Minha análise vai além do resultado final das duas seleções de vôlei do Brasil no Pan. Mais do que considerar a medalha ou falta dela, o que considerado são as atuações. Mesmo levando em consideração todo o contexto de oportunidades para vários jovens, pouco tempo de treino, falta de amistosos, etc, minha expectativa era maior.
Esperava mais pelo que conheço dos (as) convocados (as) e das seleções que foram enfrentadas. O saldo pode ter sido positivo, lições foram e sempre são aprendidas, mas eu confiava que ambos os times chegariam nas finais. Achei pouco o bronze no masculino, assim como o feminino ter ficado fora do pódio.
Na primeira fase, o time masculino teve dificuldades já na estreia contra México, Chile (jogadores semi-profissionais) e EUA (seleção formada por universitários). Na semi, queda para Cuba na pior apresentação na competição. Atuação sem brilho, sem inspiração, quase nada funcionou. Faltou poder de reação, agressividade, postura de quem briga por algo grande. Campanha de quatro vitórias em cinco jogos pode enganhar que vê somente os números.
No feminino, derrota para Argentina por duas vezes. Vencemos Porto Rico, um time sem expressão, caímos para as hermanas e jogamos bem demais contra EUA. Derrota para a Colômbia, após um 2 a 0, foi uma ducha gelada. Equipe não conseguiu aproveitar os momentos favoráveis nem sair das situações adversas. Um castigo diante de equipe bem postada e que mostrou mais nas horas decisivas. Na disputa por bronze, nova derrota.
Vamos a algumas ponderações:
- O oposto Abouba e a oposta Lorenne foram os grandes destaques nas campanhas. Mesmo sobrecarregados em muitos momentos, deram conta do recado e fizeram a diferença em momentos decisivos das campanhas. Corresponderam pela saída de rede, assumiram a responsabilidade e saem fortalecidos de Lima.
- Os ponteiros e ponteiras decepcionaram. No masculino, esperava mais de jogadores com boa rodagem, inclusive na seleção principal e boa experiência internacional. Lucas Lóh e Rodriguinho estiveram bem abaixo do que podem render e do que já vimos. Kadu recebeu chance somente na reta final. Foi bem e ganhou vaga na seleção do campeonato. No feminino, a inexperiência pesou para atuações de Lana e Maira. Não corresponderam no passe e ataque e deixaram distante a chance de uma campanha mais satisfatória. Não foi à toa que Zé Roberto Guimarães utilizou uma oposta de ponta para ver se a coisa melhorava.
- Queria ter visto alguns atletas em quadra por mais tempo. No masculino, Carísio deu novo ritmo quando entrou. Ganhou pouco tempo de Marcelo Fronckowiak. A insistência com Thiaguinho não deu certo, o levantador ficou longe de mostrar o que sabe. Suas decisões precipitadas comprometeram o melhor rendimento ofensivo. No feminino, mesmo com Lara e Mara dando conta do recado, queria ter visto Mayany mais presente. A jogadora já mostrou sua qualidade em nível internacional, tanto pelo Itambé-Minas no Mundial de clubes como pela própria seleção principal.
- Conversei, há poucos dias, com o técnico Marcelo Fronckowiak. O papo foi tema da minha coluna 'Super Vôlei', na rádio Super. Ele dizia sobre algo que poucos tiveram conhecimento e que acaba afetando o rendimento, mesmo não servindo de desculpa. O deslocamento entre a Vila Olímpica e o ginásio de vôlei era grande, de até 45min. Os jogos da seleção masculina terminavam por volta de 0h, 0h30. Até retornar para o alojamento, já passava de uma da manhã. O jantar que era servido não era completo, com falta de saladas e proteínas. No dia seguinte, sem chance de realizar treinamento. O descanso precisou ser a prioridade, assim como pensar em um novo jogo decisivo a cada dia. O frio também deve ter 'enchido o saco'. Mesmo não sendo o ideal, são situações que, eventualmente, acontecem não só para o Brasil e que precisam ser superadas.
- Os líberos também tiveram saldo positivo dentro do Pan. Natinha e Rogerinho estão chegando agora na seleção adulta e já mostraram qualidade para 'varrer' o fundo de quadra, sem fazer a equipe sentir falta de um rodízio que costuma aparecer em algumas formações. São dois expoentes da posição que, certamente, vão crescer nas próximas temporadas e começar a incomodar quem tem mais convocações para a seleção.
- O objetivo final do Pan não é o resultado, sabemos bem disso. Seu foco maior é dar rodagem para atletas que estão vivenciando seus primeiros momentos na seleção. Mesmo assim, considero que o rendimento poderia ter sido melhor. Os atletas terminaram a Superliga, mal tiveram tempo de um descanso, já começaram os treinos com a seleção e foram para o Pan 'virados'. Tudo isso pesa para um melhor rendimento, especialmente para quem ainda não tem longe bagagem.