Não é difícil ver, pelas ruas do Brasil afora, crianças e adolescentes brincando de bola, e até mesmo os mais crescidos, na “pelada” do fim de semana. No país que tem 301 campos oficiais, sendo o maior deles o Maracanã, jogar futebol, que parece uma atividade simples e corriqueira, era uma prática que ficava apenas nos sonhos do jovem Ícaro Felipe, de 19 anos. Até que ele conheceu o Power Soccer.
A modalidade surgiu nos anos 1970, na Europa, e é disputada em quadra, com quatro jogadores por equipe, em dois tempos de 20 minutos, com cinco minutos de intervalo. Todos jogam em cadeiras de rodas elétricas, mas que precisam seguir regras similares às dos gramados: faltas e cartões são aplicados.
“Eu não tive muita dificuldade para aprender a jogar Power Soccer, porque as regras são muito parecidas com as do futebol. Eu sempre quis jogar futebol, sempre sonhei em jogar, mas nunca imaginei que isso fosse possível para mim”, conta Ícaro, diagnosticado com atrofia muscular espinhal tipo 2.
O companheiro de time, Wallace Pereira, também de 19 anos, tem planos ainda mais ousados. “Meu sonho é jogar uma Copa do Mundo de Power Soccer e, quem sabe, participar das Paralimpíadas”, contou o adolescente, diagnosticado com a mesma condição.
Embora o Power Soccer ainda não faça parte do programa oficial dos Jogos Paralímpicos, a modalidade já é reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), e a expectativa é que, em breve, o esporte seja incluído nas Paralimpíadas.
Representar o Brasil é um sonho comum entre os jovens atletas que participam do Circuito da Inclusão, projeto que atende cerca de 350 jovens de baixa renda em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Fundada em 2017 por Débora Batista, a iniciativa tem como missão proporcionar esporte, lazer e desenvolvimento pessoal para pessoas com deficiência.
“O esporte tem o poder de mudar vidas, e o Power Soccer é um exemplo claro disso. Ver nossos atletas competindo em uma Paralimpíada seria um momento de grande orgulho para todos nós”, afirma Débora.
Ana Paula Mezetti, fisioterapeuta do Circuito da Inclusão, destaca a importância da atividade esportiva na vida desses jovens. “O esporte oferece uma chance ímpar de socialização, melhora da autoestima e desenvolvimento de habilidades sociais, como trabalho em equipe e liderança. Além disso, muitos atletas que chegam inseguros e com baixa autoestima acabam se transformando em pessoas mais confiantes e resilientes”, afirma.
Desafios e falta de investimento
Embora o time de Power Soccer de Contagem tenha alcançado conquistas importantes desde sua formação, a trajetória dos atletas é marcada por superação diante de inúmeros desafios. Um dos principais obstáculos enfrentados pelo projeto é a escassez de recursos financeiros e de patrocínios via Lei de Incentivo ao Esporte. A verba é essencial para adquirir as cadeiras de rodas motorizadas especializadas, indispensáveis para a prática da modalidade. Cada equipamento custa, em média, R$ 12 mil e tem uma vida útil de até cinco anos. Além disso, são necessários recursos para cobrir despesas com viagens, hospedagens e inscrições em competições.
“Infelizmente, ainda não temos todas as cadeiras de que precisamos. Alguns atletas usam cadeiras improvisadas, que não são ideais para o jogo e acabam limitando seu desempenho. O ideal é que cada um tenha uma cadeira própria de jogo, com custo acessível, porque o valor atual é muito elevado”, explica Débora Batista, fundadora do projeto.
Apesar das dificuldades, os resultados mostram a força do trabalho desenvolvido em Contagem. No dia 8 de setembro, em São Paulo, os atletas participaram do Campeonato Brasileiro de Power Soccer e conquistaram o prêmio Fair Play, símbolo do espírito esportivo e da dedicação dos jovens. “Os desafios para participar de torneios existem, mas é nítido o quanto os atletas evoluíram, tanto técnica quanto emocionalmente”, afirma Débora.
Como participar?
Para participar do time de Power Soccer, basta entrar em contato com o Circuito da Inclusão pelo Instagram ou, ainda, pelo WhatsApp (31) 9 8568-1797. Os treinos acontecem aos sábados, às 10h, no Parque das Amendoeiras, em Contagem, na Grande BH.
Apoie o Projeto
As pessoas interessadas em fazer doações para o instituto, a partir de R$ 10 mensais, podem fazê-lo pelo PIX 40.821.523/0001-13 ou pela plataforma de doação circuitoinclusao.apoiar.co.