Estádio Azteca, Cidade do México. 21 de julho de 1970. 13h41 (horário local). O placar apontava 3 a 1 para a seleção brasileira, que estava a minutos de bater a Itália e soltar o grito de tricampeã mundial. O sol a pino e os mais de 2.000 metros de altitude pareciam não atrapalhar o lateral-direito Carlos Alberto Torres, que partiu com uma força incrível rumo ao ataque, vendo que seus companheiros rodavam a bola pelo meio campo. Nascia um dos maiores gols da história.
Capitão daquela seleção, Carlos Alberto nasceu para ser um líder nato. Porém, não era apenas o respeito junto aos companheiros que o colocou no panteão dos grandes jogadores da história. Com grande vigor físico e leitura de jogo, o “Capita”, como ficou conhecido, foi como um percursor do futebol moderno e muito pode ser traduzido por aquele gol.
Aquele lance não surgiu de um lampejo genial. Veio de um trabalho constante. Carlos Alberto, que saiu vaiado de um Brasil e Argentina em 1964, com a fama de indisciplinado, após não dar cobertura em três gols da goleada platina, recuperou seu espaço na seleção graças à sua dedicação constante.
Eleito pelos jogadores como capitão do escrete em 1968, teve como grande mérito ser impetuoso e de aprimorar seus conhecimentos táticos. Assimilava como poucos às instruções dadas pela comissão técnica e aplicava-os em campo, buscando brechas para romper os adversários. E foi exatamente o que culminou naquele gol que selou uma das mais belas campanhas que o planeta já viu.
Dias antes da final, o então preparador físico da seleção Carlos Alberto Parreira – técnico do tetra – viu que Facchetti oferecia espaços na lateral canhota. Assim, Jairzinho deveria mudar constantemente de posição, o que daria o corredor para o “Capita” aparecer como elemento surpresa.
E foi exatamente o que ocorreu durante aqueles 30 segundos fantásticos. Tostão havia recuperado uma bola espirrada de Everaldo e a entregou para Clodoaldo, que tocou para Pelé, que achou Gérson, que devolveu a Clodoaldo, que deu uma sequência de quatro dribles com uma tranquilidade de um irmão mais velho cansando o mais novo enquanto jogam bola na garagem do prédio. Depois, achou para Rivellino, que lançou para Jairzinho. Facchetti foi à sua captura, mas “Furacão”, prevenido, deixou para Pelé, que tocou de lado, pois já sabia quem estava no corredor.
A bola, então, deu um leve quique, como se tivesse vida própria pedindo para Carlos Alberto acertá-la em cheio. Fazendo a diagonal, ele agradeceu o presente e pegou de primeira. Era a combinação perfeita dos fatores técnicos, táticos e mentais.
Anos mais tarde, em tom de brincadeira, Carlos Alberto relembrou o lance. "Eu podia ficar lá atrás conversando com o Félix, falando 'ó, Félix. Faltam só três minutos para a gente ser campeão'. Sabia que tinha de atacar e o que estava por vir”, relembrou. Nada mais foi como antes.