A investigação sobre o caso de um corpo de uma recém-nascida, que foi encontrada dentro de uma sacola de lixo, em meio a outros resíduos, na manhã do dia 29 de maio, foi finalmente concluída. Segundo a Polícia Civil, a bebê foi colocada na rua Américo Martins da Costa, no bairro Minaslândia, na região Norte de Belo Horizonte, por sua própria mãe, uma mulher de 35 anos, freelancer, que manteve o corpo da filha no saco de lixo por dois dias dentro de casa, até deixá-lo na calçada para ser recolhido pela coleta do Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Veja vídeo sobre o caso
A recém-nascida deixada morta em uma rua no bairro Minaslândia, na região Norte de BH, pela própria mãe, teve o corpo mantido pela mulher dentro de casa, em um saco de lixo, durante dois dias.
— O Tempo (@otempo) July 1, 2025
Só depois desse período a mulher deixou o corpo da filha na calçada, em meio a… pic.twitter.com/NeK4B4IrEX
A delegada Ariadne Coelho, da Delegacia de Homicídios, conduziu as investigações e revelou que a mãe sofre de transtorno de personalidade esquizoide, conforme diagnóstico da psiquiatria forense do Instituto Médico Legal (IML). O laudo apontou que a mulher tem percepção alterada da realidade, o que reduz sua capacidade de compreender o caráter ilícito do que fez - tornando-a semi-imputável do ponto de vista penal.
Leia mais:
Corpo de bebê é encontrado em lixeira na região Norte de BH
Câmeras mostram homem abandonando saco preto onde corpo de bebê foi encontrado em BH
Siga o Super Notícia no Instagram
Apesar disso, o estado puerperal, comum em casos de infanticídio, foi descartado. “Ela teve uma sequência de atos organizados. Limpou a cena do parto. Isso afasta a ideia de impulso emocional característico do infanticídio, que é raríssimo”, afirmou a delegada. Ainda segundo Ariadne, o comportamento da mãe revelou frieza. “Ela disse que não quis nem ver o rosto da criança, nem saber o sexo. Isso é muito revelador”, completou.
Isolamento e silêncio
De acordo com as investigações, a mulher já era mãe de um menino de 7 anos. Durante a nova gestação, que teria sido resultado de um relacionamento com um homem estrangeiro conhecido pela internet, ela se isolou da família, negou estar grávida e deixou o emprego. “Ela teve episódios de alucinações, escutava vozes. Apesar disso, escolheu manter a gestação. Testemunhas disseram que, ao ser confrontada pela irmã, ela negou e se afastou ainda mais”, disse a delegada.
O parto aconteceu em casa, durante a madrugada do dia 25 de maio. O filho dormia em outro cômodo. “Ela deu à luz sozinha, ouviu o respiro da bebê e optou por embalar a criança numa manta, colocá-la dentro de um saco de lixo e mantê-la dentro de casa por dois dias”, relatou Ariadne. No dia 27, uma terça-feira, a mulher colocou a sacola na rua. O corpo só foi descoberto dois dias depois por um gari, durante a coleta.
Investigação e diagnóstico
Uma denúncia anônima ajudou a polícia a identificar a autora. Durante diligências, a equipe foi até a casa da mulher, que teve um surto emocional e precisou ser internada no Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam). Ainda assim, colaborou com a apuração. No interrogatório, contou que conheceu um homem turco pela internet. Eles mantiveram um relacionamento por três meses, mas ela o bloqueou ao desconfiar de sua identidade, já que ele usava diferentes perfis com nomes variados.
O laudo psiquiátrico aponta que a mulher tem transtorno de personalidade esquizoide - condição que provoca indiferença emocional, isolamento e dificuldade extrema de pedir ajuda. “É uma pessoa que não consegue se conectar afetivamente, que tem dificuldade até de pedir socorro. Isso a torna extremamente vulnerável”, explicou a delegada. Apesar de dizer que queria ter o bebê, a ausência de pré-natal, enxoval e o esforço para esconder a gravidez contradizem esse desejo.
Indiciamento e consequências
A mulher foi indiciada por homicídio qualificado - já que a vítima, uma recém-nascida, era incapaz de se defender - e por ocultação de cadáver. Pela condição de semi-imputável e por ser mãe de outro filho, de apenas 7 anos, ela cumpre prisão domiciliar. Ela também passará por tratamento ambulatorial compulsório, determinado judicialmente. “Pelo bem dela, ela será obrigada a se tratar. Ela nunca foi cuidada ou tratada. Vem de uma família disfuncional”, explicou Ariadne.
Segundo a polícia, não há indícios de que outras pessoas tenham participado do crime. Um catador de recicláveis chegou a recolher a sacola do lixo e levá-la para casa, mas devolveu o material à calçada após sentir o forte odor, sem saber o que havia dentro. Foi nesse momento que o corpo foi finalmente localizado pela equipe de limpeza urbana.
“A frieza dos atos é incompatível com o impulso. O que vemos aqui é um crime bárbaro, sim, mas também uma história marcada por sofrimento psíquico e negligência emocional desde a origem”, concluiu a delegada.
O corpo de uma recém-nascida foi encontrado dentro de uma sacola de lixo, em meio a outros resíduos, na manhã do dia 29 de maio, no bairro Minaslândia, na região Norte de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Civil, a bebê foi colocada ali por sua própria mãe, uma mulher de 35 anos,… pic.twitter.com/HY8NIuhpdC
— O Tempo (@otempo) July 1, 2025