"Caíram das nuvens." "Caíram do pedestal." As manchetes, respectivamente dos sites dos jornais Le Monde e L'Équipe, dão uma ideia do tom da imprensa francesa após a derrota do Paris Saint-Germain para o Botafogo, na quinta (19), em Pasadena, pela Copa do Mundo de Clubes.

O resultado foi tratado pela imprensa local como um tropeço compreensível, em parte pelo fato de cinco titulares terem ficado fora da escalação - quatro por opção do técnico Luis Enrique e um, o atacante Dembélé, por lesão na coxa -, em parte pelo momento do calendário, em que o time europeu, geralmente, estaria de férias.

A disciplina e o preparo físico do adversário foram elogiados. O L'Équipe qualificou o time carioca como "voluntarioso e brigador".

"Dificilmente Igor Jesus ficará muito tempo no Botafogo", escreveu o mesmo jornal, aparentemente sem saber que o atacante já está negociado com o Nottingham Forest, da Inglaterra.

No programa de TV "L'Équipe de Choc", foi mostrado um vídeo de botafoguenses comemorando na praia de Copacabana. "Essa derrota é uma mancha?", perguntou o apresentador Giovanni Castaldi. "Não, de jeito nenhum, mas mostra que é preciso ter um banco de reservas", respondeu o comentarista Pierre Bouby.

"Eles são humanos. Em algum momento é preciso relaxar, porque houve a pressão (da Champions League)", opinou a analista Maryse Éwanjée-Épée.

Para o Le Monde, o PSG "mostrou um pouco de autossuficiência". Criticou em especial o jovem Désiré Doué, de 20 anos, sensação na conquista da Champions League. Para o jornal, Doué "tentou várias jogadas espetaculares, mas na maioria das vezes inúteis".

Na véspera, o L'Équipe havia comentado que o clima no hotel onde o PSG está hospedado, em frente à sofisticada Newport Beach, é de "colônia de férias".

Nas redes sociais, três jogadores, João Neves, Lucas Hernández e Wayne Zaïre-Eméry publicaram fotos comendo tacos mexicanos e passeando de bicicleta no calçadão. O zagueiro brasileiro Marquinhos, segundo o L'Équipe, foi ao boliche com a mulher e os filhos.

Outros jogadores cumpriram compromissos com patrocinadores. "Vamos ao shopping, à praia, podemos jogar PlayStation e sinuca juntos", disse o goleiro Donnarumma em uma das entrevistas à imprensa.

O fuso horário desfavorável - a partida começou às 3h de Paris - reduziu um pouco o impacto da derrota na mídia francesa. A estreia do PSG no torneio, com goleada por 4 a 0 sobre o Atlético de Madri, havia passado no horário nobre e foi vista por 3,8 milhões de espectadores no canal aberto TF1, audiência considerada excelente.

Para efeito de comparação, a final da Champions League contra a Internazionale de Milão foi vista por 11,8 milhões. A derrota para o Botafogo também foi transmitida gratuitamente, mas pelo canal por assinatura Dazn, menos conhecido na França.

TEXTOR

Os franceses ressaltaram o vínculo do controlador do Botafogo, o norte-americano John Textor, com o futebol francês - ele também é acionista majoritário do Lyon. O Le Monde chamou nesta semana o Botafogo de "laboratório brasileiro" de Textor, onde supostamente ele testaria jogadores para o mercado europeu.

Ao longo da última temporada, Textor teve atritos com o presidente do Paris Saint-Germain, o catari Nasser Al-Khelaïfi, a quem acusa de conflito de interesses - Al-Khelaïfi é ao mesmo tempo dirigente da liga francesa e do canal BeIn, que transmitiu o Campeonato Francês deste ano.

Em fevereiro, Textor chamou Al-Khelaïfi de "tirano". Foi, por sua vez, tratado como "caubói" pelo dirigente do PSG. Recentemente, porém, os dois adotaram um tom mais conciliatório. (André Fontenelle)