A icônica foto em que Gabriel Medina e sua prancha, ligados quase umbilicalmente, parecem flutuar sobre o mar poderia ser uma pintura. Mais precisamente, poderia ser uma pintura surrealista de 1959, do artista belga Renné Magritte (1898-1967), que imaginou, levitando sobre as águas, uma volumosa pedra em cuja superfície se vê um castelo, esculpido em sua própria estrutura.
A comparação é da página Art But Make It Sports, que faz colagens comparando fotografias esportivas contemporâneas – ou o simples frame de uma transmissão – com obras de arte, sobretudo pinturas, mas também esculturas e monumentos.
O projeto, que existe desde 2019, é de um novaiorquino, L. J. Rader, e sempre volta a angariar seguidores e viralizar em períodos em que o mundo está envolvido por grandes eventos esportivos – e não seria diferente nesta Olimpíada.
Medalhistas brasileiros
No perfil, por exemplo, uma triunfante Raíssa Leal, de braços abertos, é comparada com o Cristo Redentor, a mais alta estátua em estilo Art Decò, criada pelo escultor francês Paul Landowski (1875-1961) e pelo pintor e desenhista brasileiro Carlos Oswald (1882-1971).
Já a emblemática foto invertida de Caio Bonfim à frente de um pelotão de competidores na marcha atlética de 20 km, com os corredores formando, ao fundo, uma imagem que remete ao mapa do Brasil, é pareada a uma obra que se debruça justamente sobre a cartografia do país: a obra Brasil Watercolor Map, do neerlandês Michael Tompsett, de 2014.
Para citar mais uma medalhista brasileira representada na página, o registro em que Rebeca Andrade surge reverenciada pelas norte-americanas Simone Biles e Jordan Chiles ao subir no pódio, para receber a medalha de ouro pela sua apresentação no solo, é acompanhado da tela “Assunção da Virgem”, do italiano Guido Reni (1575-1642), de 1637, que pinta a elevação aos céus de uma Virgem Maria de traços barrocos, ladeada por dois anjos, que a reverenciam.
Arte e humor
Cenas insólitas também entraram no radar da página. Caso do surfista alemão Tim Elter, que estava sendo filmado quando teve a bermuda arrancada pelo mar do Taiti logo em sua estreia em uma Olimpíada. O frame da cena foi comparado a um detalhe do tríptico “O Jardim das Delícias Terrenas”, obra do holandês Hieronymus Bosch (1453-1516), que consiste em três painéis distintos: nas asas laterais, estão o paraíso e o inferno, enquanto, ao centro, a experiência mundana e os desinibidos prazeres da carne.
Por sua vez, Anthony Ammirati, francês que esbarrou o pênis no sarrafo do salto com vara e foi eliminado, encontrou seu análogo nas artes no “Afresco de Príapo”, encontrado na Casa dos Vettii, em Pompéia, na Itália. Príapo, claro, é o deus grego da fertilidade, geralmente representado por um homem que exibe um grande órgão genital.