O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF), com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), nesta terça-feira, 5 de novembro. A operação investiga possível manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2023.
- Apostas esportivas. PF faz operação em MG e no Ninho do Urubu contra esquema de apostas na Série A
Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em locais ligados ao jogador, incluindo o Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, e nas cidades mineiras de Lagoa Santa, Ribeirão das Neves, Vespasiano e Belo Horizonte.
A investigação iniciou após uma comunicação da Unidade de Integridade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Relatórios da International Betting Integrity Association (IBIA) e da Sportradar, organizações especializadas no monitoramento de padrões irregulares de apostas e possíveis manipulações em eventos esportivos, levantaram suspeitas sobre manipulação no mercado de cartões durante uma partida do Campeonato Brasileiro.
A principal suspeita é de que o atacante do Flamengo teria provocado um cartão durante a partida contra o Santos, realizada em 1º de novembro de 2023, que terminou com a vitória do Santos por 2 a 1. Segundo a súmula do jogo, nos cinco minutos finais de acréscimos, Bruno Henrique recebeu primeiro um cartão amarelo por uma falta e, em seguida, o cartão vermelho por ofensa ao árbitro. (VEJA O VÍDEO DO LANCE)
Alvo de uma operação da Polícia Federal na manhã desta terça-feira (5), o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, é suspeito de forçar uma expulsão para favorecer familiares em um esquema de apostas. O lance ocorreu na 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023. Com o time… pic.twitter.com/mOxI5nPCmd
— O Tempo (@otempo) November 5, 2024
Parentes apostaram na expulsão do jogador
Segundo a investigação, familiares e amigos de Bruno Henrique realizaram apostas suspeitas prevendo que o jogador receberia um cartão na partida entre Flamengo e Santos, realizada em Brasília. Foram identificados ainda que o irmão do atacante do Flamengo, a cunhada, e uma prima, abriram contas em plataformas de apostas na véspera do jogo e apostaram especificamente na punição do atleta. Esse padrão foi repetido por outros seis investigados.
A CBF identificou que, nos dois anos anteriores, a chance de Bruno Henrique ser punido com cartão era de cerca de 20%. No entanto, naquele jogo, a concentração de apostas nesse evento subiu para 90%, o que indica possível acesso prévio a informações sobre o resultado.
Durante o jogo, o cartão de fato foi aplicado, o que, em tese, configura crime contra a integridade esportiva, conforme a Lei Geral do Esporte, com penas de reclusão previstas de dois a seis anos.
Sobre a operação SPORT-FIXING
A operação foi batizada de SPOT-FIXING, apura possível manipulação do chamado "mercado de cartões". A expressão inglesa que se refere à manipulação de um aspecto específico de um jogo, não relacionado ao resultado final, sobre o qual existe um mercado de apostas.
A operação conta com a participação de mais de 50 agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (Gaeco-MPDFT) e da Coordenação de Repressão à Corrupção da Polícia Federal (PF), que cumprem 12 mandados de busca e apreensão.
Os mandados são cumpridos nas residências de todos os investigados, incluindo a casa de Bruno Henrique, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro; na sede das empresas DR3 Consultoria Esportiva Ltda. e BH27 Oficial Ltda., em Lagoa Santa (MG), das quais o jogador é sócio; no quarto do atleta no Ninho do Urubu; e em outros endereços nas cidades mineiras de Lagoa Santa, Ribeirão das Neves, Vespasiano e Belo Horizonte.
Bruno Henrique e todos os demais suspeitos podem responder por crimes previstos na Lei Geral do Esporte, que dizem respeito à fraude da partida e à corrupção passiva e ativa esportiva. Eles ainda podem ser acusados pela prática do crime de lavagem de dinheiro e, se outras manipulações forem identificadas, pelo crime de associação ou organização criminosa.
A reportagem de O TEMPO SPORTS tenta contato com todos os alvos para manifestação. À reportagem, a assessoria de imprensa de Bruno Henrique informou que não se manifestará sobre o caso.
O que diz o Flamengo?
Em nota, o Clube de Regatas do Flamengo revelou que tomou conhecimento, nesta data, da existência de uma investigação, ainda em curso, versando sobre eventual prática de manipulação de resultados e apostas esportivas.
"O Clube ainda não teve acesso aos autos do inquérito, uma vez que o caso corre em segredo de justiça, mas é importante registrar que, ao mesmo tempo, em que apoiará as autoridades, dará total suporte ao atleta Bruno Henrique, que desfruta da nossa confiança e, como qualquer pessoa, goza de presunção de inocência.”
Por fim, o Flamengo esclarece que houve uma investigação no âmbito desportivo, perante o STJD, a qual já foi arquivada, mas não tem como afirmar que se trata do mesmo caso e aguardará o desenrolar da investigação. O atleta segue exercendo suas atividades profissionais normalmente. Treina e viaja com a delegação nesta terça-feira, para Belo Horizonte para o confronto contra o Cruzeiro.