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Vale o risco? Volta de torcida aos estádios divide opiniões e esquenta debate

Super.FC convidou três jornalistas e um vice-presidente de grandes emissoras para falar sobre o assunto, com prós e contras sendo levantados

Por Daniel Ottoni e Dimara Oliveira
Publicado em 23 de setembro de 2020 | 18:47
 
 
 
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Independentemente do que for decidido sobre o retorno de público aos estádios de futebol, o assunto seguirá sendo polêmico e dividindo opiniões entre torcedores, imprensa e, até mesmo, clubes. Mesmo com a CBF dando aval para que as partidas contem com torcedores ocupando até 30% da capacidade dos estádios, a palavra final é dos órgãos locais, como informou o Ministério da Saúde, que aprovou estudo da entidade que rege o futebol brasileiro. A informação foi trazida nesta terça-feira pelo Super. FC.

Nesta quinta-feira, às 16h30, está marcada reunião da CBF com os clubes, por meio de videoconferência, para tratar do assunto. Em seguida, está prevista consulta às autoridades estaduais e municipais. A torcida dos jornalistas André Plihal, da ESPN e Rodrigo Bueno, da FOX, é para que a ideia não avance, sob o risco de um maior número de contaminados e piora da situação da pandemia no cenário nacional. Eles deram sua opinião para a rádio Super, 91,7 FM. Arnaldo Ribeiro, do SporTV, também à Super, comentou nessa mesma linha. 

"Não tem o menor cabimento cogitar essa volta no atual momento, seja com qualquer percentual. Teríamos muitas pessoas se aglomerando para entrar nos estádios, além daquelas que estariam no seu entorno. Eu não vejo esse desejo na maior parte das pessoas, acredito que não existe nem clima pra isso. A energia não seria boa", comenta Plihal. Ele ainda lembra que o número de torcedores presentes poderia não compensar o custo dos clubes. 

"Do ponto de vista financeiro, não sei se compensaria. Existe um gasto significativo para abrir um estádio, mas isso é o menos importante no atual momento. É uma ideia descabida, espero que essa ideia não avance, a discussão não deveria nem ser aberta até o final de 2020", reforça. 

Para Bueno, a ideia é mais uma possibilidade que ele não aprova, lembrando do que já acontece fora do país. "Sempre fui contra a volta do futebol, achei algo precipitado, mas que aconteceu em efeito dominó. Primeiro com a CBF, depois com a Conmebol. O governo da Inglaterra já informou que o público não vai voltar nos próximos seis meses, mesmo depois de alguns estudos sobre o assunto. Países que já voltaram com limitação, caso da Holanda, já admitem que pode ter sido um erro, já que existe um grande risco de contaminação com um pequeno contato. Uma segunda onda de contaminação já aparece na Europa, e aqui não nos livramos nem da primeira", detalha o comentarista.

Possibilidade

Para Márcio Moron, vice-presidente da Fox no Brasil, a ideia é possível de ser colocada em prática, desde que cuidados sejam tomados."Sou a favor se feito de forma gradual e limitada, com público entre 20% e 30% da capacidade. Temos que saber nos adaptar a este momento e creio que cabe a volta dos torcedores aos poucos", resume.

Desigual

Rodrigo Bueno lembra ainda como seria a situação em caso de volta dos jogos com público, beneficiando alguns clubes que fizeram os jogos de ida, fora de casa, sem torcida.  "Flamengo e Atlético se enfrentaram no Maracanã, na estreia, com portões fechados. O Galo jogaria a volta em casa com torcida, levaria vantagem neste caso. Vários outros exemplos parecidos aconteceriam. O que vale para um vale para todos. Não adianta também voltar em apenas alguns locais, a isonomia precisaria ser respeitada. A CBF deveria ter o bom senso de proibir jogos com público até o final das atuais edições da Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro", completa. 

Arnaldo Ribeiro defende a importância do público no estádio, mas alerta para os riscos e cita a Alemanha para dizer que o Brasil deveria aguardar o ano que vem para pensar em retornar com o público aos estádios. "Vai falar aqui um cara que enxerga o torcedor como bem maior do futebol. Porém, em tempos de pandemia sem controle no Brasil, não é ainda o momento de o público voltar aos estádios. Por alguns fatores: o primeiro deles é que o risco de contágio é muito grande ainda em qualquer agloremaração. E as situações num país gigantesco são muito diferentes, então muito provavelmente teríamos público em algumas cidades e em outras não. Uma certa distorção no atual campeonato ou campeonatos."

Bom senso

Arnaldo Ribeiro, do SporTV, pede bom senso. "Ter um pouquinhno de bom senso. O futebol voltou de alguma forma, e acho que dá para esperar a conclusão desta temporada, no ano que vem, do jeito que está para depois, esperamos, em condições melhores de saúde em todo o país, voltar com torcedores em todos os estádios. Eu acho que a Alemanha pode ser um parâmetro não só como país, mas futebolistico muito vivo. Quando a Alemanha voltou com o campeonato, foi a primeira liga importante europeia a voltar, e muita gente no Brasil queria apressar essa volta, principalmente no Rio, e não estava na hora. Agora a Alemanha recomeça seu campeonato pós-pandemia com 20% e não 30% (de torcedores nos estádios), como se sugere no Brasil, e em algumas cidades mais populosas, pelo risco de contágio, não pode o torcedor frequentar o estádio", afirma o jornalista. Ele ainda completa: "Então a volta do público na Alemanha, paulatinamente, agora, só nos faz ter a conclusão de que no Brasil a gente precise esperar um pouquinho. E não seria, digamos, inteligente, sensato ou razoável voltarmos com os torcedores neste momento, por mais que eles façam falta, de fato, e sejam a essência do futebol."

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