O ex-meia Alex está desde abril do ano passado no comando do sub-20 do São Paulo, em sua primeira experiência como treinador. Como jogador, foi lançado aos 18 anos no Coritiba e brilhou em clubes como Palmeiras e Cruzeiro, além da seleção. Agora, do outro lado, aponta vários pontos para o aproveitamento dos jovens, como situação financeira e o tipo de grupo que o clube deseja.
“Os gestores, seja presidente, dirigentes estatutários ou os executivos precisam ser claros naquilo que buscam. Fica mais fácil para analisar os acontecimentos futuros”, alerta. Confira abaixo o bate-papo com o técnico.
Como tem sido feito o trabalho de transição entre a base e o profissional, no sentido não só de o jovem treinar e se ambientar, mas da perspectiva do clube de aproveitamento no time de cima?
"Essa pergunta é extremante difícil de responder, tem de ser feita a quem comanda os clubes. Porque as definições e diretrizes são feitas de cima para baixo. Eu dirijo a equipe sub-20, ela é zona de transição o tempo todo. A transição para o principal é boa, ruim, poderia ser melhor, diferente? Realmente, as pessoas que estão em cima têm a resposta. Isso vale para o São Paulo e qualquer outro clube".
Qual seria a principal diretriz da base: formar o atleta para criar identidade e história no clube ou “produzir” para vender?
"Depende do clube. Mais uma vez, a pergunta tem de ser direcionada aos gestores. Treinadores são peças de uma engrenagem escolhidas pelos dirigentes. E cada um define o que considera ser o ideal para aquele clube".
Como avalia o aproveitamento e a consolidação dos jovens da base no time principal?
"Não avalio. A avaliação que faço em cima do meu trabalho é: que jogador eu peguei e que jogador eu entrego meses depois. Em abril, fecho um ano de trabalho, de um gasto de energia grande com o ser humano e de muito trabalho individual. Que tipo de evolução eles tiveram? Quem eu consegui mudar e por quê? Quem não consegui mudar e por quê? A avaliação de aproveitamento em cima é do clube. Não tenho esse papel e muito menos esse direito. Até porque, no momento em que um menino sai do sub-17 e vai para o sub-20, ou sai para a equipe principal, ele entra em um novo processo. E quem está no novo processo é quem avalia. Eu sempre digo aos jogadores: o que vocês fizeram na semana passada já não vale mais. Têm de seguir buscando melhorar".
Alguns times como o próprio São Paulo são reconhecidos por lançar e bancar jovens da base no profissional. Isso estaria relacionado ao trabalho de formação ou seria questão de identidade e tradição dessas equipes?
"Mais uma vez, depende de vários fatores. Situação financeira, da própria categoria de base, que tipo de elenco o clube imagina ter no principal, o que tem como diretrizes. Generalizar e trazer histórias de 20 anos atrás não me parece muito confiável para a análise. Joguei no Palmeiras durante cinco anos e pouquíssimos tinham chances no principal. Eles mudaram isso. Fui campeão no Cruzeiro com muito formados na Toca da Raposa. Hoje, a realidade do clube é diferente. Todos os times que são campeões valem um estudo minucioso de como foram formados. Por isso, digo que a análise tem de ser fria e muito sincera. Muitas vezes, maquiamos de acordo com aquilo que queremos passar de imagem. E essa imagem pode ser uma de 20 anos atrás ou talvez de mudanças de momento. Generalizar e muito perigoso".
Qual mensagem deixaria aos dirigentes?
"Os gestores, seja presidente, dirigentes estatutários ou os executivos, precisam ser claros no que aqueles clubes buscam. Fica mais fácil para analisar os acontecimentos futuros".
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