A proximidade com o mar faz com que o vôlei de praia tenha uma relação direta com o maior cenário de natureza do planeta. Foi pensando justamente em dar sua dose de contribuição para os oceanos e ganhar algo em troca que foi desenvolvido o projeto ‘Good Net’ (Boa Rede em tradução literal), da Federação Internacional de Vôlei (FIVB).
A ideia é, em conjunto com o grupo de conservação marinha Ghost Fishing Foundation, que remove redes de pesca 'fantasmas' dos mares e oceanos, transformá-las em redes de vôlei que podem ser usadas por comunidades locais ao redor do mundo. O projeto conta com ajuda de mergulhadores e empresas de salvamento para as capturas dos equipamentos que são usados em pescas predatórias.
"As redes fantasmas do mar, que representam uma ameaça significativa para a vida selvagem marinha, são recicladas em redes de vôlei de praia para uso comunitário em todo o mundo. Para o vôlei jogado na areia, a praia é sua arena natural, fazendo do projeto Good Net o veículo perfeito para conscientizarmos sobre a sustentabilidade e a preservação do oceano. Este projeto ainda está engatinhando e, até agora, nosso foco tem sido a geração de consciência. O custo operacional de cada mergulho, aliado à transformação das redes fantasmas em redes de vôlei de praia, é significativo. Mas, quanto mais pudermos divulgar a iniciativa, maior alcance teremos", explica a FIVB.
O lançamento do projeto aconteceu em 16 de março de 2019, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, com a presença de integrantes da comunidade do vôlei, como Giba, Emanuel, Sandra Pires, Bárbara, Fernanda Berti, Adriana Samuel, Guilherme e Pará e mais de 100 crianças de uma escola local. Na oportunidade, uma partida de exibição foi disputada com redes de pesca recicladas e clínicas de vôlei e também sobre o meio ambiente foram ministradas. O local foi escolhido por sua relação com o surgimento do vôlei de praia.
“Como jogadores de vôlei, as redes estão no centro do nosso jogo e da nossa alegria. Amamos a praia, o vôlei de praia e para nós foi muito difícil aprender que há tantas redes nos oceanos, causando danos que estão fora de nossas vistas”, disse o ex-jogador Giba. “Acho o projeto Good Net importantíssimo. Poder unir nosso esporte, o vôlei de praia, com essa questão ambiental relacionada ao mar é agregar o amor pelo esporte ao amor pelo meio ambiente. Conseguimos mais visibilidade para o vôlei de praia e a conscientização da população”, destaca Bárbara.
Fernanda Berti reforçou a ideia de unir a proteção ambiental ao uso de um equipamento que é fundamental para a prática do vôlei de praia. “É maravilhoso conseguir resgatar um material e transformar em coisa útil. É bom para o meio ambiente e para o nosso esporte, além de ser muito legal ver crianças jogando com uma rede pescada em águas profundas”, salienta.
O sentimento de orgulho também é compartilhado por Sandra Pires, medalha de ouro na Olimpíada de Atlanta, em 1996. “É muito interessante, um projeto por uma coisa nobre. As redes ficaram lindas com o desenho da tartaruga marinha, baleia e golfinho. Temos que cuidar da natureza. Vôlei de praia tem tudo a ver com esse projeto, sinto orgulho de estar ajudando e colaborando para a conscientização da população”, comenta.
Pausa forçada
A pandemia fez com que a parte prática do projeto fosse adiada em virtude do cancelamento de competições. "No entanto, a necessidade de proteger o nosso meio ambiente removendo as redes fantasmas do oceano e promovendo a sustentabilidade marinha não foi adiada", reforça a FIVB.
Jogadores de várias partes do mundo abraçam e apoiam o projeto, ciente da sua importância em prol do meio ambiente limpo e sustentável.
"É uma iniciativa incrível e muito importante para a natureza, é algo que o mundo precisa. Reciclar redes dos oceanos é algo útil, mas apenas um grande bônus na tentativa de limpeza dos mares. Se não fizermos nada agora, logo será tarde demais e muita vida no oceano morrerá. Em 2050, o plástico no mar terá mais peso do que os peixes. Uma grande quantidade de plástico em nossos oceanos é abandonada em artes de pesca. Essas redes são o tipo de lixo plástico mais mortal e 640 mil toneladas de equipamento de pesca são deixadas nos oceanos todos os anos Estes são os números reais, é algo insano nojento ao mesmo tempo", alerta Christian Sørum, atleta noruguês do vôlei de praia, bronze no Campeonato Mundial de 2019.
Para ele, da mesma forma como o vôlei de praia encontrou uma forma de ajuda e se beneficiar com a ideia, o potencial do projeto também pode ser aproveitado por outras modalidades. Futebol, handebol, tênis e basquete são apenas alguns exemplos.
"Eu acho muito importante que o vôlei esteja tentando ajudar esse projeto e fazer algo útil com ele. Outros esportes podem fazer o mesmo. Existem muitos esportes que estão usando as redes de uma forma ou de outra, o potencial é enorme mas também serviria para difundir o conhecimento sobre esse problema. Não creio que muita gente saiba quão grande é o problema e como isso afeta a vida oceânica.
Sørum teve a chance de jogar uma partida de exibição com esta rede e viu, na prática, o resultado da iniciativa. "Claro que me senti bem com isso. Em cada rede, tem a foto de um animal que salvamos com este projeto, isso lembra da importância do trabalho e nos faz sentir a conexão com a natureza", ressalta. "Se você vai a um jogo de basquete ou futebol, não quer ver lixo na quadra, quer que o ambiente esteja limpo. É o mesmo para nós na praia, sabemos que o lixo produzido pode matar os animais. Sinto-me muito privilegiado, mas também muito responsável por manter este ambiente limpo. E cada um também deveria pensar desta forma", completa.
Parceria com a ONU
O Good Net também se juntou à campanha Clean Seas, da Organização das Nações Unidas (ONU), na luta contra a poluição por plásticos marinhos. A Clean Seas foi lançada em fevereiro de 2017 e visa aumentar a conscientização global sobre a questão do lixo marinho.
“Como mergulhadores, nos preocupamos profundamente com os oceanos. Também entendemos como as redes fantasmas causam enorme quantidade de danos à vida selvagem marinha. Mas redes de voleibol, seja em uma praia local ou em um torneio com transmissão de televisão ou internet dá uma grande visibilidade, ajudando a combater o problema ”, disse o CEO da Ghost Fishing, Pascal van Erp.
Confira vídeo da ação