Cresce a arrecadação, sobem os gastos. Especialistas na gestão do esporte apontam que essa mistura é a grande culpada pelos endividamentos dos clubes brasileiros. Segundo Fernando Trevisan, da diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios, o faturamento dos clubes da Série A em 2024 ficou na casa de R$ 10 bilhões, enquanto as dívidas chegaram a R$ 14 bilhões. E o fair play financeiro é apontado como caminho para mudar o cenário.
A regra, que já foi implementada em países da Europa, impõe um limite de gastos para os clubes com base em sua arrecadação. A medida serve para evitar que os times gastem mais do que ganham e, consequentemente, contraiam dívidas. Jornalista, bacharel em Administração de Empresas e especialista em Marketing Esportivo, Fernando Trevisan avalia que a implementação da ferramenta é fundamental para mudar o cenário financeiro do futebol no Brasil.
“Precisa ter um olhar tão importante que a gente teve para as receitas, agora, para dentro de casa, para tomada de decisão de investimento, que não fira a sustentabilidade econômica do clube. E eu só acredito nisso se houver um processo de regulamentação, que é o Fair Play Financeiro. Uma indução de fora para dentro, para que os clubes sejam obrigados a adotar uma postura mais sustentável”, opina.
A regra ajudaria, principalmente, a controlar os gastos dos times com contratações e salários. Fernando Trevisan aponta que são essas as principais despesas dos clubes e um dos principais motivos de endividamento.
“Não dá para falar em controle de gastos se não falar no controle de remunerações e contratações. E aí são as travas que existem em modelos de Fair Play Financeiro, de limitar o percentual de folha de pagamento a um percentual em relação à receita. O clube só vai poder gastar aquele tanto, se faturar tanto. Se faturar mais, ele pode gastar mais, e assim por diante. Então o clube que conseguir arrecadar mais vai ter uma liberdade para investir mais. Uma coisa que seja mais competitiva, mais justa, e que reduza o potencial de destruição de valor que tem acontecido em muitos clubes do futebol brasileiro”, afirma.
Mas Fernando entende que, para a implementação do Fair Play Financeiro, seria preciso criar uma liga única do futebol brasileiro. Porém a iniciativa tem encontrado dificuldades para prosperar. Trevisan lamenta e prega que os clubes, neste sentido, deixem a competitividade de lado e adotem o pensamento único de melhorar o futebol brasileiro como um todo.
“O que falta é a união dos clubes, esse é o grande problema do futebol brasileiro. É a dificuldade de pensar o negócio como um todo, como todos os setores da economia possuem as suas associações, os seus ambientes de discussão setorial, olhando o setor como um todo. A gente ainda pena para formar a liga, que aí sim vai permitir que a gente pense o ambiente econômico dos clubes como um todo. Claro que tem dirigentes que não estão preocupados, só estão olhando a sua gestão e não a próxima, que não querem o Fair Play Financeiro para poder gastar mais”, criticou.
Conafut 2025
O Fair Play Financeiro e a relação dele com as dívidas dos clubes será objeto de debate na Confederação Nacional do Futebol 2025 (Conafut 2025). O evento será sediado no Mineirão e, nos dias 7 e 8 de agosto, vai promover o networking de pessoas ligadas à gestão no futebol.
Nascida em 2017, a Conafut busca promover discussões de vanguarda sobre a gestão no esporte, Fernando Trevisan entende que há uma carência desse tipo de evento no Brasil.
“Nas últimas décadas o futebol avançou muito no Brasil em termos de profissionalização, e ao mesmo tempo está aquém dos outros setores em termos de organização e até mesmo de profissionalismo em vários sentidos. Tivemos a ideia de criar um ambiente que trouxesse tanto de um lado conteúdo de ponta, de vanguarda, um ambiente de discussão, de debate, voltado especificamente para a indústria do futebol, quanto um ponto de encontro para a network, como tem vários outros setores, e no meio do futebol ainda bastante carente”, explica o especialista.