As sempre tensas relações entre torcidas organizadas de futebol passaram a ser influenciadas mais diretamente pela lógica criminal das facções há nove anos, em dezembro de 2016, quando o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa hegemônica em São Paulo, emitiu um de seus primeiros salves — ordens direcionadas a grupos internos ou aliados — voltado especificamente às torcidas organizadas de Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras.

➡️ Quatro décadas de tentativas frustradas: Brasil falha em conter a violência das torcidas organizadas
➡️Do grito à emboscada: a face mais violenta da rivalidade entre Mancha Verde e Máfia Azul
➡️Mapa da Guerra: Como se formam as alianças entre torcidas organizadas no Brasil

No comunicado, a facção determinava que não seriam mais toleradas brigas com mortes entre torcedores, inclusive contra torcidas de outros estados. Caso os confrontos saíssem do controle, os líderes das organizadas seriam “cobrados à altura” — expressão usada para indicar que seriam julgados pelo chamado tribunal do crime, instância paralela do PCC que pune violações das regras impostas pela quadrilha.

- Não é pra ter briga nenhuma de torcida. Nem morte, nem confusão, nem nada. (...) O cara que brigar, vai apanhar. E o cara que matar, vai morrer. É ordem do PCC, entendeu? As quatro torcidas de São Paulo. No interior, na capital, onde for… Não pode ter briga, nem morte, nem nada - dizia um áudio com o salve da facção, divulgado à época, em dezembro de 2016.

- É ordem do PCC: quem brigar, vai apanhar; quem matar, vai morrer — acabou a ideia de briga entre as quatro torcidas de São Paulo, no interior ou onde for. Quem arrumar confusão agora, vai azedar o molho. O bicho vai pegar - seguia o salve do PCC.

Três meses antes do salve do PCC, em 17 de setembro de 2016, Daniel Jones Veloso, de 22 anos, o Dan Jones da Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians, foi assassinado com pancadas de barras de ferro na cabeça pelos palmeirenses da Mancha Verde Alex Sandro da Silva Júnior, Daniel Cândido da Silva, Jefferson Paulo da Silva, Wesley Ramos Dantas Lopes e Kaio Robério Gomes Barbosa. 

O crime aconteceu em Itapevi (Grande São Paulo), quando Dan Jones e a namorada voltavam da Arena Neo Química, casa do Corinthians, em Itaquera, zona leste de São Paulo, onde o time havia sido derrotado por 2 a 0 pelo Palmeiras, em jogo pelo Campeonato Brasileiro. Em 2022, os cinco palmeirenses da Mancha Verde foram condenados a 24 anos de prisão pelo assassinato do corintiano.

Dan Jones 2
Dan Jones, torcedor do Corinthians morto (Foto: Reprodução)

Outro enfrentamento com morte que teve influência na decisão do PCC de enviar um salve às torcidas organizadas ocorreu em 6 de abril de 2016, segundo relato de um advogado ouvido pela reportagem, sob a condição de anonimato. Na ocasião, José Sinval Batista de Carvalho, de 53 anos, foi atingido por uma bala perdida durante uma pancadaria entre cerca de 50 torcedores do Palmeiras e do Corinthians, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.

José Carvalho não fazia parte de nenhuma torcida organizada. Ele foi atingido pelo disparo enquanto caminhava pela Praça Aleixo Monteiro Mafra, em frente à estação São Miguel Paulista da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), por volta das 10h da manhã de um domingo ensolarado — seis horas antes de o Palmeiras vencer o Corinthians por 1 a 0, em jogo pelo Campeonato Paulista, no Estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital.

A morte de José Carvalho foi o episódio mais grave entre quatro confrontos violentos registrados entre corintianos e palmeirenses naquele mesmo dia, o que motivou uma reação mais firme das autoridades de segurança do Estado de São Paulo. Além do caso em São Miguel, também houve brigas nas estações Brás e Clínicas do Metrô e em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ao todo, 56 torcedores das duas organizadas foram detidos pelos episódios de violência.

No dia seguinte ao assassinato de José Carvalho, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, à época sob gestão de Alexandre de Moraes, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), institui a torcida única nos estádios do Estado para os clássicos entre Santos, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. A medida, até então prevista para durar até 31 de dezembro de 2016, vigora até hoje.

Apesar da determinação da facção criminosa para evitar mortes, em março de 2017 — apenas três meses após o salve —, Marcelo Ventola, ladrão de joalherias e apontado pelas autoridades como integrante do PCC, foi o responsável por uma emboscada que terminou com a morte de Moacir Bianchi, o Moa, um dos fundadores e mais conhecidos diretores da Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras.

MOACIR BIANCHI
Moacir Bianchi o Moa, um dos fundadores, que foi morto (Foto: Reprodução)

Conhecido como Marcelinho, Ventola havia saído da prisão em 2015. Logo após ser preso pela morte de Bianchi, em 18 de julho de 2017, Ventola foi cobrado dentro do sistema prisional por ter desrespeitado a ordem de paz da facção. Em sua defesa, alegou à cúpula do PCC que o crime fora motivado por desentendimento pessoal, e não por rivalidade entre torcidas — o que amenizou sua responsabilização interna.

Horas antes da emboscada, ocorrida no início da madrugada de 2 de março de 2017, Bianchi e Ventola estiveram juntos em uma reunião na sede da Mancha Verde, na Pompeia, zona oeste de São Paulo. Durante o encontro, Bianchi questionou duramente a diretoria sobre a influência de criminosos dentro da torcida, o que teria irritado Ventola.

Ataque da Mancha Verde contra a Máfia Azul (Foto: Reprodução)

Sem consultar e sem o aval da facção, Ventola decidiu matar Bianchi, em uma atitude considerada isolada. Pela lógica do PCC, execuções só devem ser autorizadas após consulta à cúpula, principalmente quando há risco de repercussão na imprensa. Mesmo assim, Ventola não foi punido severamente dentro da cadeia — como manda o “código” da facção — e sobreviveu. Em agosto de 2022, ele  foi condenado a uma pena de 25 anos de prisão pelo assassinato de Bianchi.

Após o assassinato de Bianchi, o PCC reafirmou o salve que proibia mortes decorrentes de brigas entre torcidas organizadas, segundo relato de um advogado com ligação a integrantes da facção. De acordo com ele, ficou estabelecido entre os membros do grupo criminoso que conflitos relacionados ao futebol não deveriam se confundir ou se misturar com os interesses e as operações do crime organizado.

Um reforço na ordem do PCC para evitar mortes em confrontos entre torcidas organizadas foi registrado em fevereiro de 2023. Na ocasião, Mancha Verde (Palmeiras), Torcida Jovem (Santos) e Independente (São Paulo) publicaram notas oficiais em seus perfis nas redes sociais para determinar que seus membros se abstivessem de brigas.

As notas foram lançadas após a convocação das lideranças das torcidas organizadas para uma reunião em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, com integrantes do PCC responsáveis pelo cumprimento das ordens da facção nas ruas do Estado de São Paulo.

O salve do PCC em fevereiro de 2023 foi motivado pela emboscada da Mancha Verde contra a Gaviões da Fiel, na Avenida do Estado, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, à 1h29 do dia 10. Durante o ataque, os palmeirenses feriram um corintiano que fazia parte da organizada e também é integrante da facção criminosa. Quando o corintiano relatou aos comparsas do PCC como a pancadaria se deu, a facção reafirmou a ordem para que as brigas entre organizadas não ocorressem mais.

Naquela quinta-feira, o Corinthians perdeu por 2 a 0 pelo São Bernardo, e, na volta do jogo, dois ônibus com torcedores corintianos foram atacados por palmeirenses no Viaduto Grande São Paulo. Durante a emboscada, os agressores gritavam "Aqui é a Mancha", segundo relato do motorista de um dos ônibus atingidos.

Dois membros da Gaviões da Fiel_Rui Luiz Bento Assunção e Marcos de Jesus Varges_ ficaram gravemente feridos e foram encontrados desmaiados pela Polícia Militar. Ambos foram internados devido à gravidade dos ferimentos na cabeça, causados por pauladas. 

