Ter crescido dentro do ambiente de uma academia moldou a mineira de Varginha Amanda Ribas, que vai lutar no evento inédito 'A ilha da Luta', promovido pelo UFC e que começa no próximo sábado, dia 11, com todos os envolvidos isolados em uma ilha de Abu Dhabi. Pelo peso-mosca, ela vai enfrentar Paige VanZant (EUA).

Amanda esteve em sua cidade-natal durante o período de preparação, tendo a companhia da família também durante os treinos. Ciente de que precisa convencer a organização para disputar o cinturão, ela quer ir além das vitórias. "O UFC também quer lutas que vendam, vou fazer o máximo pra ser uma atleta querida, daquelas que o público quer ver lutar", conta. 

Confira entrevista com a lutadora Amanda Ribas

Em um momento tão complicado de pandemia, quais as garantias de saúde do UFC para a realização desse evento? Digo em termos de testagem e também confinamento dos lutadores? Você se sente segura para lutar nessas condições e qual a importância do esporte neste momento de quarentena? 

Eu estou me sentindo muito segura. Pela programação, vamos fazer cinco exames. Antes do resultado, ficaremos de quarentena para não ter riscos. O UFC é muito consciente, eles não querem colocar ninguém em risco. Eu tomo todos os cuidados possível para não correr risco. Acho que o esporte é importante, é uma alegria para as pessoas em um momento difícil. Além disso, é uma oportunidade de mostrar que é possível tomar todos os cuidados e ir voltando à vida. Tudo é uma questão de adaptação.

O quanto a pandemia influenciou na sua vida de atleta e quais adaptações precisou fazer neste período? 

Quando começou a quarentena, foi a minha semana de folga depois do UFC Brasília. Então eu fiquei como se estivesse de férias. Na semana seguinte, eu já comecei a treinar em casa mesmo com minha irmã e meu pai e depois fomos direto para a academia, que é nossa. Aqui em Varginha, as coisas não ficaram fechadas muito tempo. Eu não fiquei totalmente parada, continuei treinando, mas tive receio de não ter mais evento do UFC. Quando eles disseram que os eventos iriam voltar, eu fiquei muito feliz de poder voltar a trabalhar. 

Como foram seus treinos em Varginha e o quanto a mobilização na cidade te impulsiona para esta luta? Como foi até mesmo a preparação de seus treinadores e sparrings para poder auxiliar neste treinamento? Se sente um orgulho da cidade? 

Eu fiz treino, fiz sparring. A gente tem a Casa do Atleta aqui, onde moram vários lutadores ao lado da academia. Então testamos todo mundo e treinamos, mas com todos os cuidados possíveis. Eu treinei trocação com meu pai, preparação física com meu irmão. A parte técnica eu fiz com o Parrumpinha pelo Facetime. Eu sempre dividi meu camp, mas dessa vez fiz ele todo por aqui. Eu sinto muito orgulho dessa cidade. Antes era a cidade do ET e do café, agora é a cidade da atleta do UFC Amanda Ribas. Eu fico muito feliz, fiz um boné para ajudar a Casa do Atleta. O dinheiro está sendo todo revertido para a casa. Então eu saio na rua e vejo as pessoas com boné e camisa, fico muito feliz. Mostra que dá para treinar em Varginha e ir até Abu Dhabi lutar. 

Gostaria que você contasse um pouco de sua trajetória em sua cidade natal, o bairro de origem, onde iniciou os treinos e companheiros especiais nessa trajetória. 

Eu nasci, literalmente, dentro da academia. Meus pais moravam na academia e minha vida sempre foi lá dentro, aprendi até a andar de bicicleta na academia. Era academia para escola, da escola para academia. Eu lutava jiu-jitsu, mas os treinos foram ficando fortes e eu estava naquela transição de infância para adolescência, então fiquei com medo de ficar muito masculina e parti pra dança. Mas sentia falta e pedi pra voltar pro Jiu-jitsu. Meu pai quis que eu fizesse judô primeiro. Eu me destaquei muito, fui morar numa república em BH, ganhei títulos, participei de seletiva olímpica, mas me lesionei muito. Pensei em largar tudo e voltei para Varginha para estudar. Mas meus amigos começaram a praticar MMA amador e aquela mosquinha das artes marciais me mordeu. Tentei e deu tudo certo. Fui lutar em um mundial de MMA amador em Las Vegas.
Ganhei, me tornei profissional e fui contratada pelo UFC.

Você está lutando em uma categoria acima da sua. O que isso influencia em sua técnica de luta e como fazer para transformar isso em uma vantagem? 

Eu estou me sentindo mais forte. Eu corto muito para 52kg, então para 57kg vou cortar menos. Os treinos estão mais fortes, acho que a recuperação do peso também vai ser uma vantagem. E vou me testar em uma nova divisão. Vai que eu consigo copiar a Amanda Nunes. Haha. Vou entrar bem solta.

Você, definitivamente, está no Top-15 do mundo. O que você almeja após esta luta? Quantos passos você estaria de um cinturão, em sua avaliação? 

Depois da luta com Paige, eu quero lutar no peso-palha com alguma atleta top 10 ou top 5. Quem sabe mais umas duas lutas e eu chego no cinturão. Mas tudo depende da minha performance. Eu acho que o UFC também quer lutas que vendam, então vou fazer o máximo pra ser uma atleta querida, daquelas que o público quer ver lutar.

Você vem de três vitórias, uma delas sem público, em março. Qual a sensação de lutar em um espaço sem o calor da torcida e o quanto isso influencia no psicológico do lutador? 

No começo do evento de Brasília, achei estranho. Sempre tem muita gente trabalhando no UFC e lá estava vazio, um silêncio. Mas eu acho que vai do psicológico de cada atleta. Eu entrei, comecei a aquecer e só foquei na minha luta. Vou fazer a mesma coisa em Abu Dhabi. Focar nas minhas palmas, puxar minha energia. E lembrar também que tem muita gente em casa me passando energia. 

O que você diria para Paige VanZant se a visse hoje? E como espera superá-la?

Eu a cumprimentaria e diria pra ela treinar, mas treinar muito. Porque eu estou treinando muito para ganhar essa luta e mostrar que saí de Varginha para conquistar o mundo. Eu espero uma finalização ou um nocaute.