melhorar as condições de infraestrutura do estádio para o usuário, incluindo revitalização de toda a esplanada. 

Conforme plano de negócios, foi gasto cerca de R$ 677 milhões nas obras (R$ 1,4 bilhão atualizados nos dias atuais). Além disso, era prevista uma contraprestação a ser paga pelo Estado para a concessionária que o administra: 120 parcelas de aproximadamente R$ 6 milhões (pagas até dezembro de 2022), mais uma parcela complementar, condicionada ao desempenho da Minas Arena, que seria paga até fim do contrato. Média histórica dessa prestação é de cerca de R$ 3 milhões.

E o futebol?

O contrato prevê que o futebol tenha assegurado seu lugar de destaque, com a garantia de 66 datas para jogos durante o calendário anual. É sobre essa prerrogativa que o Cruzeiro e outros clubes pedem ao Estado auxílio para intermediar as negociações junto a Minas Arena, visto que algumas datas pretendidas por eles estavam ‘fechadas’ para shows. 

No levantamento do próprio governo de Minas, de dezembro de 2012 até março de 2023, foram realizadas 456 partidas de futebol no Mineirão, média de 46 por ano, bem abaixo das 66 previstas. O Estado, então, decidiu instaurar comitê para definir o calendário do futebol no estádio para este 2023, e a primeira reunião será no dia 20 de abril. O encontro terá representantes dos clubes, da Minas Arena, do governo e também representantes da sociedade civil. 

Como foi o contrato entre Minas Arena e Cruzeiro?

Em 2013, foi firmado um contrato de ‘fidelidade’ entre Cruzeiro e Minas Arena, assinado pelo então presidente da Raposa, Gilvan de Pinho Tavares. Esse acordo não previa exploração comercial à época de áreas como bares e restaurantes. Quando assinou os termos, Gilvan chegou inclusive a dizer que “não tinha vocação para vender 'empadinha e picolé'”

O acordo previa que o Cruzeiro pagasse um valor mensal para a Minas Arena por essa exclusividade de jogos. E a situação entre as partes se estremeceu ainda em 2013, justamente quando o Atlético mandou seus jogos no estádio pela Copa Libertadores.

No contrato, conforme apurou O TEMPO Sports, o Cruzeiro poderia analisar qualquer outro acerto de times com a Minas Arena que poderia ser melhor do que o que ele tinha assinado. E decidir se aceitava ou não as condições impostas, já que pagava um valor fixo mensal pela 'exclusividade'.

Quando o Atlético mandou seus jogos no Mineirão naquele 2023 não pagou nenhuma taxa extra, o que revoltou parte de diretoria celeste na ocasião. Ainda assim, o Cruzeiro não recorreu judicialmente sobre o caso, apenas deixando de pagar esse valor fixo firmado em contrato. A concessionária ainda cobra do clube esses valores em atraso. Estima-se que a dívida do Cruzeiro com a Minas Arena gire em torno de R$ 30 milhões, em valores atualizados. 

Manobra

O Atlético conseguiu jogar a final da Libertadores de 2013 diante do Olimpia-PAR, no Mineirão, graças a uma concessão do governo de Minas, que tem direito a quatro datas anuais no estádio, conforme contrato.

Sergio Santos Rodrigues, atual presidente da Associação Cruzeiro, lembrou detalhes desse primeiro contrato entre Cruzeiro e Minas Arena durante audiência pública na terça (4). 

“Infelizmente, um contrato não prevaleceu, o Samuel sabe bem, participei da discussão um pouco como jurídico e não consegui fazer minha opinião prevalecer na época, mas, para mim, o Cruzeiro perdeu um grande contrato daquela época, em 2013. E em 2013 a lógica era contrária: tinha-se que pagar o Cruzeiro para ter show. A prioridade era o jogo. E é isso que a gente tem que restabelecer, e isso é possível fazer (...) Era 30% da receita de bares e restaurantes naquela época”, completou. 

O Cruzeiro voltará a jogar no Mineirão?

O Cruzeiro já encaminhou ao menos duas novas propostas para reestabelecer vínculo com a Minas Arena e selar um novo contrato. Mas as partes ainda não chegaram a um acordo. 

O clube de Ronaldo quer maior participação nas receitas do estádio em dias de jogos, como venda de bebidas, comidas e camarotes, como estava previsto numa primeira tratativa entre Minas Arena e clube. A concessionária, porém, não abre mão disso, e só ‘libera’ as 54 mil cadeiras para venda do clube. 

Em sua fala, durante audiência, Gabriel Lima reforçou o desejo do clube em participar mais ativamente na operação do estádio em dia de jogos da Raposa. “As propostas feitas pela Minas Arena apresentam condições piores das que tivemos no ano passado, quando já eram inaceitáveis, e não respeitam o valor do Cruzeiro e da sua torcida. Nenhuma participação na receita comercial, nenhuma participação em venda de comida e bebida, nenhuma participação em venda de camarote. Não é justo e não tem quem me convença do contrário”, disse Gabriel Lima na audiência. 

A Minas Arena também se pronunciou. "A Minas Arena se remunera através dos camarotes e das áreas VIPs e o clube também fica com receita de estacionamento. Essa é a última proposta que nós colocamos também para o Cruzeiro, caso ele queira jogar no Mineirão", disse Samuel Lloyd, diretor comercial da Minas Arena, em coletiva. 

Cruzeiro x Náutico

Segundo Lloyd, a data para o jogo entre Cruzeiro e Náutico, no dia 25 de abril, pela Copa do Brasil, estaria disponível. A diretoria da Raposa já teria feito uma contraproposta, pedindo participação mais ativa na operação do estádio, mas ainda não teria tido uma resposta. Segundo ele, a proposta inicial do Cruzeiro é que ele tivesse uma porcentagem da receita bruta de tudo que a Minas Arena realiza, inclusive jogos do Atlético.

"Essa foi a primeira proposta colocada pelo Cruzeiro. Aí a coisa foi evoluindo um pouco mais, a última proposta, além das questões de jogo, que o Cruzeiro vendesse todos os camarotes, e áreas VIPs, que tivesse a instalação de uma 'megastore' dentro do Mineirão e que tivesse remuneração em cima de alimentos e bebidas e todas as receitas do estádio", explicou Lloyd. 

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