O futebol tem ampliado suas dimensões em várias áreas. A velocidade média dos jogadores subiu, assim como a distância percorrida por eles em uma partida. Tudo em função da evolução da medicina esportiva, da preparação física individualizada, da capacidade de avaliar o desgaste muscular, de técnicas de reforço da musculatura e métodos modernos de fisioterapia.

O tempo de carreira de um jogador também cresceu. Junto com isso, porém, veio o aumento da quantidade de jogos. E, por outro lado, a imposição de limites do corpo a todos esses avanços: por mais que a ciência se desenvolva, fica muito difícil para times formados por veteranos aguentarem o ritmo contra equipes mais jovens, ainda mais com o excesso de partidas, ressalta o professor de Educação Física, Vladimir Modolo, mestre em Fisiologia do Exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e preparador físico do Santo André no título da Copa do Brasil de 2004.

"Primeiro, precisamos pensar que atletas mais velhos apresentam desgastes físicos osteoarticulares (osso e articulações) que impedem uma sequência de treinos que poderia ajudar na manutenção da performance", explica.

Sem uma sequência de treinos, portanto, fica inviabilizada uma sequência de jogos. Mas, mesmo com o treinamento, o excesso de partidas e exercícios seria prejudicial ao corpo. Neste sentido, a própria idade do jogador, apesar de ter ampliado seus limites, acaba, em algum momento, se tornando um obstáculo natural.

"Estes atletas (com mais 30 anos) necessitam de um tempo maior de recuperação e uma carga de treino diferenciada. Enquanto os atletas mais novos estão treinando modalidades de potência e velocidade muscular, os mais velhos precisam de treinos regenerativos e de reparação muscular para amenizar esses desgastes", observa Modolo. Precisam de mais descanso e menos força, portanto.

O preparador físico conta que, quando um atleta envelhece, perde massa muscular e carece de um tempo maior de recuperação entre os treinos. Atletas mais jovens se recuperam em, aproximadamente, 12 a 18 horas de um treino de potência muscular (vale para as arrancadas durante os jogos também); os mais velhos dependem de 24 a 36 horas para os músculos voltarem ao normal.

"Isso impede que ele (jogador mais velho) treine tanto quanto os mais novos, e é preciso conciliar tudo isso com a agenda dos jogos. Esta logística de treinos e de quantidades de intervalos de descanso e jogos é que faz com que a receita dê certo para uns e não tão certo para outros atletas", diz.

Estudo da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2001) já apontava esta tendência de desgaste muscular há algumas décadas. No trabalho, há a afirmação de que existe uma diminuição da massa muscular, da potência anaeróbica e uma perda da força muscular à razão de 1% ao ano após os 30 anos do atleta (efeitos que podem ser atenuados com o treinamento regular, segundo a entidade).

No futebol, a perda de massa muscular, ainda que lenta, acaba se tornando uma limitação maior em função do aumento da velocidade do jogo que, segundo Modolo, passou de uma média de 12 km/h nos anos 1980 para uma média de 17 km/h atualmente. E a distância percorrida por um jogador subiu de cerca de 9 km nos anos 1970 e 1980 para cerca de 14 km nos dias atuais.

Além da maior intensidade, a quantidade de jogos também aumentou Se nos anos 80 uma equipe considerada grande atuava cerca de 50 partidas por ano, hoje em dia o número de jogos é de cerca de 80, numa média próxima de um jogo a cada quatro dias. (Estadão Conteúdo)