O preconceito contra pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ ainda é grande no futebol, o que reforça, hoje, neste 17 de maio, a necessidade do combate a homofobia. Emerson Ferretti, presidente do Bahia, e Igor Benevenuto, árbitro de futebol, viram-se obrigados a levar a vida escondidos perante a própria existência.
Leia mais: Frases homofóbicas que devemos tirar do nosso vocabulário
Em agosto de 2022, Benevenuto e Ferretti (foto) tornaram pública a orientação sexual de cada um. Mesmo não existindo vínculo entre eles, assumiram-se homossexuais.
Crédito: Reprodução Instagram@emersonferretti e Rivaldo Gomes/Folhapress
“Percebo que é um assunto (homossexualidade) que o futebol não tem interesse em abordar. As pessoas do meio ficam com medo de falar e fazem de conta que isso não existe. Talvez, por medo de naturalizar o gay no futebol e imaginar que haverá uma invasão gay, fazendo com que o esporte perca a sua essência”, afirma Ferretti.
O presidente do Bahia tem 52 anos. Foi goleiro por quase duas décadas. Vestiu camisas de gigantes do futebol brasileiro como as do Grêmio, Flamengo, Bahia e Vitória, além de figurar em convocações para as seleções brasileiras de base. Apesar disso, sentiu-se muito só em meio às multidões.
Já Igor Junio Benevenuto, de 43 anos, trabalha como árbitro desde 2010 e também chegou ao topo da carreira, ao colar no peito a insígnia da Fifa, três anos atrás. Atuou em inúmeros grandes jogos Brasil afora e pelo exterior. Mesmo assim, sentia-se aprisionado.
“Muita gente me procurou. Árbitros, pessoas do meio do futebol e de fora dizendo que minha atitude foi motivadora, porque eles vivem essa situação e não podem assumir”, revela o árbitro.
Um grupo de atletas de futebol, segundo o site inglês SPORTbible, usarão hoje, 17 de maio, para declarar publicamente a orientação sexual deles. Borussia Dortmund, Union Berlin, St. Pauli, Freiburg e Stuttgart, todos da Alemanha, fizeram postagens em suas redes sociais defendendo a diversidade de gêneros e o combate à LGBTfobia no esporte.
Combate à homofobia
O relato de figuras públicas do esporte, além de desprendê-las das amarras impostas por uma sociedade que, não raro, manifesta-se avessa à diversidade humana, foi considerado um passo relevante na luta contra a homofobia. Sobretudo, em um meio considerado machista e preconceituoso como o da bola, desde os primórdios até este 17 de maio, 34 anos depois da efeméride que marca o Dia Internacional Contra a LGTBFobia.
“Assumir (a homossexualidade) teve várias dimensões em minha vida. Pessoalmente, é uma sensação muito boa. Passei 50 anos escondido, tendo de representar para sobreviver no meio do futebol. Senti leveza ao me livrar disso, um ato de coragem. Foi importante falar que existe gay no futebol e que a sexualidade não interfere na profissão, no rendimento”, disse Ferretti.
Mostrar-se ao mundo da forma como é, no entendimento de Benevenuto, teve impacto semelhante ao ocorrido com o ex-goleiro. “Foi libertador me assumir. Algo ótimo para minha vida e saúde mental. Muito importante para mim, em todos os sentidos. Claro que não vamos mudar tudo. Mas, uma sementinha que a gente planta, pode ser inspiração para alguma pessoa”, crê Igor.
De modo efetivo, talvez ainda não seja possível aferir o impacto das declarações de Ferretti e Benevenuto no combate ao preconceito no futebol brasileiro.
Ainda há uma caminhada longa a ser feita, mas a legislação esportiva, aliada à pressão social sobre clubes, posturas nos estádios, têm gerado uma movimentação maior contra a LGBTfobia.
“Está havendo uma vigilância muito grande e um apoio forte no combate ao preconceito. As coisas estão evoluindo”, conclui, esperançoso, Benevenuto.
Dia Internacional Contra a Homofobia
O Dia Internacional Contra a LGBTfobia é celebrado em 17 de maio porque foi nesta data, em 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID).