O rendimento das seleções de vôlei do Brasil dentro de quadra passa por vários fatores, indo além dos treinos que exigem do física e da parte tática e técnica. Para a melhor tomada de decisões, os jogadores precisam estar concentrados, sem desvios na mente que possam influenciar no seu jogo e interferir no resultado final.

A parte psicológica ganhou, há seguidos anos, a devida importância para deixar todos os jogadores bem preparados na parte mental, buscando que nenhum deles possa permitir que situações fora de quadra influenciem no seu rendimento. 

No atual cenário, muitas são as situações que podem atrapalhar os jogadores, como situações da vida particular, além das redes sociais, com os atletas sendo 'bombardeados' com mensagens, notícias e, até mesmo, fake news. Saber lidar com todo este contexto é primordial para filtrar as situações e deixar de lado o que não é favorável. 

“Os atletas estão sempre sob efeito de estresse, seja o físico, em razão do treino, ou o causado pela cobrança da performance em alto nível. Precisamos cuidar disso, prevenir que eles entrem em um nível de desregulação, de vulnerabilidade emocional e desequilíbrio. Já avaliamos os níveis de estresse e seguimos monitorando isso. Caso identifiquemos qualquer caso de ansiedade ou algo similar, atuamos junto. Estamos em uma realidade na qual existe mais pressão, os estímulos vêm de todos os lugares, inclusive das redes sociais. Então a gente precisa ensinar estratégias de autorregulação e descompressão, para que eles estejam preparados e saudáveis para competir e treinar”, comenta Carla Di Pierro, que trabalha junto da seleção masculina.

O time do técnico Renan Dal Zotto está em Osaka, no Japão, para a última semana de jogos. Depois de vencer a Alemanha, na madrugada de quarta-feira, o time entrou em quadra contra o Canadá, às 6h desta quinta antes de pegar França e os donos da casa em busca de confirmar a classificação.

No feminino, a função de trabalhar a parte psicológica das atletas é de Fernanda Tartalha. O time do técnico José Roberto Guimarães vai fazer a preparação para a fase final em Portugal. O jogo das quartas de final acontece no dia 13, contra o Japão, em Ancara, na Turquia. 

“A CBV tem a preocupação com este aspecto da saúde mental. É um assunto que atualmente vem sendo visto com mais cuidado de forma geral. Temos um olhar diferente. São questões humanas que estão dentro de todos nós, como ansiedade, depressão, burnout, e estamos atentos a isso. É preciso um espaço para que isso seja cuidado. E a presença de um psicólogo na equipe traz essa empatia, esse acolhimento necessário”, indica. 

Confiança

Para que a parte psicológica seja bem feita, é preciso que o atleta tenha confiança no profissional para se abrir, dividir seus problemas e relatar os possíveis incômodos que possam estar limitando seu melhor nível de atuação. 

A boa relação com os profissionais da psicologia, então, se torna fundamental. “O trabalho do psicólogo é baseado na relação de confiança, e isso se conquista com o tempo. Na seleção, este tempo é mais apertado, portanto preciso me encaixar na dinâmica delas. É um trabalho que construímos juntos, solidificando esse espaço. O processo está sendo muito bem aceito pelas atletas e pela comissão técnica. É preciso tornar cada vez mais regular esse cuidado, esse olhar para a parte mental da preparação dos atletas”, reforça Carla.