Como foi a decisão de encerrar a carreira? Você já estava pensando nisso antes do aborto que você sofreu?
A decisão de parar estava acontecendo, era uma coisa que estava passando pela minha cabeça desde o ano passado, não necessariamente parar, mas começar a pensar na transição. Eu estava voltando a treinar, mas logo depois eu engravidei. Eu teria o filho em janeiro e poderia voltar para Tóquio. O aborto aconteceu, uma experiência muito sofrida, muito dolorosa. Isso me fez pensar em prioridades. Era uma coisa que estava sendo pensada, e eu cheguei à conclusão de que existem outros planos e outros sonhos que fazem o meu coração pulsar mais do que a ideia de ir para Tóquio.
Quais são seus planos agora? Você já tem um projeto social em BH, pretende continuar por aqui?
O projeto segue aqui em BH. A nossa ideia é pleitear lei de incentivo, mas a gente não está contando com isso. A ideia do campeonato foi justamente para ter alguma renda, porque, com isso, a gente vai ter renda até dezembro. A ideia é fazer um campeonato a cada semestre, porque a gente consegue manter, e, com o que a gente conseguiu, vamos abrir mais turmas de natação, a demanda é muito grande. Queremos colocar dança esportiva e judô.
Tem algum setor do esporte com que tem vontade de trabalhar? Como dirigente ou na parte de treinamentos? Trabalharia na CBDA?
Tem coisas que eu tenho vontade de fazer. Eu acho que posso contribuir muito para a natação feminina do Brasil, não sei exatamente como. Eu queria fazer também alguma coisa em termos de massificação de base. Eu fiz um curso de gestão esportiva, vou fazer outro. Mas é a prática. Eu preciso começar a trabalhar. Eu acredito que até o fim do ano é um tempo para eu ir pensando nisso e ganhando experiência neste sentido. Eu estou animada, dá um pouco de medo, mas eu estou animada. E nesta gestão da CBDA eu trabalharia sem problema nenhum.
Você faria alguma coisa de diferente em sua carreira?
Sinceramente, eu não faria nada de diferente. Olhando para quem eu sou hoje e para como eu enxergo minha história, eu não faria nada diferente, não. Eu acho que foi bom, foi desafiador, foi transformador, foi apaixonante, me ensinou muita coisa. Eu não gostaria de ter sido mais racional do que eu fui. Eu acho que eu respeitei minha essência. Eu lapidei meu talento da melhor maneira que eu pude. Eu vivi aquilo que eu fui educada em casa, em termos de ética, de moral, de lutar contra esse sistema, porque por nenhum resultado valeria a pena se vender.
Você é filiada ao PSOL, mas já afirmou que não tem intenção de se candidatar. Isso pode mudar no futuro? Tem interesse em atuar na política?
Não, eu não tenho o menor interesse em pleitear nenhum cargo político. O jogo político, como ele jogado hoje, não me interessa. E a forma que você faz para poder chegar lá, é uma minoria que consegue chegar de uma forma honesta, sem se vender. Não é algo que eu deseje para mim. Hoje é um partido que eu acredito. Eu não concordo 100% com tudo, me identifico com muitas pautas do partido, mas não quer dizer que eu quero me candidatar, eu não quero. Eu não tenho a menor intenção. A minha política são o meu projeto, as minhas palestras, a ONG e dessa sementinha que está sendo plantada assim.
Você é sempre muito militante em suas redes sociais e sofre com muitas críticas também. Você já pensou em parar de ser tão atuante na internet? Como você lida com as críticas?
Algumas vezes eu já pensei em ser menos atuante nas redes, mas hoje em dia, não. Foi mais lá atrás que eu pensei que era melhor não falar. Só que hoje eu vejo que é necessário falar. Ao mesmo tempo que dói, passa e me fortalece. Eu sei que, se existe essa resistência, essa barreira, é porque eu estou fazendo o certo. Cada vez eu recebo mais mensagens de pessoas agradecendo pelo trabalho que eu faço. Quando você recebe muita pancada, como eu recebo, é um sinal de que eu estou furando uma bolha, eu estou conseguindo chegar com essa informação para outras pessoas, e isso é bom.
O aborto que sofreu recentemente foi um trauma muito grande. Você já pensa em engravidar novamente? Vai se dedicar mais à família?
Hoje eu tenho muito medo de tentar engravidar de novo e perder, passar por essa experiência de novo. A minha relação com a infância é muito forte. Isso fez com que a ideia de um ser crescendo dentro de mim e de repente ele não estar mais ali doesse ainda mais. Eu estou começando a conversar com o Lu, conversar sobre adoção. Esse tempo de tentar de novo, a gente tem que esperar três meses. Às vezes, eu quero que esse tempo passe logo para começar a tentar de novo, mas aí vem o medo. Eu acho que é muito cedo. Eu quero ser mãe.
Você escreveu uma carta para você mesma enquanto nadadora. O que você gostaria de ouvir agora da Joanna do futuro?
Acho que eu não quero ouvir nada da Joanna do futuro, talvez mais pra frente, que eu estiver vivendo a Joanna do futuro eu escreva para esta Joanna. Eu não gosto de pedir nada para o futuro, para o destino, para Deus. Eu sempre fiz isso, inclusive, antes de prova. Eu não quero nada, eu quero que os caminhos se abram para eu fazer aquilo que eu mereço. Para a minha vida, eu quero ter resiliência e força para o que quer que aconteça comigo eu não perca a minha essência. Eu não vou ver essa transformação do mundo que eu desejo, mas eu quero ser instrumento dela. Se a Joanna do futuro estiver ouvindo isso, eu acho que ela vai estar tranquila.