Entre os envolvidos na confusão estava o motoboy Alekssander Tancredi, que havia sido vítima do ataque da Máfia Azul contra palmeirenses em setembro de 2022 e, dois anos depois, suspeito de participação no revide da Mancha Verde contra os cruzeirenses, em outubro de 2024. Na briga contra os corintianos, Tancredi chegou a ser baleado no pescoço e precisou ser internado.

Outro membro da Mancha Verde identificado no ataque contra a Gaviões da Fiel foi Alan de França Soares, também preso em 2024 pela morte do cruzeirense José Victor. 

Na mesma investigação, Luciano Sérgio Tancredi, irmão de Alekssander Tancredi, foi interrogado pela polícia sobre uma fotografia em que aparecia segurando um instrumento musical com as identificações da torcida organizada corintiana Gaviões da Fiel.

Em agosto de 2023, o processo sobre o ataque dos palmeirenses contra os corintianos foi arquivado, pois a polícia não conseguiu identificar quem, de fato, tentou matar os membros da Gaviões da Fiel, Rui Luiz Bento Assunção e Marcos de Jesus Varges, além do integrante da Mancha Verde, Alekssander Tancredi.

Oficialmente, as torcidas alegaram que a decisão de "estender a bandeira branca" partiu das próprias diretorias. No entanto, o anúncio coincidiu com a circulação de novos áudios atribuídos a membros do PCC, que passaram a circular em grupos de WhatsApp frequentados por torcedores de Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo — além de jornalistas que cobrem o cotidiano do futebol paulista. As mensagens reforçavam a proibição de confrontos com mortes em São Paulo e alertavam para eventuais punições, caso a ordem fosse descumprida.

À época do salve lançado em fevereiro de 2023, Jorge Luis Sampaio Santos, então presidente da Mancha Verde, foi um dos diretores de torcida organizada que negaram ter recebido ordens do PCC para adotar uma postura de trégua. Publicamente, afirmou que a decisão de evitar confrontos havia partido da própria diretoria da organizada. No entanto, essa versão foi colocada em xeque no fim do ano seguinte, a partir do que revelou o advogado da torcida palmeirense. 

A mais recente imposição do PCC para impedir confrontos entre membros de torcidas organizadas em São Paulo foi decidida durante uma reunião realizada por integrantes da facção em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista.

Em dezembro de 2024, o advogado Luiz Ferretti Júnior — defensor da Mancha Verde há mais de uma década e um dos 20 palmeirenses presos pela emboscada que resultou na morte de José Victor Miranda dos Santos, 30 anos, torcedor do Cruzeiro — afirmou que Jorge Sampaio temia sofrer represálias do PCC caso o confronto saísse do controle e terminasse em morte. E foi exatamente o que ocorreu.

Segundo Ferretti, Jorge Sampaio o convocou na madrugada entre os dias 26 e 27 de outubro de 2024 — horas antes do ataque na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã (Grande São Paulo) — e pediu que ele o acompanhasse até o local trajando roupas sociais. 

Ainda de acordo com o advogado, o dirigente da Mancha Verde afirmou temer a emissão de um salve caso houvesse violência com gravidade. Salves são ordens ou orientações geralmente emitidas por lideranças do PCC, que nos últimos anos passaram a interferir nas condutas de torcidas organizadas em São Paulo.

Ferretti não mencionou diretamente o nome da facção criminosa, mas a forma como descreveu o receio de Jorge Sampaio explicitou que a preocupação estava diretamente ligada aos códigos criminais da principal organização criminosa do estado. De acordo com ele, o presidente da torcida acreditava que a simples presença de um advogado no local poderia evitar abusos ou impedir a escalada da violência.

Ferretti relatou ainda que permaneceu com Jorge Sampaio por cerca de 20 a 25 minutos em Mairiporã tentando localizar torcedores da torcida rival. Após conversarem com três homens que afirmaram que o trajeto da caravana cruzeirense havia sido alterado, os dois decidiram retornar a São Paulo. Mais tarde, segundo o advogado, ainda tentaram retornar ao ponto de encontro, mas não localizaram ninguém.

Apesar da versão apresentada por Ferretti, o Ministério Público sustenta que ele conduziu Sampaio até o local do ataque e que seu carro foi registrado por radar nas imediações da cena do crime pouco após o horário estimado da morte de José Victor.

Ferretti negou qualquer participação ou conhecimento prévio da emboscada. Ele disse que apenas cumpria sua função como advogado contratado formalmente pela Mancha Verde desde 2014. Sua defesa argumenta que a denúncia apresentada pelo Ministério Público é genérica, sem apontar qualquer conduta concreta que relacione o advogado ao homicídio triplamente qualificado e às outras 14 tentativas de assassinato pelas quais também responde na Justiça.

Assim como Felipe Mattos dos Santos, o Fezinho — seu braço direito na liderança da Mancha Verde e também preso pela morte do cruzeirense José Victor —, Jorge Sampaio solicitou à Justiça, em dezembro de 2024, a transferência para a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo. 

Conhecida como “Presídio de Caras” — em alusão à revista de celebridades Caras —, a unidade de Tremembé abriga detentos envolvidos em casos de grande repercussão midiática, como o ex-jogador Robinho, condenado por estupro.

Além disso, o presídio é conhecido por não ter presença de membros do PCC. Jorge Sampaio e Fezinho não tiveram seus pedidos atendidos de transferências pela Justiça e seguem no CDP (Centro de Detenção Provisória) 2 de Guarulhos, onde raramente são membros do PCC. 

Um dos responsáveis por fiscalizar o cumprimento da proibição das brigas entre torcidas organizadas era Márcio Silva de Oliveira, de 40 anos, conhecido como Fatioli. De acordo com investigações da Polícia Civil, ele era um dos chefes do PCC na região central de São Paulo.

Fatioli foi morto a tiros por policiais militares em 22 de maio de 2024, na Avenida do Estado, na Mooca, zona leste de São Paulo. Segundo a versão apresentada pelos PMs envolvidos, Fatioli e Lucas Rodrigues Gomes Chaves, de 25 anos, estavam em um carro e tentaram fugir de uma abordagem após receberem ordem para parar o veículo.

Ainda de acordo com os policiais, durante a tentativa de fuga, Fatioli e Lucas Rodrigues teriam atirado contra os agentes, que revidaram. Ambos foram baleados, socorridos e levados a um pronto-socorro, mas não resistiram aos ferimentos e morreram.

No veículo em que estavam Fatioli e Lucas Rodrigues, segundo a versão oficial, foram encontrados um fuzil, uma pistola, um revólver e coletes à prova de balas. Nenhum policial ficou ferido na ação, investigada pelo Departamento de Homicídios, da Polícia Civil.

Em outros estados do Brasil, especialmente naqueles onde não há hegemonia de uma única facção — como ocorre em São Paulo, onde o PCC (Primeiro Comando da Capital) controla boa parte da criminalidade, sobretudo o tráfico interno e externo de drogas —, a dinâmica de enfrentamento entre torcidas organizadas segue praticamente inalterada há décadas.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde diferentes quadrilhas disputam o controle territorial — como o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP), os Amigos dos Amigos (ADA) e as milícias (formadas por policiais, ex-policiais e outros agentes de segurança associados ao crime) —, as questões relacionadas às torcidas organizadas costumam ser mantidas à margem das disputas do crime organizado.

Entre as torcidas de Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense, é comum encontrar membros que vivem em áreas dominadas por diferentes facções. Essa convivência impõe limitações: moradores de regiões controladas por um determinado grupo criminoso muitas vezes não podem circular livremente em territórios sob domínio rival. No entanto, dentro das organizadas, essas divisões desaparecem. O torcedor pode morar em uma área dominada pelo CV e, ainda assim, atuar lado a lado, em confrontos ou eventos da torcida, com outro que reside em território controlado pelo TCP.

Torcida e Tráfico: Como a guerra entre as torcidas do Fortaleza e do Ceará fez nascer a facção criminosa GDE

Na periferia de Fortaleza, capital do Ceará, a paixão pelo futebol extrapolou os limites dos estádios e, por anos, alimentou uma guerra entre comunidades vizinhas. De um lado, o Parque Santa Rosa, bastião da torcida tricolor do Fortaleza. Do outro, o bairro Pôr do Sol, reduto da massa alvinegra do Ceará. O que começou como rivalidade esportiva acabou se transformando em uma disputa sangrenta, entrelaçada com o tráfico de drogas — utilizado como meio de financiamento das torcidas — e marcada por mortes, medo e tensão constante.

O vínculo entre o tráfico de drogas e as torcidas organizadas em bairros periféricos de Fortaleza ficou escancarado no depoimento prestado à Polícia Civil, em dezembro de 2015, por Carlos Alexandre Ferreira Agostinho, o “Biru-Biru”. 

Morador do Parque Santa Rosa desde a infância, Biru-Biru revelou ter crescido imerso no universo do crime local, começando como “avião” até se tornar olheiro da quadrilha comandada por Lucas Mendes Ferreira — conhecido como “Patrão"e apontado como líder do tráfico no Santa Rosa. Do outro lado, o grupo do Pôr do Sol era liderado por Tony Carlos Ferreira Viana, com apoio de parentes e operadores financeiros

De acordo com Biru-Biru, o cenário só começou a mudar em 2012, quando os dois chefes do tráfico no Parque Santa Rosa e Pôr do Sil perceberam perdiam dinheiro com os confrontos e firmaram um pacto: a rivalidade esportiva seria encerrada, todos torceriam pelo Ceará, e o mercado de drogas foi dividido entre os dois grupos. O acordo incluía ainda o livre trânsito entre os bairros — algo que até então era inimaginável para quem vivia naquela área de Fortaleza. 

No final de 2015, diante do crescimento da presença de integrantes de facções nacionais no sistema prisional do Ceará — como o PCC, de São Paulo, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e a Família do Norte (FDN), do Amazonas — os chefes do tráfico do Parque Santa Rosa e do Pôr do Sol decidiram tomar uma medida estratégica. Cansados de pagar taxas de filiação e mensalidades exigidas por essas organizações, eles selaram um novo pacto e fundaram a própria facção local: os Guardiões do Estado (GDE), hoje a mais temida do Ceará e que vive em guerra com outras que também atuam no Estado.

A violência da GDE e sua ligação com torcidas organizadas permanece até hoje. Um exemplo desse tipo de ação criminosa da facção aconteceu em 17 de abril de 2024, quando Wesley da Silva Uchôa e Márcio José Severino de Sousa, foram mortos a tiros no bairro Esplanada Novo Mondubim, em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza. O responsável pelas mortes, segundo as autoridades, foi Lucas Evangelista da Silva, conhecido como “Mulambo”, membro da GDE.

A motivação do crime, segundo a investigação, está relacionada à rivalidade entre torcidas organizadas e o crime organizado. Márcio era membro da torcida Jovem Garra Tricolor (JGT), ligada ao Fortaleza Esporte Clube, e vinha realizando pichações com a sigla da JGT em muros do bairro Industrial — região onde predomina a influência da GDE, facção com afinidade com a Torcida Organizada Cearamor (TOC), do Ceará Sporting Club.

Relatos de testemunhas indicam que Márcio Sousa já havia sido alertado por integrantes da TOC sobre possíveis retaliações, diante da exposição de sua torcida em território considerado “inimigo”. 

Lucas Silva já era investigado por outra morte no bairro Industrial, em Maracanaú. De acordo com a polícia, ele matou a facadas e pedradas Breno Antônio Souza Nascimento, no dia em que a vítima completou 21 anos, em 28 de novembro de 2019.

A defesa Lucas Silva alegou que ainda não existem provas de ele cometeu os crimes pelos quais ele é réu. Ele foi preso pelas mortes de Márcio Sousa e Wesley Uchôa em 15 de julho de 2024.

Abaixo, publicações das Torcidas Organizadas de São Paulo: